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Crítica | Kingdom: Ashin of the North

por Ritter Fan
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Ashin of the North é um episódio “surpresa”, na forma de um longa-metragem, da ótima série de zumbis sul-coreana Kingdom, que funciona tanto como um prelúdio quanto como um sidequel (ou história paralela) para os eventos que vemos ser desenrolados ao longo das duas temporadas que já foram ao ar, focando e desenvolvendo toda a história pregressa de Ashin, a misteriosa mulher que aparece ao final da 2ª temporada. Mesmo sendo parte integrante da obra mais ampla criada por Kim Eun-hee, o longa tem a vantagem de também ser autocontido, podendo ser facilmente apreciado por quem nunca assistiu a série e servindo até como um “começo cronológico” de tudo.

O episódio-filme demora a começar, trabalhando primeiro com uma talvez desnecessariamente complicada e longa contextualização histórica que lida com a invasão do Japão à Coréia, a rivalidade entre tribos e as tensões entre o governo central de Joseon e os Pajeowi, o que acaba atrapalhando o início ao forçar o espectador a pré-encaixar peças que serão mais naturalmente colocadas em suas posições com o desenvolvimento da narrativa. É como se Kim Eun-hee, que escreveu o roteiro, estivesse afobado para derramar seu conhecimento histórico sobre seu país antes que ele fosse efetivamente importante para a narrativa, ainda que esse problema e dissipe quando a linha narrativa principal finalmente ganha corpo.

O pano de fundo político, apesar de importante, por vezes parece querer se “intrometer” em demasia na história da pequena Ashin (Kim Si-ah), cujo pai, Ta Hab (Kim Roi-ha), é um espião de Joseon que monitora os Pajeowi da fronteira próxima. A menina tem uma mãe moribunda e, em uma de suas expedições a uma região proibida, descobre inscrições antigas em pedra sobre uma planta que ressuscita os mortos, mas cobrando um preço. O que deveria andar a passos largos para a frente, mantém uma velocidade de cruzeiro que dá a impressão que quase a metade do longa só existe nessa proporção para justificar a categoria de “episódio especial”, já que muito pouco acontece até que Ashin cresce em uma bela transição, sendo então substituída pela atriz Jun Ji-hyun, a mesma que aparece ao final da 2ª temporada de Kingdom.

Mas a passagem para a vida adulta de Ashin consegue, até certo ponto, compensar a razoável lerdeza do início, com um desenvolvimento com mais vigor e boas reviravoltas que fazem bom uso do que veio antes e do trabalho dramático da atriz que, se retornar na 3ª temporada, tem potencial de agregar muito à série. Por ser autocontida, a história tem começo, meio e fim, mesmo que a sequência final abra espaço para uma continuação do prelúdio, algo que é desnecessário, mas possível.

No entanto, a verdadeira marca da qualidade de Kingdom, que se repete em Ashin of the North, é sua direção de arte e sua fotografia. Mais uma vez, o espectador é brindado com uma detalhada e cuidadosa reconstrução de época que, mesmo não contando com palácios como na série, materializa aldeias e fortes militares da época de maneira exemplar, com figurinos convincentes e variados mesmo entre iguais, que facilitam a imersão nesse fascinante período feudal do Oriente. A fotografia faz ótimo uso das tomadas capturadas em locação, seja em ambiente de floresta, sem em planos gerais com belas paisagens, funcionando até mesmo quando as imagens precisam ser complementadas digitalmente.

Ashin of the North, apesar de se complicar um pouco sem a menor necessidade e de não acrescentar tanta informação nova à mitologia da série, é bem sucedido em criar uma ótima história de origem para Ashin, com muita traição, violência e atos de vingança que fazem a narrativa funcionar completamente sozinha. Fico pensando se não haveria outras oportunidades de abordagens como essa tanto na mesma série como em outras por aí, como spin-off autocontidos que se justifiquem por si mesmos como acontece aqui. Pode ser uma maneira interessante de se expandir a mitologia sem fazer com que o material principal se perca em desvios narrativos.

Kingdom: Ashin of the North (Kingdom: Ashin-Jeon – Coréia do Sul, 23 de julho de 2021)
Direção: Kim Seong-hun
Roteiro: Kim Eun-hee
Elenco: Jun Ji-hyun, Kim Si-ah, Park Byeong-eun, Kim Roi-ha, Koo Kyo-hwan
Duração: 93 min.

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