O mais novo reboot do universo DC, Renascimento, trouxe inúmeras mudanças para todos os heróis da editora, encerrando a fase dos Novos 52, abrindo espaço para que mais publicações fossem lançadas, algumas simplesmente reiniciando a numeração, enquanto outras seriam criadas do zero. Lanternas Verdes é uma dessa séries estreantes, protagonizada pelos mais novos membros da tropa dos lanternas, Jessica Cruz e Simon Baz. Embora o encadernado de Planeta de Raiva contenha a edição #1 de Renascimento, esta crítica irá contemplar os números de 1 a 5 da revista desses heróis. Caso queira ler sobre rebirth, basta clicar aqui.
Cruz e Baz, responsáveis pelo planeta Terra, ainda têm muito o que aprender, sabendo disso, Hal Jordan os forçara a trabalharem juntos ao fundir as baterias dos dois jovens em uma só. Pouco sabiam, contudo, que Atrocitus, líder dos Lanternas Vermelhos, planeja colocar em prática um plano ligado a uma antiga profecia, a do Amanhecer Vermelho. Dito isso, ele cria a Torre do Inferno no planeta, que começa a fazer com que os seres humanos passem a ter acessos de fúria repentinos. O caos é liberado e cabe a Jessica e Simon arranjar uma forma de impedir que a raiva domine todo o planeta.
O roteiro de Sam Humphries deu início a essa nova publicação de forma ousada: já partiu para a utilização do conceito dos espectros de cor, introduzido por Geoff Johns a partir de Lanterna Verde: Rebirth (que nada tem a ver com Renascimento atual). Certamente não é tarefa fácil começar a ler uma revista dos Lanternas do zero, estamos falando de uma vasta mitologia que vai muito além do herói salvando o dia. São conceitos que foram introduzidos, reformulados, revisitados ao longo dos anos e Humphries sabe bem disso, nos entregando um roteiro que sabe ser didático sem exagerar – e que maneira melhor de fazer isso que através de dois novatos da tropa? Portanto, estamos falando de uma boa maneira de conhecer essa parte do Universo DC.
Jessica, de fato, é quem funciona como nossa porta de entrada. Ela sequer sabe formar algo com seu anel e tem de aprender conforme o caos reina por ali. Simon, por sua vez, expande a mitologia dos Lanternas com o poder que o permite “curar” aqueles afetados pela ira. Estamos falando de algo com proporções gigantescas dentro dessa mitologia e que o roteiro consegue inserir sem fazer o herói poderoso demais, afinal, ao utilizar essa habilidade, ele gasta todas as suas energias. Essa característica de Baz ainda dialoga perfeitamente com a sua própria condição: ele é de uma família muçulmana vivendo nos EUA, sofrem constantemente com preconceito (como vimos na edição Renascimento) – ao poder “acalmar” os outros, o que vemos é uma manifestação de sua vontade de ser aceito, respeitado, independente de sua cor, etnia ou religião.
Jessica Cruz, por sua vez, sofre com síndrome do pânico, uma condição séria, que atinge cada vez mais pessoas em nosso mundo e somente sua presença nos quadrinhos como Lanterna Verde já traz uma ótima mensagem, que ressalta a força das pessoas que são obrigadas a viver dessa forma, como lutam constantemente em seu dia-a-dia. Humphries utiliza a personagem também para ressaltar algo importante nessa mitologia: ser um Lanterna não quer dizer não ter medo e sim conseguir supera-lo através da força de vontade, que dá poder ao anel.
O roteiro somente peca na resolução apressada nas últimas edições desse primeiro arco. O próprio conflito interno de Jessica é resolvido de uma hora para a outra, com ela superando seu ataque de pânico de forma repentina. Esperamos que essa questão volte a ser tratada nas próximas edições, caso contrário será um verdadeiro desserviço à personagem e seu problema.
No ramo da arte as coisas, infelizmente, não seguem de forma tão sólida, especialmente na terceira edição, que é uma verdadeira bagunça, com um traço que parece ter sido feito nas coxas, sem o menor refino, completamente distorcendo os personagens a tal ponto que, quando riem, parecem ter saído direto de um filme de terror. Sem falar nas mãos que são uma tragédia à parte. Felizmente, isso é resolvido conforme avançamos para os números posteriores, com a mudança do artista responsável. O trabalho de cores, como apontado por Luiz Santiago em sua crítica, é instável, ora exagera na escuridão, que simplesmente não combina com as publicações do lanterna, ora nos traz cores vibrantes, que condizem com a mitologia desses heróis.
No fim, o primeiro arco de Lanternas Verdes termina no saldo positivo. Alguns deslizes ocorrem aqui e ali, mas nada que nos impeça de aproveitar essa história inicial de Jessica Cruz e Simon Baz após o Renascimento. Deixando grandes ganchos para os próximos arcos, terminamos a leitura ansiosos por ver o que vem pela frente e como esses dois personagens serão trabalhados a partir desse ponto.
Lanternas Verdes #1 a 6 (Green Lanterns #1 – 6) — EUA, 2016
Roteiro: Sam Humphries
Arte: Jack Herbert, Neil Edwards, Tom Derenick, Robson Rocha, Ed Benes, Ethan Van Sciver
Cores: Blond
Letras: Dave Sharpe
Capas: Ethan Van Sciver
Editora original: DC Comics
Data original de publicação: agosto a novembro de 2016
Editora no Brasil: ainda não publicado
Páginas: 168