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Crítica | Lábios Sem Beijos

O primeiro filme da Cinédia.

por Luiz Santiago
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Fundada no Rio de Janeiro, 15 de março de 1930, por Adhemar Gonzaga, a Cinédia foi uma importantíssima iniciativa para a criação regular de filmes nacionais populares, mantendo-se em relevante operação até 1951. À época da inaugaração, Gonzaga comentou sobre sua empreitada, em entrevista à revista A Ordem, dizendo o seguinte: “A minha empresa foi fundada para edificar o verdadeiro cinema brasileiro. Ela foi lançada exclusivamente com o nosso esforço e nossos capitais. Vamos mostrar que podemos criar uma arte nossa nova e legítima, capaz de transformar o sorriso dos pessimistas num grito de entusiasmo”.

As filmagens de Lábios Sem Beijos começaram em 20 de março do mesmo mês de fundação da produtora, e sua estreia ocorreu em 31 de agosto daquele mesmo ano. No livro 50 Anos de Cinédia (1987), de Alice Gonzaga, há a seguinte indicação sobre a censura do filme, segundo Delegacia de Costumes e Jogos e o Gabinete de Investigações, Censura Teatral e Cinematográfica: “a película é imprópria para menores e senhorinhas”. Vale também dizer que no ano anterior (1929), Adhemar Gonzaga tinha tentado filmar Lábios Sem Beijos (que escreveu com Arlindo Muccilo), planejando trazer Carmen Santos para o elenco; mas isso não foi possível. A produção foi interrompida e o projeto acabou sendo entregue a Humberto Mauro no ano seguinte. Aqui temos, portanto, a primeira fita da Cinédia.

O enredo desenvolve, de maneira um tanto truncada, um romance que envolve desentendimentos, flertes e amores (correspondidos ou não) entre os seguintes personagens centrais: Lelita (Lelita Rosa), Paulo (Paulo Morano), Didi (Didi Vianna), Gina (Gina Cavalieri) e Tamar (Tamar Moema). Não é uma história marcante, sob nenhum aspecto, mas o diretor consegue transformar os clichês da obra em algo visualmente interessante, mantendo o espectador atento e curioso ao longo da projeção. Desde a frase inicial, lida num intertítulo introdutório (“Esta história podia ter-se passada em Londres, mas, para fugir ao nevoeiro, resolvemos filmá-la no Rio… apesar da chuva…“) até o final cômico, o longa costura o romance açucarado — muitas vezes por um viés moralista ou com certo destaque para a libido — a uma aplaudível abordagem da direção de fotografia, que ficou a cargo do próprio Humberto Mauro, ao lado de Paulo Morano.

Mesmo saindo de seu território bucólico, no Ciclo de Cataguases, o diretor segue flertando com a temática da “natureza como ícone”, entregando-nos belos planos do ambiente urbano da então capital do Brasil, e de parques ou regiões periféricas do Rio de Janeiro, de onde ainda podia-se ver vegetação preservada e as pessoas interagindo com ela. Um filme romântico com um final feliz, um conflito simples, mas engajante, e uma assinatura visual de dar orgulho ao cinema brasileiro em seus primeiros anos.   

Lábios Sem Beijos (Brasil, 1930)
Direção: Humberto Mauro
Roteiro: Adhemar Gonzaga, Arlindo Muccilo
Elenco: Lelita Rosa, Paulo Morano, Didi Viana, Gina Cavalieri, Augusta Guimarães, Alfredo Rosário, Tamar Moema, Décio Murilo, Máximo Serrano
Duração: 72 min.

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