Home LiteraturaConto Crítica | Kull: O Reino das Sombras, de Robert E. Howard

Crítica | Kull: O Reino das Sombras, de Robert E. Howard

por Luiz Santiago
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O nascimento literário de Kull da Atlântida ou Kull, o Conquistador pode ser visto de duas formas. Uma pela primeira coisa que Robert E. Howard escreveu sobre o personagem mas que não publicou, sendo esta obra comercializada apenas em 1967, sob o título de Exílio da Atlântida (Exile of Atlantis), um pequeno conto que serve como prequel para toda a trajetória de Kull. A outra forma é pela primeira coisa verdadeiramente publicada do personagem, nesse caso, o conto O Reino das Sombras, que saiu na revista Weird Tales em agosto de 1929.

Eu não pude deixar de notar o quanto esta narrativa possui semelhanças com A Fênix na Espada, história inicialmente escrita para Kull, mas que Howard modificou para poder criar, com ela, um outro personagem: Conan, o Bárbaro. A intriga palaciana, a tentativa de usurpação do trono de um rei e o plano para se livrar dessa intriga são vistas de maneira muito clara nas duas histórias, embora O Reino das Sombras seja mais focada em explorar o território dominado por Kull e os contatos dele com outros reinos e povos.

A ação se passa na Valúsia, durante a Era Thuriana (que precedeu a Era Hiboriana, da qual Conan faz parte) e Kull é um soberano respeitado, embora tenha desafetos entre os súditos. Após uma apresentação geral de seu pessoal, castelo e persona, temos uma cena-chave de audiência, onde ele recebe um mensageiro picto e é convidado para ir sem guardas visitar o embaixador dos pictos na Valúsia, o ancião Ka-nu. A partir desse encontro, o autor cria uma linha de mistério que mais adiante se desenrola entre Kull e o lanceiro Brule, momento onde o monarca descobre que há um plano dos Homens-Serpente para tomarem o trono e o reino. E para essas criaturas, tal revolução pode ser muito mais fácil do que aparenta, uma vez que os Homens-Serpente podem assumir a aparência de qualquer pessoa.

Tanto a apresentação dos vilões quanto a apresentação do complô são bem expostos por Howard, com destaque para as cenas em que ele vai pouco a pouco descobrindo quem são as criaturas, adentrando em passagens secretas em seu castelo que ele nem imaginava existir. O próprio desenvolvimento do protagonista nos chama a atenção. Kull pensa bastante e fala pouco. Seus pensamentos são muito estratégicos e sempre cientes da configuração política e cultural que o cerca, de modo que suas decisões sempre consideram mais de uma variante. Ele não só tem amor pela vida como amor pela coroa que usa.

O tropeço da narrativa está no final, logo após a audiência no palácio, onde Kull e Brule descobrem um Homem-Serpente se passando por Kull e sentado no trono. A maneira meio atropelada como as coisas acontecem aí, assim como as ações e o discurso meio bobo do rei sobre a “caça aos Homens-Serpente” tornam a história menos interessante e minam muito da ótima atmosfera mítica que a trama segurava até então. Ainda assim, O Reino das Sombras é uma trama que chama a atenção e nos apresenta um personagem difícil de se esquecer, assim como as muitas possibilidades dentro do gênero espada e feitiçaria que esse Universo Thuriano é capaz de comportar.

Kull: O Reino das Sombras (The Shadow Kingdom) — EUA, agosto de 1929
Autor: Robert E. Howard
Publicação original: Weird Tales
48 páginas

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