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Crítica | Lanterna Verde: Terra Um – Volume Dois

por Ritter Fan
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  • Leiam, aqui, nossas demais críticas da série DC: Terra Um.

Mais de dois anos depois do lançamento do primeiro volume de Lanterna Verde: Terra Um, fantástico projeto da DC Comics que, em conceito, se assemelha ao que a Marvel fez no começo dos anos 2000 ao criar o Universo Ultimate, eis que a mesma equipe responsável pela excelente releitura da origem de Hal Jordan como portador do anel dos Lanternas Verdes retorna para mais. E, novamente, como diz o ditado sobre o “time que está ganhando”, ela entrega mais uma ótima história que expande organicamente esse universo.

Percebe-se, logo de início, que alguns anos se passaram desde que Jordan basicamente fundou a Tropa dos Lanternas Verdes, com o estabelecimento de um novo status quo para o planeta Terra: há uma missão de troca científica com uma raça alienígena no aspecto macro e o desenvolvimento secreto, na Lua, de tecnologia de motor de dobra pela empresa fundada por Jordan no aspecto micro, a Jordan Aeronautics. A grande vantagem do roteiro de Corinna Bechko e Gabriel Hardman é que ele deixa a história fluir naturalmente, preocupando-se menos em explicar os detalhes de antemão e mais em colocar a engrenagem girando e trazendo comentários precisos já com alguns fatos consumados, o primeiro dele sendo um ataque misterioso à nave científica dos Llarans, em órbita da Terra e o sequestro dos três cientistas da Terra que estavam à bordo – dentre eles ninguém menos do que o canadense John Stewart – pelos alienígenas como forma de defesa desesperada.

Quando Jordan parte para Llaran justamente para tentar debelar a crise intergalática, ele se depara com um Lanterna Amarelo que violentamente o impede de chegar próximo ao planeta. Tentando entender o que está acontecendo e quem são os bem mais poderosos Lanternas Amarelos, ele se reagrupa com seus colegas no planeta de Arisia, a líder da Tropa. O que parecem ser eventos desconectados vão evoluindo bem compassadamente ao longo das páginas da graphic novel para revelar todo um plano complexo originado do que parece ser o último Guardião de OA vivo, vindo de lugar incerto e não sabido com os anéis amarelos. Mas o texto vai muito além e utiliza os acontecimentos do Volume Um de maneira sábia, estabelecendo toda uma lógica de causa e consequência que funciona muito bem para reunir todas as peças de um tabuleiro complexo, mas que se torna fácil de entender depois que as peças são devidamente posicionadas.

Com isso, de uma só vez, Bechko e Hardman conseguem trabalhar o conceito dos Lanternas Verdes e a tensão na Terra, além de introduzir Stewart – que ganha bom desenvolvimento – e construir um Hal Jordan cada vez mais seguro de si aparentemente sem esforço em um roteiro que sabe distribuir o tempo exato entre ação e explicação, sem desperdiçar páginas ou diálogos. Se há algo levemente negativo na GN é que o relacionamento entre Hal e Carol não tem muito tempo para ser evoluído e, principalmente, que a ameaça que a Terra representa para o cenário intergalático não fica lá muito claro, com o pulo temporal de três anos apenas dando pistas vagas sobre a tão mencionada beligerância de nosso planeta ao ponto de até mesmo Kilowog ter fortes reservas.

Mais uma vez, a arte de Hardman, com as cores de Jordan Boyd, é de se tirar o chapéu. Não é comum que traços “sujos”, de aparência inacabada como são os do artista funcionem em sagas espaciais, mas ele faz mágica novamente aqui no Volume Dois, tanto ao criar os Llaran e os Lanternas Amarelas, quanto ao retornar para lugares familiares e rostos conhecidos do Volume Um. Igualmente, a forma como ele desenha tecnologia lembra muito a abordagem de “espaço vivido” que George Lucas tornou popular com Guerra nas Estrelas, e isso mesmo quando Hardman aborda tecnologia não-terráquea. São espaços confinados, metal arranhado, um certo caos proposital na arrumação espacial dos quadros que enriquecem e muito a experiência. Finalmente, a maneira de ele retratar o uso dos poderes dos Lanternas, com pouquíssimo uso daquelas bobagens de transformar “pensamento em objetos coloridos” da mitologia original, é louvável e muito eficiente, com quadros e páginas poderosos de destruição maciça.

Como um leitor de quadrinhos de longa data que nunca gostou de Lanterna Verde, devo dizer que o trabalho de Corinna Bechko e Gabriel Hardman reinventado todos os conceitos e personagens, mas sem fazê-los perder a essência para o projeto Terra Um é algo que consegue até mesmo me dar vontade de reler as histórias clássicas. Nada como olhares verdadeiramente frescos e inteligentes para um material de décadas e décadas de vida. Que venha logo o Volume Três!

Lanterna Verde: Terra Um – Volume Dois (Green Lantern: Earth One – Volume Two, EUA – 2020)
Roteiro: Corinna Bechko, Gabriel Hardman
Arte: Gabriel Hardman
Cores: Jordan Boyd
Letras: Simon Bowland
Capa: Gabriel Hardman, Jordan Boyd
Editoria: Kristy Quinn
Editora original: DC Comics
Data original de publicação: 12 de agosto de 2020
Páginas: 143

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