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Crítica | Killing (2018)

A não-violência é mesmo um caminho viável?

por Ritter Fan
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Killing, nome que Zan, primeiro longa de samurais de Shinya Tsukamoto, ganhou no circuito de festivais, é uma obra simples, quase contemplativa, apesar de sua duração acanhada, que impede que o passo da narrativa esmoreça. Na história, o jovem ronin Mokunoshin Tsuzuki (Sosuke Ikematsu) vive uma vida pacífica entre camponeses, ajudando-os em seu cotidiano e vivendo entre eles sob a guisa de protegê-los de ameaças que, até o começo do longa, nunca se avizinharam.

Só essa abordagem já é intrigante e diferente o suficiente para prender a atenção do espectador que procura algo diferente no que se refere a filmes de samurai, pois o que vemos é, essencialmente um ronin pacífico, que faz de tudo para evitar combates, ainda que ele desembainhe sua espada – mas a de madeira – para treinar o adolescente Ichisuke (Ryûsei Maeda), que o admira, sempre sob os olhares da jovem Yu (Yû Aoi). Mas Mokunoshin não é um covarde, não é alguém que foge de suas obrigações mortíferas, mas sim uma pessoa que procura colocar a diplomacia à frente do fio da espada em um período tumultuado da história do Japão em meados do século XIX.

Essa vida simples, idílica e feliz que ele leva é interrompida quando um ronin mais experiente, Sawamura, vivido pelo próprio diretor, aparece por ali em meio a um duelo e logo recruta Mokunoshin para reunir-se a ele em uma jornada até Quioto para eles lutarem na guerra civil em andamento. O contraste entre os dois espadachins é claro, com Sawamura, apesar de mais vivido – ou talvez por isso – sempre colocando a espada em primeiro plano, com Mokunoshin hesitando em seguir esse caminho, mesmo considerando que ele se mostra inicialmente muito interessado em seguir para a guerra. Cria-se não exatamente um impasse, mas sim uma discussão quase que sem palavras entre os estilos de vida que são colocados em oposição, com a direção sutil de Tsukamoto e a fotografia naturalista dele com Satoshi Hayashi, aos poucos desfazendo a paz apresentada no início.

E essa quebra narrativa vem mesmo com a chegada de um grupo ruidoso e mal encarado de fora da lei que se aboleta na estra de entrada e saída do vilarejo e são logo vistos como ameaças pela população local que, imediatamente, pede auxílio a Mokunoshin. Os eventos que decorrem daí são resultados imediatos e evidentes das posturas diametralmente opostas dos jovem e velho ronins, o primeiro tentando encontrar uma saída na base da conversa, inclusive encetando amizade com alguns dos bandoleiros e o segundo mantendo-se distante, mas sempre pronto para usar sua espada a qualquer sinal de ameaça.

E o dilema que o longa coloca é que caminho seguir em uma situação como essa, com o roteiro lenta, mas certeiramente tornando inevitável o confronto de filosofias, o que gera alguns momentos de combate que Tsukamoto filma com câmera na mão e no meio da luta, mas sem que ele dê tempo para que o espectador se sinta desnorteado, já que tudo é muito rápido e eficiente, remontando às coreografias de combates semelhantes por Akira Kurosawa ou Hideo Gosha, só que de forma ainda mais econômica e discreta em razão do orçamento baixo do longa. Não há surpresas, não há tentativas de criar um espetáculo visual, pois o interesse do cineasta é deixar que o espectador chegue à sua própria conclusão, não havendo respostas erradas, por assim dizer.

Killing é um pequeno filme com uma grande discussão que o roteiro – também de Tsukamoto – aborda como aquelas clássicas inevitabilidades da vida. Um guerreiro define-se realmente pela guerra ou por sua habilidade de evitá-la sempre que humanamente possível? E quais são as potenciais consequências do derramamento de sangue? Assi como Mokunoshin Tsuzuki, nós aprendemos da forma mais dura possível que o caminho da não-violência pode ser apenas uma perigosa utopia efêmera… Mas será que vale persegui-lo mesmo assim?

Killing (Zan/斬、- Japão, 2018)
Direção: Shinya Tsukamoto
Roteiro: Shinya Tsukamoto
Elenco: Sosuke Ikematsu, Yū Aoi, Tatsuya Nakamura, Ryūsei Maeda, Shinya Tsukamoto
Duração: 80 min.

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