Jurassic World: Recomeço é o sétimo filme da icônica franquia iniciada por Steven Spielberg em 1993. Surpreendentemente, o filme não se revelou tão ruim quanto o esperado, especialmente após um trailer que deixou muitos fãs, como o autor deste texto, céticos. Ele expressa sua lealdade à série por meio de itens decorativos e tatuagens inspiradas no tema e inicialmente, acreditava que a franquia precisava de um intervalo após as produções anteriores, que foram irregulares. O filme serve como uma continuação direta da trilogia anterior, apresentando um mundo onde os humanos e os dinossauros coexistem após serem ressuscitados pela clonagem. A história gira em torno de uma mercenária interpretada por Scarlett Johansson, que, apesar de seu caráter firme e postura de mercenária, possui uma boa índole. Ela é contratada para liderar uma expedição a uma ilha equatorial com o objetivo de extrair o DNA de três espécies peculiares de dinossauros para uma grande empresa farmacêutica de intenções duvidosas. Durante a missão, a mercenária se vê envolvida na proteção de um pai, interpretado por Manuel Garcia-Rulfo, e suas duas filhas, que, de maneira imprudente, decidiram velejar em um mar repleto de criaturas pré-históricas. Assim, Recomeço mistura aventura e tensão, enquanto questiona as consequências da manipulação genética e os perigos do encontro entre humanos e dinossauros.
É ruim? Não necessariamente. As cenas de ação, os efeitos, a trilha sonora e o elenco carismático garantem diversão turbinada, mas o texto em si nos passa uma impressão genérica. Em linhas gerais, é mais do mesmo, mas sem o impacto das três primeiras inserções neste universo. No enredo de Jurassic World: Recomeço, a presença dos dinossauros no mundo contemporâneo é marcada por desafios, já que muitos deles se revelam vulneráveis às doenças e ao clima atual. Os remanescentes habitam áreas tropicais, principalmente em ilhas isoladas. A protagonista, uma experiente mercenária, é contratada por um empresário da indústria farmacêutica para coletar sangue de três gigantescas espécies de dinossauros enquanto estão vivas, com a finalidade de desenvolver um medicamento para problemas cardíacos. Sob a direção de Gareth Edwards, o filme foca na manipulação genética, apresentando dinossauros que, em sua maioria, nunca existiram e possuem características monstruosas que fogem do que conhecemos. Muitas delas são as criaturas indesejadas para os investidores do parque que nunca deu certo como planejado, abandonadas na tal ilha por serem “assustadoras” demais para o público que frequentava as atrações do empreendimento fracassado.
O roteiro de David Koepp, responsável pelo clássico de 1993, traz algumas ideias consideradas absurdas e genéricas, refletidas em falas que descrevem os dinossauros da Isla Nublar como resultados da “engenharia do entretenimento”. Com essa premissa, esta aventura provoca uma reflexão sobre a relevância dos dinossauros na cultura atual, questionando como fazer com que o público se importe novamente com essas criaturas. Ao longo de seus 134 minutos, os protagonistas enfrentam perigosos encontros com Tiranossauros, Pterodátilos e um novo e aterrorizante híbrido chamado Dementus Rex, que combina características de várias bestas mitológicas. No entanto, após suas provações, os heróis retornam sem conseguir cumprir seus objetivos iniciais, simbolizando uma jornada onde as expectativas são desafiadas e as conquistas se tornam enganosas. E, no geral, demonstram que a sede do público por mais entretenimento envolvendo dinossauros não acaba por aqui, isto é, é um recomeço que garante mais sequências. E, por mais que sejam divertidas e visualmente deslumbrantes, não significa que é algo bom. A grande pergunta é: para onde ir agora? Recomeço não será o esgotamento?
É difícil ignorar as ambições comerciais que permeiam Jurassic World: Recomeço, o sétimo filme de uma franquia bilionária. No entanto, o que impressiona é a falta de interesse em explorar suas premissas recicladas além da mera introdução de novas criaturas monstruosas. O diretor Gareth Edwards utiliza esses mutantes como uma desculpa para adotar um tom mais sombrio e voltado para o terror, embora o filme não consiga ser verdadeiramente assustador. Em vez disso, Recomeço se destaca como o primeiro desde a narrativa de 1993 que tenta apresentar os dinossauros de maneira assustadora. O cineasta demonstra habilidade em esconder os gigantes pré-históricos em sombras e fumaça, criando momentos de tensão quando esses seres são finalmente revelados, como no emocionante encontro com o Mosassauro, que oferece algumas das imagens mais impressionantes da saga. A sequência em questão é conduzida com muita eficiência. Funciona bem, independentemente da qualidade dramática desta nova entrada no universo edificado por Spielberg lá la primeira metade dos anos 1990. Com algumas passagens que emulam elementos visuais de Tubarão, este trecho entregue logo nos primeiros momentos do novo filme ao menos não nos deixa entediado. É, assertivamente, de tirar o fôlego.
Entretanto, a tensão criada por cenas impactantes, como a sequência dos pterodátilos e a tão esperada aparição do T-Rex em um rio, é frequentemente neutralizada pela percepção de que os personagens humanos estão a salvo: o roteiro de Koepp é irritante ao evitar eliminar figuras ficcionais, diminuindo o impacto da narrativa. Essa previsibilidade reduz a eficácia do suspense, tornando o filme anêmico em sua execução, mesmo que contenha momentos emocionantes e intensos. A falta de risco para os protagonistas compromete a profundidade das cenas e, assim, Jurassic World: Recomeço acaba por ser um entretenimento divertido, mas insatisfatório, que falha em criar uma conexão genuína entre o público e as criaturas que deveriam despertar medo e fascínio. A sensação de déjà vu parece dominar as salas de cinema, com sequências, remakes e prequels prevalecendo em um cenário onde a originalidade tornou-se escassa. A indústria cinematográfica enfrenta um dilema: teria perdido a criatividade nas últimas duas décadas, ou o público se tornado mais exigente e, em alguns casos, “chato”?
Em meio a essa reflexão, Jurassic World: Recomeço traz à tona questões previamente debatidas, como a ganância desenfreada do setor empresarial e a luta emocional de um pai em busca de suas filhas. Contudo, o que verdadeiramente atrai os fãs são os dinossauros gigantes e famintos, que oferecem momentos de tensão intensa, particularmente em cenas memoráveis. Dentre os destaques, o novo filme apresenta um Tiranossauro Rex em uma de suas aparições mais aterrorizantes, reafirmando a máxima de que suas dinâmicas visuais nunca perdem seu charme, mesmo diante do já mencionado texto irregular. A sequência fluvial, conhecida por ter sido eliminada do filme de 1993, mas presente no imaginário dos leitores do romance homônimo é espetacular, envolvente uma comprovação da eficiência dos membros que integram a equipe de Gareth Edwards: a direção de fotografia de John Mathieson é sábia em sua jornada de abertura e fechamento de quadros e composição de ângulos, o design de produção de James Clyne também é suficientemente imersivo e a trilha sonora de Alexandre Desplat empolga. Os efeitos visuais e especiais, bem como a edição, demonstram a habilidade dos realizadores em nos inserir em um mundo de fantasia onde os dinossauros são críveis.
Em suma, um filme ambicioso, que se contenta em ser razoável.
Jurassic World: Recomeço (Jurassic World: Rebirth – EUA, 2025)
Direção: Gareth Edwards
Roteiro: David Koepp
Elenco: Scarlett Johansson, Mahershala Ali, Jonathan Bailey, Rupert Friend, Manuel Garcia-Rulfo, Luna Blaise, David Iacono, Ed Skrein
Duração: 136 min.