O livro Jurassic Park e O Mundo Perdido ou Como Fazer um Dinossauro, escrito por Rob DeSalle e David Lindley em 1997, propõe uma análise dos aspectos científicos que suportam os dois primeiros filmes da franquia, baseados nas obras de Michael Crichton. Com 207 páginas, a obra é mais voltada para as complexidades da genética envolvidas na clonagem dos dinossauros do que para uma crítica cinematográfica abrangente, o que pode frustrar leitores em busca de uma análise mais profunda das cenas e elementos estéticos do cinema. Embora o texto tenha momentos elucidativos que conseguem situar os fãs da franquia, sua predominância de fórmulas e detalhes acadêmicos pode tornar a leitura desafiadora para aqueles menos familiarizados com o tema. O livro examina também a Teoria do Caos apresentada pelo personagem Ian Malcolm, discutindo as implicações científicas que emergem do conceito de clonagem de dinossauros, frequentemente interpretadas como evidências da impossibilidade dessa prática.
Ainda que sirva como uma discussão aprofundada sobre os aspectos científicos relacionados ao famoso filme, grande parte das informações contidas na obra sobre Genômica pode estar desatualizada. Um dos pontos culminantes da popularidade de Jurassic Park reside na representação visual dos dinossauros, que se mantêm impressionantes mesmo nas mídias digitais atuais. O verdadeiro debate científico gerado pelo filme se concentra na plausibilidade da coexistência entre humanos e dinossauros, com a narrativa de que esses seres são recriados pelos cientistas da InGen a partir do DNA extraído de mosquitos preservados em âmbar. Assim, enquanto o livro busca conectar ciência e entretenimento, ele se destaca em sua discussão séria, mas pode deixar um pouco a desejar em termos de acessibilidade e apelo para leitores menos té
Jurassic Park, a obra-prima de Michael Crichton, é um marco da ficção científica que toca em temas complexos da biotecnologia, da paleontologia e das questões éticas da manipulação genética. Publicado pela primeira vez em 1990, o romance rapidamente se tornou um fenômeno cultural, sendo adaptado para o cinema por Steven Spielberg em 1993. No entanto, sua popularidade não se limita ao entretenimento; a obra propõe uma reflexão crítica sobre os limites entre ciência e ficção, levando a um debate significativo sobre o que é real e o que é ficcional em suas premissas científicas.
Uma das questões centrais levantadas em Jurassic Park é a reanimação de dinossauros a partir de DNA extraído de mosquitos preservados em âmbar. Embora essa ideia seja fascinante, ela levanta diversas questões científicas. Segundo os paleontólogos, a possibilidade de extrair DNA viável de fósseis tão antigos, como os de dinossauros, é extremamente improvável. O DNA, como uma molécula, é suscetível à degradação ao longo do tempo. Estudos indicam que a meia-vida do DNA é por volta de 521 anos, o que implica que, após vários milhões de anos, a chance de encontrar sequências completas de DNA é praticamente nula. Portanto, a premissa básica da obra, apesar de ser uma ideia intrigante, é amplamente criticada pela comunidade científica como uma licença poética da ficção.
Além disso, a questão da clonagem também é debatida. A clonagem de organismos existentes, como a ovelha Dolly, já é uma realidade científica; no entanto, a clonagem de espécies extintas é muito mais complexa. Atualmente, a clonagem de uma espécie extinta requer não apenas o DNA, mas também um ambiente adequado para o desenvolvimento do embrião e a presença de uma “mãe” adotiva de uma espécie semelhante. Embora algumas tentativas de trazer de volta espécies extintas estejam em andamento, como no caso do mamute lanoso, esses esforços enfrentam enormes desafios técnicos e éticos.
Outro aspecto importante que Jurassic Park explora é a manipulação genética. O uso de tecnologia para criar novas formas de vida é uma realidade em muitos laboratórios ao redor do mundo. Na ficção, os cientistas do livro e do filme não apenas conseguem recriar dinossauros, mas também exercem controle sobre as características genéticas das criaturas, criando variações como dinossauros que não podem se reproduzir. Essa trama provoca uma reflexão sobre as implicações éticas da engenharia genética. Os cientistas debatem a responsabilidade de brincar de “Deus” e os riscos associados à manipulação da vida. Na realidade, a edição genética, especialmente com a introdução de técnicas como CRISPR, está permitindo que os cientistas alterem a genética de organismos existentes.
Entretanto, enquanto a ciência avança, o controle sobre os organismos criados e as suas consequências são temas de contínua investigação. As questões de bioética, segurança e a preservação da biodiversidade se tornam ainda mais prementes quando se considera a ideia de reintroduzir espécies extintas no ambiente atual, que pode não ter espaço ou recursos para suportá-las. Cientistas de vida real afirmam que a criação de dinossauros não é uma questão meramente científica, mas também ética e ambiental. Além disso, Jurassic Park é um estudo sobre as consequências do avanço científico sem a devida consideração dos riscos envolvidos. A obra alerta para a possibilidade de um desastre quando a ciência é mal aplicada, um tema que ecoa em muitos debates contemporâneos sobre biotecnologia, alterações climáticas e biodiversidade. Embora a ficção tenha nos apresentado um parque temático repleto de dinossauros, a realidade é que a manutenção e preservação das espécies existentes devem ser a prioridade, uma vez que o planeta enfrenta uma crise de extinção em massa.
No geral, Jurassic Park entrelaça questões científicas complexas com liberdades ficcionais de maneira envolvente e provocativa. Apesar das inegáveis falhas em sua representação da ciência, a obra oferece uma rica oportunidade de debate sobre as responsabilidades dos cientistas e a ética na exploração das fronteiras da biotecnologia. Enquanto exploramos os limites do que é cientificamente possível, é crucial lembrar que a curiosidade humana deve ser guiada pela prudência e respeito pela vida, tanto a antiga quanto a que ainda existe. Portanto, a obra de Crichton não é apenas uma aventura repleta de dinossauros, mas um aviso sobre a necessidade de reflexão ética na era da ciência moderna. É uma leitura curiosa, ultrapassada em determinados aspectos, mas intrigante.
A repercussão de Jurassic Park no meio acadêmico foi significativa, com muitos cientistas se posicionando de forma cética em relação à possibilidade de clonar dinossauros, especialmente com a tecnologia disponível na época. O episódio The Real Jurassic Park da revista NOVA foi uma exploração completa dos protocolos imaginados no filme, enquanto a Discovery Kids produziu O Caso dos Clones de Dino, que abordou os insetos fossilizados em âmbar, originários do contexto da franquia. Em 1997, os cientistas Rob DeSalle e David Lindley publicaram o livro Como Construir um Dinossauro, que analisa cada etapa do processo de clonagem descrito nos filmes. Embora os autores chegassem à conclusão de que a tarefa seria extremamente difícil e dispendiosa, eles indicaram que, em teoria, não seria totalmente impossível.
Na sequência do debate científico, em 2008, Sandy Becker e outros autores lançaram A Ciência de Michael Crichton, que explora as contribuições científicas nos romances de Crichton, incluindo um capítulo específico sobre a impossibilidade de clonar dinossauros, ao qual o livro dedica de 69 a 84 da obra. Já em 2010, Jack Horner, reconhecido paleontólogo, publicou How To Build A Dinosaur: The New Science Of Reverse Evolution, no qual ele também discute o protocolo de Jurassic Park. Horner argumenta que, embora a clonagem de dinossauros seja inviável, existe a possibilidade de ressuscitar características ancestrais através da manipulação genética de aves modernas. Ele propõe a criação de um Chickenosaurus, uma galinha geneticamente modificada para exibir características de dinossauros, como uma cauda, garras e dentes. Essas discussões mostram o impacto duradouro da franquia tanto na cultura popular quanto na ciência, levantando questões complexas sobre genética e a vida antiga.
Jurassic Park e O Mundo Perdido ou Como Fazer Um Dinossauro (The Science of Jurassic Park and The Lost World, or, How To Build a Dinossaur, EUA – 1998)
Autor: Rob Desalle, David Lindley
Tradução: Sérgio Coutinho de Biasi
Editora no Brasil: Editora Campus
Páginas: 210