Número de temporadas: 1
Número de episódios: 8
Período de exibição: 26 de abril a 5 de maio de 1982
Há continuação ou reboot?: Não.
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O cangaço sempre foi um movimento amplamente representado no audiovisual brasileiro, começando no cinema e se expandindo para a televisão, com o tempo. Por estar bastante fortalecido em nosso imaginário através de filmes, séries, músicas, livros, fotografias e produções acadêmicas, existe sempre uma mítica interessante quando se trata de obras do gênero, especialmente quando o recorte é para Lampião e Maria Bonita, como vemos nesta produção da Rede Globo, a primeira da emissora no formato de minissérie. A estrutura compacta permitiu um uso mais escrupuloso de recursos, o que fez desse projeto um ótimo primeiro passo na transição que a TV brasileira dos anos 1980 já começava a fazer em busca de alternativas às novelas tradicionais.
Escrita por Aguinaldo Silva e Doc Comparato, Lampião e Maria Bonita faz uma curiosa mistura entre ficção e fatos históricos, estabelecendo sua trama nos últimos meses de vida do famoso casal de cangaceiros e explorando temáticas de traição, amores improváveis (na presença de um inesperado triângulo amoroso, que fica bem mais na sugestão do que na prática) e questões sociológicas já esperadas numa produção ambientada na década de 1930. O roteiro toma inúmeras liberdades na construção dos eventos, mas mantém uma noção maior de linha histórica que costura toda a obra, seja na presença de importantes personagens históricos, seja nos embates, locais visitados, grandes acontecimentos e destino dos protagonistas.
Como apontei mais acima, o fato de ser uma produção com poucos episódios, permitiu à emissora investir um pouco mais em sua criação, e isso é perceptível na qualidade geral do produto, com ótima direção de Paulo Afonso Grisolli e Luís Antônio Piá, fotografia perfeitamente adequada às locações, ao gênero e à época retratada; boa escolha e boa qualidade de figurinos (vou me abster de comentários específicos sobre a autenticidade histórica de alguns itens porque isto não é importante para a minissérie) e uma montagem muito inteligente, ligando os núcleos de maneira fluída ao longo de todo o episódio, demonstrando uma relação ampla (direta e indireta) do bando de Lampião e Maria Bonita com indivíduos de diferentes classes sociais e interesses políticos e econômicos.
Premiada com a medalha de ouro no Festival Internacional de Cinema e Televisão de Nova York, a série é um verdadeiro marco, não apenas para a Rede Globo, mas também para os rumos da produção televisiva no Brasil, o resultado positivo de um teste que impulsionou muito outros produtos. Com o elenco selecionado e com o cuidado que a direção teve com o material, não tinha como ser diferente. Nelson Xavier e Tânia Alves estão bárbaros nos papéis principais, e são acompanhados por um elenco de apoio bem conectado, com atores experientes e escolhidos como uma luva para os papéis, dando para o espectador boas horas de entretenimento frente a uma ficção histórica que explora temas como violência institucional, violência e crueldade no movimento do cangaço (assim como o lado mais humano e íntimo dos cangaceiros), manipulação política, o papel da mulher no sertão nordestino (já acenando aqui na estreia com a indicação do aborto de Maria Bonita) e a complexidade desse tema na ficção. Uma legítima joia da TV brasileira!
Lampião e Maria Bonita – Episódio 1 (Brasil, 26 de abril de 1982)
Criação: Aguinaldo Silva, Doc Comparato
Direção: Paulo Afonso Grisolli, Luís Antônio Piá
Roteiro: Nelson Xavier, Tânia Alves, Roberto Bonfim, Regina Dourado, José Dumont, Cláudio Correa e Castro, Hileana Menezes, Lu Mendonça, Antônio Pompeo, Helber Rangel, Arnaud Rodrigues, Jofre Soares, Michael Menaugh, John Procter, Henrique Costa, Evandro Silva, Sílvio Correia Lima
Duração: 40 min.
