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Crítica | King’s Man: A Origem

Retrocedendo para conseguir surpreender novamente.

por Iann Jeliel
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King’s Man: A Origem

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Apostar em um filme de origem no contexto da indústria atual parece um movimento displicente em termos de crescimento de marca. No entanto, após a recepção negativa do O Círculo Dourado – que realmente pecou em seus exageros –, o diretor Matthew Vaugh pareceu entender que retroceder era a melhor maneira de recuperar o refrescante ineditismo que fez o primeiro Kingsman ser tão bom.

Mais do que somente satirizar o gênero de espionagem, Serviço Secreto sabia brincar com contradições autoconscientes nos clichês que admitia dentro da trama, potencializando o seu exercício de gênero. Em outras palavras, as subversões da sátira não eram apenas piadas situacionais na comédia, como também eram pretextos para grandes reviravoltas ou desdobramentos inesperados que faziam a história também funcionar num tom mais “sério” – a violência estilizada, por exemplo, tinha consequências porque o contraste do cavalheirismo com o anti-heroico naturalmente as tornava imageticamente mais impactantes. King’s Man: A Origem recupera esse ponto forte do antecessor, mas numa inversão do tom principal.

Em vez de uma sátira bem-humorada, o contexto de época – mais especificamente da Primeira Guerra Mundial – leva a narrativa a um tom dramático bem-vindo à  franquia, embora, numa primeira impressão, o arco paternal entre o protagonista Orlando Oxford (Ralph Fiennes) e seu filho Conrad (Harris Dickinson) soe desinteressante por ser demasiadamente clichê. Só que é assim intencionalmente pelo roteiro, para que a comédia com ação característica da identidade da franquia entre nesse contexto como um quebrador de expectativas para os  desdobramentos da história não serem clichês. A origem da organização, bem como essa dramaturgia de pai e filho são, na verdade, um mero pretexto, tanto de um para o outro como (principalmente) para ser um falso guia para o espectador que está esperando uma narrativa confortável ou pé no chão, que não acontecerá, em se tratando de Kingsman.

Há quem diga que o filme soe indeciso no que quer, ou que entre em contradições com isso, mas vejo como um método para controlar os exageros e torná-los eficientes quando usados somente para mover a trama para outras direções em momentos cruciais. Fora que a contradição faz parte da essência do material original e explicá-las dentro da estrutura escolhida é o que diferencia esse filme de demais histórias de origem. Tentando detalhar sem dar spoilers: é fundamental termos apatia pelo discurso (chato) do pai pacifista, tanto quanto do seu filho que deseja ir para guerra (violência) defender a nação inglesa por um senso de patriotismo (burro, afinal ele teve todas as chances para não ir ao campo de batalha), a fim de  que, quando esses papéis se inverterem no desenvolvimento de cada um, a base da formação de uma agência que levanta bandeiras tão opostas – a elegância e o charme da corte burguesa com a selvageria de matar sem remorso pelo bem do país – seja crível.

Há vários elementos canônicos que contribuem para essa ideia, desde o fato de o serviço de inteligência se disfarçar e adquirir informações pelos olhos de funcionários em  menor classe social espalhados pelo mundo – como mordomos, faxineiros, etc. – até a modificação manjada de certos momentos e/ou personagens históricos por conveniência de quando a narrativa pede para ser mais enérgica. O destaque evidente fica para a cena de batalha contra Rasputin (Rhys Ifans). Além de contar com uma coreografia de ação inspiradíssima, há todo um contexto sexual subliminar e sobrenatural do estereótipo do personagem histórico, prévio ao confronto, que dá à sequência uma comicidade tão absurda e bizarramente marcante quanto aquela cena da igreja no primeiro filme.

É a partir dela, que o filme passa a ter um timing excelente na inserção oportuna de imaturidade para balancear o tom dramático, fornecendo um maior envolvimento para o  telespectador. Da metade para o fim, então, o filme ganha um ritmo alucinante, e aquele bom tom de galhofa (sem se perder nos exageros) vai tomando a tela na ampla criatividade de Vaugh em acompanhar as acrobacias malucas de seus primeiros espiões. Óbvio, King’s Man: A Origem não chega a ser tão impactante quanto foi o primeiro filme. Falta desenvolvimento, especialmente nos personagens secundários, mas para um filme que ninguém dava nada (ou você ainda dá moral para filme de origem?) acaba surpreendendo e divertindo bem mais do que esperado.

King’s Man: A Origem (The King’s Man | Reino Unido – EUA, 2021)
Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Matthew Vaughn, Karl Gajdusek (Baseado nas histórias em quadrinhos de Mark Millar e Dave Gibbons)
Elenco: Ralph Fiennes, Djimon Hounsou, Rhys Ifans, Daniel Brühl, Gemma Arterton, Harris Dickinson, Charles Dance, Matthew Goode, Alexandra Maria Lara, Bevan Viljoen, Valerie Pachner
Duração: 131 minutos

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