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Crítica | Lara Croft: Tomb Raider (2001)

por Luiz Santiago
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Criado pela Core Design em 1996, o jogo Tomb Raider, que tem a arqueóloga Lara Croft como protagonista, transformou-se rapidamente em um dos maiores ícones da indústria, dando cria a outros jogos, a quadrinhos e a filmes. Dez anos depois de sua estreia, o Guiness Book reconheceu a protagonista do jogo como a personagem feminina mais bem-sucedida de sua mídia. Não é pouco para uma personagem que nasceu como um contraponto mais charmoso, moralmente mais complexo e controverso, dentre alguns meios, por causa das roupas e do apelo sexual para fins de marketing, de Indiana Jones. Uma personagem vinda em um Universo cultural onde caçadores de tesouros vestidos de arqueólogos/exploradores dotados de múltiplas habilidades já não eram uma novidade nos cinemas (o já citado Indiana Jones, mas existem outros exemplos) nem nos quadrinhos (Martin Mystère, mas existem outros exemplos), conquistou merecidamente o seu espaço e caiu nas graças do público.

A produção do longa-metragem Lara Croft: Tomb Raider foi a coroação definitiva para a franquia, tendo a Paramount Pictures como cabeça da produção, em parceria com estúdios do Reino Unido, Japão e Alemanha, em uma trajetória de preparação que durou de 1998 até a chegada do longa aos cinemas americanos, em 11 de junho de 2001. Nesse trajeto, a produção precisou acalmar o tribunal de juízes-samambaias que criaram controvérsias para tudo envolvendo a contratada Angelina Jolie para viver o papel de Lara Croft: ela não tinha o físico apropriado, ela era uma americana interpretando uma personagem originalmente britânica, ela tinha tatuagens (!) e mais algumas outras coisas a respeito da vida pessoal da atriz que, aparentemente, a tornavam incompatível para o papel. Simon West (de Assassino a Preço Fixo e Os Mercenários 2), diretor escalado para guiar a película, saiu em defesa da atriz desde os primeiros alardes midiáticos, que aos poucos se dissiparam, como de praxe.

Nesta versão escrita por Patrick Massett e John Zinman (roteiro primário), temos Lara contra os Illuminati, que estão em busca do Triângulo de Luz, uma relíquia lendária com o poder de alterar o tempo e o espaço. O longa começa e termina com uma sequência de luta de Lara Croft em um treinamento ameaçador, com um robô construído por seu inventor-mecânico-pessoa-de-tecnologia Bryce (Noah Taylor, em um papel simpático, mas completamente inútil do meio para o final do filme). E como estamos falando de algo que mistura ciência e misticismo, é claro que deveria ter um ponto natural de marcação do tempo — sempre regressivo — par ao clímax da ação principal. E aqui, este ponto natural é o alinhamento dos planetas seguido de um eclipse solar. Em torno deste evento e da possibilidade de ativar o Triângulo de Luz é que o roteiro avança sem muito critério, à parte o destaque de curiosas performances de pancadaria sob uma trilha sonora parcialmente desconexa de seu meio, e não no bom sentido.

Basicamente, o filme funciona na frágil linha de perseguição de um objeto lendário e pela tentativa de alcançar poder através do controle do tempo. Porém, o enredo jamais aborda isso de maneira formal, explorando as possibilidades desta ação. Toda a percepção temporal que poderia elevar o texto a um outro patamar é tratada de maneira didática e irritantemente rasa, tendo apenas dois únicos momentos onde duplas de diálogos mostram como a coisa poderia ser diferente: o momento em que Lara entra em sua própria “teia do tempo” e o momento em que o destino de Alex West, personagem de Daniel Craig, é modificado. Tampouco temos um real desenvolvimento de personagens, nem mesmo uma exploração dramática maior da própria Lara Croft, que se destaca com louvor nas cenas de ação — mesmo com efeitos especiais e visuais vergonhosos à sua volta — mas não vai nem um pouco além disso.

É risível que toda vez que tenta dar uma coloração diferente à heroína, o roteiro caia na questão paterna, em seu dilema de salvar o pai e mudar o tempo; em sua dor da perda jamais superada. Parece até que os roteiristas quiseram aproveitar o fato de Angelina Jolie ser, de fato, filha de Jon Voight, que interpreta Lord Richard Croft, e por isso insistiu nessa seara para conseguir mais feels do espectador. O efeito acabou sendo o pior possível. Tudo bem que o apelo dramático disso é interessante, mas ele sozinho e repetidamente martelado em diálogos e ações satura o público e impede que o restante do texto cresça e exiba coisas melhores. Pelo menos não existem interpretações que fogem ao escopo esperado da obra. Nada é assim tão terrível (mesmo Iain Glen, com sua cara blasé insuportável) que destoe verdadeiramente do que o filme promete entregar.

De uma forma interessante, a despeito de um texto desconexo e de uma montagem que praticamente não acerta uma única passagem dramática de sequência A para sequência B (sendo a pior de todas elas, o corte atroz que vai de Lara sendo puxada pelos cães siberianos para um plano geral diante de sua casa… uma coisa horrenda, simplesmente horrenda), o filme consegue dar espaços individuais para cada um brincar um pouco em cena, o que acaba divertindo o espectador. Lara Croft: Tomb Raider é daqueles filmes para desligar o cérebro, rir dos absurdos da direção, de frases vergonhosas à guisa de piada (“agora eu preciso de uma ducha fria…“) e aproveitar a pancadaria de ares mitológicos revestido de “caça ao tesouro”. A famosa mediocridade absoluta que, se a gente deixar, entretém com gosto.

Lara Croft: Tomb Raider (EUA, Reino Unido, Japão, Alemanha, 2001)
Direção: Simon West
Roteiro: Patrick Massett, John Zinman, Simon West
Elenco: Angelina Jolie, Jon Voight, Iain Glen, Noah Taylor, Daniel Craig, Richard Johnson, Chris Barrie, Julian Rhind-Tutt, Leslie Phillips, Robert Phillips, Rachel Appleton, Henry Wyndham, David Cheung, David Tse, Ozzie Yue
Duração: 100 min.

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