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Crítica | King Richard: Criando Campeãs

A cinebiografia do homem que criou Venus e Serena Williams.

por Kevin Rick
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King Richard é uma cinebiografia do personagem titular, interpretado por Will Smith. Durante a longa duração de 140 minutos do filme, nós acompanhamos a história de Richard Williams, um homem que treinou e empurrou duas de suas filhas, Venus Williams (Saniyya Sidney) e Serena Williams (Demi Singleton), em direção às carreiras profissionais no tênis. Richard até chegou a traçar um plano junto com sua esposa Oracene ‘Brandy’ Williams (Aunjanue Ellis) mesmo antes das meninas nascerem, criando um manifesto de 78 páginas delineando toda a trajetória profissional das futuras superestrelas do esporte. Perturbador, não é mesmo?

Não para o roteiro de Zach Baylin. A maneira como o texto desenha a construção do protagonista está mais próxima de uma biografia excessivamente elogiosa, do que necessariamente um estudo desse personagem complexo e de suas táticas questionáveis. Pelo pouco que vemos em tela, mesmo com a obra fugindo do retrato complicado, é facilmente perceptível os traços de narcisismo, arrogância e desrespeito que compõem a personalidade do personagem. Felizmente, a obra não o demonstra apenas como um pai puro e visionário, diluindo um pouco de ambiguidade em suas escolhas extremamente discutíveis, mas é uma ambivalência branda; muitas das vezes justificada pela narrativa através dos traumas de Richard e da vontade de sair do gueto.

O filme gosta de compensar a parte problemática de Richard com um senso de predestinação, genialidade e trabalho duro, como tudo sendo apenas no interesse de proteger suas filhas de um sistema racista. Existe verdade nisso, e é particularmente memorável como o cineasta Reinaldo Marcus Green transmite a intensidade das ameaças em Compton, a dificuldade de sucesso da família Williams com treinos na chuva e a sutileza do racismo nos clubes de tênis. No entanto, notem como a obra adora focar no desespero e mártir de Richard, mas raramente dá tempo para seus erros, como o abandono de seus outros filhos que acontece em elipse e é simplesmente jogado na narrativa em um diálogo rápido, ou então da inexistente dramaturgia de como a personalidade controladora deste patriarca afeta essas meninas psicologicamente. O filme suaviza quase todas as arestas deste homem, reconhecendo sua obstinação, mas esquecendo dos aspectos mais impróprios da vida pessoal de Richard.

Esse auto-engrandecimento condescendente ocorre pelo verdadeiro intuito de King Richard: ser um filme otimista e alegre sobre triunfo esportivo. E nesse aspecto, o filme acha seu sucesso em uma história agradável sobre inspiração, acreditar em si mesmo e vencer adversidades, como típico do gênero de esporte. Na verdade, o filme de Green é tão leve que à medida que a família Williams sai de Compton, a obra se torna cada vez mais cômica. Will Smith começa a deixar a vulnerabilidade para enfatizar a caricatura desse pai exagerado dando entrevistas polêmicas e tirando os holofotes das filhas atletas. As dinâmicas com os treinadores Paul Cohen (Tony Goldwyn) e especialmente Rick Macci (Jon Bernthal) são bem divertidas. A fotografia calorosa e convidativa parece seguir esse momentum, enfatizando esperança e potencial. E no ato final, o cineasta muda o foco das dinâmicas familiares para oferecer um clímax nas sequências de jogos de tênis – que, aliás, o diretor sofre para criar tensão em sua direção repetitiva -, recompensando o plano de Richard com a vitória.

Por muitas razões, King Richard é um filme fácil de assistir. Incorpora fórmulas batidas do gênero esportivo com uma história bonita sobre duas das maiores atletas da história do tênis – e de qualquer esporte, para ser honesto. Sinto falta de uma maior presença das duas na narrativa, principalmente Serena, mas a proposta é a visão de como seu pai abriu o caminho para seu talento e esforço chegarem à grandeza. É nessa trajetória que o filme peca, prezando por um drama superficial e embelezado do seu personagem central, nos levando a inevitável justificação dos créditos finais das decisões familiares de Richard. Dessa forma, King Richard é mais uma reabilitação de imagem para um pacote genérico da experiência de superação do esporte, do que uma cinebiografia autêntica e intrigante do seu homônimo.

King Richard: Criando Campeãs (King Richard) – EUA, 02 de dezembro de 2021
Direção: Reinaldo Marcus Green
Roteiro: Zach Baylin
Elenco: Will Smith, Aunjanue Ellis, Saniyya Sidney, Demi Singleton, Tony Goldwyn, Jon Bernthal, Dylan McDermott
Duração: 140 min.

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