Home TVTemporadas Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada

Crítica | Killing Eve – 1ª Temporada

por Luiz Santiago
1,1K views

Villanelle-Phoebe-Waller-Bridge-guionista-thriller_plano critici plano critico killing eve plano critico serie

Existe um tipo de fascínio mórbido, por um grande número de pessoas, diante de casos, séries, filmes ou qualquer representação de mulheres assassinas na ficção. A questão, analisando apenas pelo efeito dramático e psicológico, chama a atenção pelo tipo de subversão de papel que oferece, não apenas de uma pessoa que comete um crime, indo contra uma das leis mais contundentes de qualquer civilização, a de não matar (exceto quando o Estado ou uma religião extremista, em sua constante hipocrisia, dizem que é legal matar em “ocasiões X”…), mas também se colocando frente a um antigo papel social de gênero, que assusta pela forma como é quebrado quando uma mulher também mata. E é justamente nesse ponto que Killing Eve se estabelece.

A série da BBC America, criada por Sally Woodward Gentle (Whitechapel), Lee Morris e Phoebe Waller-Bridge (Fleabag), é baseada na saga literária de Villanelle, escrita por Luke Jennings, que conta a história de uma assassina profissional, a impiedosa e precisa Oxana Vorontsova. Na série, a personagem é interpretada por Jodie Comer e, de cara, nos chama a atenção a forma impiedosa como o roteiro mostra os assassinatos, ao mesmo tempo que desenvolve de maneira surpreendente a assassina, enquanto ela recebe missões para matar pessoas dos mais diversos meios sociais e cargos, em diferentes cidades do mundo. Não há como não se impressionar com a composição dos quadros pela direção, contextualizando os lugares (cada um ligado a uma propícia trilha sonora e cada missão exigindo um figurino diferente da assassina), inserindo bem a protagonista antes de mostrá-la agindo e utilizando-se da fotografia para expor sentimentos e criar as mais variadas atmosferas cênicas.

Na contraparte, temos a apresentação de Eve Polastri (a simpaticíssima Sandra Oh), funcionária de uma “divisão fantasma” do MI5, colocada na cola de Villanelle. O interessante dessa série é que mesmo com bons personagens masculinos, quem realmente ganha destaque aqui são as mulheres e vemos a colocação das atrizes em núcleos e posições completamente diferentes, assumindo riscos, iniciando investigações e criando um cenário de suspense que ultrapassa as fronteiras do Reino Unido e coloca em pauta conflitos geopolíticos, de Instituições de inteligência estatal que se chocam e se ajudam. Eve, Villanelle e a fria e muito bem relacionada Carolyn (Fiona Shaw) entram em um furacão de acontecimentos que deixam mortos pelo caminho, gera muita suspeita (coitado do Kenny!) e nos faz olhar para a vilã psicopata com olhos cada vez mais simpáticos, por assim dizer, graças à ótima interpretação de Jodie Comer e às situações improváveis em que ela se encontra.

O grande peso da investigação que vemos no início, porém, vai sendo aos poucos minimizados por uma aproximação entre as “forças da lei” e “Os 12”, misterioso grupo sobre o qual, mesmo terminada a temporada, não temos nenhuma informação concreta sobre. O que era uma caçada, vira um encontro de camaradas ou de entendimento dúbio entre mocinhos e vilões, que acabam tendo igualmente dois olhares por parte do público. O primeiro, a interessante percepção de que os personagens aqui não são tão diferentes quanto pareciam à primeira vista. Governos e bandidos andam de mãos dadas em muitos casos, e é justamente esse tipo de coisa que o texto exibe na segunda parte da temporada. Mas notem que essa exposição tem um preço. A força da investigação de antes praticamente vai para segundo plano e ficam os dramas de ocasião, as fugas, as ordens estranhas e um quase esvaziamento da proposta inicial, que era muito mais ampla, para uma segunda proposta, mais fechada, com mais cara de “acontecimentos de bastidores”.

Com isso, não quero dizer que a segunda parte da temporada parte é ruim. Todavia, a mudança de linha narrativa não é algo que passa batido pelo espectador, logo, é impossível não lamentar a mudança. Como compensação, esta nova fase da série ganha um tom mais sarcástico, abraçando ainda mais o humor negro, e aqui quero dizer que todas a cenas de Villanelle com a garota Irina (Yuli Lagodinsky) são imensamente prazerosas de se assistir, e já quero a personagem de novo na 2ª Temporada. Dando destaque a excelentes personagens femininas e com uma assassina que nos faz questionar visões ético-morais o tempo inteiro, Killing Eve é um daqueles shows que nos capturam e nos deixam boquiabertos pela coragem ou inovação com que tratam o tema principal. Na próxima temporada, Phoebe Waller-Bridge e os outros roteiristas da série vão ter muito o que explicar, especialmente o cliffhanger quase milagroso deixado ao final desta temporada de estreia. Por enquanto, ficamos com as mãos sangrando, tremendo e pensando o quanto a psicologia humana é uma arma e uma armadilha em si mesma.

Killing Eve – 1ª Temporada (EUA, 2018)
Criadores: Sally Woodward Gentle, Lee Morris, Phoebe Waller-Bridge
Direção: Harry Bradbeer, Jon East, Damon Thomas
Roteiro: Phoebe Waller-Bridge, Vicky Jones, George Kay, Rob Williams
Elenco: Sandra Oh, Jodie Comer, Fiona Shaw, Owen McDonnell, Kim Bodnia, Kirby Howell-Baptiste, Sean Delaney, Darren Boyd, David Haig, David Bertrand, Ken Nwosu, Sonia Elliman, Olivia Ross, Billy Matthews, David Agranov
Duração: 8 episódios de 50 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais