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Crítica | Lanterna Verde (2011)

por Guilherme Coral
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Curioso olhar para o passado, já com bom distanciamento e contemplar obras cinematográficas que a grande maioria considera como verdadeiros estigmas nas carreiras de atores, diretores ou estúdios. Pensando já no universo dos quadrinhos, Demolidor definitivamente se enquadra nesse leque de filmes odiados, cuja recepção foi tão negativa que deixou o personagem-título no limbo – falando de cinema, claro – por anos a fio. Naturalmente, outros exemplos vem de imediato à mente, como Batman e RobinMulher-Gato e, claro, Lanterna Verde, que até hoje afeta a percepção do público geral em relação ao herói.

Chega a ser irônico que a primeira adaptação desse personagem da DC Comics tenha sido um fracasso tão retumbante, visto que os fãs (eu inclusive) foram capturados pelo hype construído pelo material promocional do longa. A obra aparentava entregar algo bastante fiel às HQs, claramente se inspirando na fase de Geoff Johns, que revitalizou o herói à partir do arco Renascimento, expandindo consideravelmente sua mitologia, focando quase que exclusivamente em tramas cósmicas. Essa falsa fidelidade, no entanto, serviu apenas para enganar a todos, ao passo que o roteiro de Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim, Michael Goldenberg tomou muitas estranhas decisões, que certamente passaram longe de entregar algo minimamente satisfatório.

A projeção tem início com uma breve introdução à esse universo. Somos apresentados aos Guardiões, o poder da força de vontade, aos anéis que utilizam essa energia e à Tropa dos Lanternas Verdes, que utiliza tal poder a fim de, cada um, proteger seu respectivo setor do Universo, servindo como uma espécie de polícia intergalática. Quando um desses Lanternas é morto por Parallax, uma entidade que faz uso do medo para destruir suas vítimas, um novo usuário do anel deve substituí-lo. O escolhido é Hal Jordan (Ryan Reynolds), um piloto da força-aérea americana, que deve, então, ir ao planeta OA, treinar para ser um Lanterna e, claro, derrotar Parallax de uma vez por todas.

Não é de imediato que somos atingidos como um trem pela narrativa errática de Lanterna Verde. A obra apresenta um sólido começo, apresentando seu protagonista de maneira orgânica e nos introduzindo de forma engajante aos diversos conceitos dos quadrinhos originais. Essa frágil percepção positiva da obra, porém, não dura muito, ao passo que, assim que Hal recebe sua lanterna e anel, tudo começa a desandar. Enquanto a computação gráfica permanecia, de início, levemente disfarçada, a partir desse momento, a produção decidiu não poupar esforços, nos bombardeando com um excesso de explícito CGI, que faz qualquer cena exalar artificialidade, chegando e se mantendo no ápice quando o uniforme de Jordan se materializa, cobrindo todo o seu corpo com efeitos especiais que fazem nossos olhos arderem.

Fosse o roteiro minimamente competente, poderíamos relevar tal questão, o que, infelizmente, não ocorre. Berlanti, Green, Guggenheim e Goldenberg parecem não se decidir entre o que abordar em seu texto, optando por inúmeros pontos a serem desenvolvidos, dentre eles o arco de Hector Hammond (Peter Sarsgaard), a insatisfação de Sinestro (Mark Strong) e, naturalmente, o romance de Jordan com Carol (Blake Lively), todas narrativas paralelas extremamente artificiais, que não somente parecem incompletas, como pouco, efetivamente, demonstram ser necessárias à trama geral. Não bastasse isso, a montagem de Stuart Baird, não sabe transitar entre tais focos, algo que podemos ver claramente na sequência de Hal saindo da Terra, cujos planos são intercalados com a transformação de Hammond em um ser que chega a provocar vergonha alheia.

O texto também falha miseravelmente em desenvolver seus personagens, especialmente o próprio protagonista. Chega a ser surreal a quantidade de elementos sem sentido presentes na obra, característica, essa, que pode ser enxergada com clareza logo no terço inicial, que nos mostra Jordan encontrando um alienígena roxo sem demonstrar o mínimo de surpresa, o que já diz muito sobre a atuação em piloto-automático de Ryan Reynolds. Isso sem falar em sua reação à lanterna ativada posteriormente, que é deixada de lado, enquanto o personagem vai para o bar com seu interesse romântico. São questões como essa que quebram a credibilidade da obra, exigindo demais de nossa suspensão de descrença, de sci-fi o longa passa para não-intencional comédia (sem graça) do absurdo.

Olhando para trás, porém, essa tragédia cinematográfica não deveria vir como grande surpresa, visto que Greg Berlanti, um dos principais produtores do Arrowverse da CW, foi um dos roteiristas da obra. Ao menos fosse o texto o único problema sairíamos no lucro – a realidade, no entanto, foge muito disso, nos entregando um longa-metragem repleto de péssimo uso de CGI e atuações pouquíssimo expressivas, o que mais do que configura Lanterna Verde como um estigma na história da DC Comics nos cinemas.

Lanterna Verde (Green Lantern) — EUA, 2011
Direção:
 Martin Campbell
Roteiro: Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim, Michael Goldenberg
Elenco: Ryan Reynolds, Blake Lively, Peter Sarsgaard, Mark Strong, Tim Robbins, Jay O. Sanders, Taika Waititi, Angela Bassett, Mike Doyle
Duração: 114 min.

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