Número de temporadas: 1
Número de episódios: 50
Período de exibição: 26 de janeiro de 2003 a 18 de janeiro de 2004
Há continuação ou reboot?: Sim. Foi precedida por 12 outras séries e sucedida por mais de 30 séries, especiais televisivos e longas-metragens que continuam sendo lançados até hoje em dia.
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Apesar de o nome da presente coluna ser Plano Piloto, quando o assunto é Kamen Rider são raras as vezes em que assistir apenas o piloto é suficiente para compreender o básico da pegada de cada nova temporada. Às vezes, nem assistir os dois primeiros basta. Isso pelo menos para mim, claro. E Kamen Rider 555 talvez seja o melhor (ou seria o pior?) exemplo disso, já que O Início da Jornada é, sendo muito sincero e sem rodeios, uma confusão dos diabos que chega a ser cômica tamanha é a falta de fluidez e congruência narrativa do roteiro de Toshiki Inoue, que escreveu a série inteira. Depois de Kamen Rider Ryuki, que inovou ao estrear uma armadura mais medieval para o personagem e situá-lo em uma história de fundo de fantasia, como um literal jogo de cartas como Yu-Gi-Oh e Magic: The Gathering que exigia muito uso de computação gráfica ruim, 555 dá um ou dois passos atrás em termos de design do protagonista, revertendo ao estilo mais comum de armadura insetoide, ainda que errando feio nos “farois de carro” que fazem as vezes de olhos no capacete, e mergulhando mais em tecnologia de ponta para diferenciar bastante da série anterior.
Mas a confusão do primeiro episódio é inafastável. Vemos Mari Sonoda (Yuria Haga), uma jovem viajando de moto pelo Japão com uma bolsa que ela parece fazer de tudo para proteger, três outros jovens motoqueiros começam a importuná-la e um quarto motoqueiro (Takumi Inui vivido por Kento Handa), só que esse silencioso. passa a segui-la também, mas de longe. Em paralelo, há um flashback para dois anos antes que nos introduz ao jovem Yuji Kiba (Masayuki Izumi) que perde os pais em um acidente automobilístico que não convence em nada e fica em coma até morrer no presente, somente para em seguida ressuscitar e começar a tentar entender o que aconteceu no interregno, além de manifestar poderes paranormais. Ah, além disso, há um prólogo em um laboratório de pesquisa em que uma criatura de armadura rouba o que parece ser um cinto Kamen Rider. Nada realmente se conecta nesse começo e os eventos seguintes – a transformação de Yuji em ser de armadura equina e Takumi em um Kamen Rider depois que Mari tenta usar o cinto que tem na bolsa e não dá certo, colocando-o do nada na cintura do rapaz – também não têm conexão que fique clara aqui, com a direção de Ryuta Tasaki errando seguidas vezes na decupagem e criando um episódio que, na montagem, parece uma sucessão de vinhetas mal ajambradas.
No segundo episódio, O Poder do Cinto, a história começa a ganhar contornos ou, talvez melhor dizendo, algum semblante de estrutura, com a revelação que Yuki Jiba tornou-se um Orphenoc, humano capaz de se transformar em uma criatura metálica inspirada em animais, e que Takumi Inui estava atrás de Mari Sonoda em razão de a bolsa dela com o cinto Kamen Rider ser igual à bolsa dele que havia sido roubada e que essa bolsa de Mari havia sido enviada à ela por seu pai, que trabalho em Tóquio e ela estava a caminho de lá. Em meio a isso, um novo Orphenoc aparece, dessa vez semelhante a um elefante, e temos outra luta entre Takumi transformado e o bicho, com Mari revelando que tem conhecimento maior sobre o que o “celular” que é anexado ao cinto é capaz de fazer. E os esclarecimentos – se é que podemos chamar assim – param por aqui, ou seja, com as peças do quebra-cabeças jogadas em cima da mesa e muita delas ainda de cabeça para baixo e sem uma imagem da caixa para termos uma ideia um pouco melhor do que será montado.
Não é que eu esteja reclamando da manutenção do mistério, pois isso faz parte e é perfeitamente natural. Meu problema está em como o mistério é trabalhado, pois o roteiro é desgovernado, com pouquíssima estrutura narrativa e a direção de Tasaki insiste em trabalhar o texto como uma sucessão de vinhetas incongruentes. A produção até se esforça no bom design dos Orphenocs e no uso de computação gráfica para dar vida a eles, mas apenas isso não é suficiente para fazer desse começo de Kamen Rider 555 algo que prenda o espectador, mesmo aquele acostumado com as bizarrices da franquia. Sem um storytelling decente, tudo o que sobra nesse par inicial de episódios é um apanhado de sequências desconexas que irritam mais do que o mistério vale.
Kamen Rider 555 (2003) – 1X01 e 02: O Início da Jornada / O Poder do Cinto (仮面ライダー555, Kamen Raidā Faizu – Japão, 26 de janeiro e 02 de fevereiro de 2003)
Conceito original: Shotaro Ishinomori
Direção: Ryuta Tasaki
Roteiro: Toshiki Inoue
Elenco: Kento Handa, Yuria Haga, Masayuki Izumi, Kohei Murakami
Duração: 24 min. (cada episódio)