Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | King Kong en Asunción

Crítica | King Kong en Asunción

por Davi Lima
731 views

asunción

A sobreposições de tempos(criança e idoso), caminhos(a pé e de carro) e comunicações (a ilustração e a descrição) distintas que refletem a contradição humana. A história de King Kong en Asunción não parece ter rumo inicialmente, com um personagem velho indo atrás de sua história e prazer no Paraguai como um road movie, enquanto a Morte narra e fala mais que o protagonista silencioso e caçador de recompensas.

Desde do princípio do filme há uma narrativa simultânea. Alguém comenta (a morte) uma pretensa verdade sobre o que se ilustra enquanto um personagem (o velho) caminha, ou mostra-se o caminho dele em movimento. Essa junção de linguagens em uma mesma história serve ao processo de desumanização como efeito da culpa moral temática na obra, mesmo sem dizê-la. A fotografia, a trilha sonora, a montagem e o roteiro, as peças conhecidas para compor um filme, se imergem na ambiguidade já explícita que King Kong en Asunción apresenta com suas personagens que direcionam a narrativa. Pois, enquanto numa cena o velho mata um indigente no deserto, a morte descreve-o com a sua moral interna do e silenciosa. O que une isso em tela, por exemplo, é o silêncio natural, a fotografia horizontal e distante (“imparcial” em plano bem aberto, widescreen) do ato, a duração longa da gravação e o roteiro que descreve: o velho caminha lentamente para o seu carro e depois volta para se certificar do assassinato.

São nesses trabalhos cinematográficos que desenvolvem o processo numa corda bamba de harmonia, em que o velho, na caricatura desgrenhada com barba branca e cabelo branco, é descrito pela morte, enquanto a narrativa chama o espectador no sentido reverso, de conhecer a vida desse velho. Assim, o começo tem cara de fim e o fim de reafirmação do começo. O que é mais desumano do que atirar a queima roupa na cabeça de um desconhecido pelo público em pleno deserto e depois caminhar vagarosamente sem aparente rumo? Porém, isso também soa humano, essa é a contradição.

O filme se molda com afiadas sobreposições temporais em proporção da vagarosidade das caminhadas do velho, revelando a história de uma velhice que perdeu a humanidade antes mesmo de sua explosão animal que denota o título King Kong en Asuncíon. O entretenimento mais direto do filme é alcançado quando a velhice parece ter uma renovada, quando há o proveito da luxúria, da riqueza, quando o velho usa um carro e vai ao barbeiro. Mas a contradição continua, a moral se esvazia para atos sexuais enquanto o trajeto do velho era encontrar a mulher que amava. É a clássica história do caçador de recompensas, o criminoso que por causa do trabalho não pode ter seu amor, que precisa fugir para proteger a amada. Porém, compreendendo as profundezas do tempo que aparam o ser humano, até mesmo quando o amor persiste, a contradição do egoísmo corrompe o conceito da promessa de volta com a própria morte.

Independente da história clássica, a maneira de contá-la é que vai determinar a unidade narrativa prazerosa de ser entretido pela arte, e o que se denota nesse filme é que entre o caminho, o tempo e a morte há tantas contradições morais que não há como conceber mentalidade racional. Durante todo o longo exercita-se esse teste, de que o espectador pode achar incompreensível como um velho caminha tanto, como ele parece resiliente em toda a sua jornada. E nisso se conta a ambiguidade, se o que se descreve pela morte e o que se mostra em tela reflita exatamente o pior da humanidade, em compreender destinos sem nunca tomá-los, de conhecer uma moral em que nunca é respeitada, numa contradição eterna que nunca morre.

Assim, King Kong en Asunción se inteira com muito pouco o muito do que as narrativas sempre contam da realidade. A coerção contraditória que cada ser humano cria para si só é liberta na morte ou no constante paliativo de caminhar como promessa morta de que a contradição pode acabar em vida.

King Kong en Asunción (King Kong en Asunción) – Brasil, Bolívia, Paraguai | 2020
Direção: Camilo Cavalcante
Roteiro: Camilo Cavalcante
Elenco: Andrade Júnior, Ana Ivanova, Juan Carlos Aduviri, Fernando Teixeira, Maycon Douglas, Georgina Genes, Lucrecia Carrillo
Duração: 90 minutos

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais