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Crítica | Law & Order – 1X01: Prescription for Death

O nascimento do império televisivo de Dick Wolf.

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 20 originalmente, com a 21ª começando 12 anos depois do fim da 20ª.
Número de episódios: 456 (20 temporadas originais) + 1 da temporada recente até o dia de publicação da presente crítica.
Período de exibição: 13 de setembro de 1990 a 24 de maio de 2010 (20 temporadas originais) e 24 de fevereiro de 2022 (início da 21ª temporada).
Há continuação ou reboot?: Não, mas a série gerou uma grande quantidade de spin-offs, os mais famosos sendo Special Victims Unit e Criminal Intent, além de um telefilme.

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Dick Wolf começou sua carreira no audiovisual como criativo de campanhas publicitárias e escrevendo roteiros cinematográficos, o primeiro deles sendo produzido em 1978, seguido de outro em 1981, o que abriu caminho para que ele começasse a escrever roteiros para Hill Street Blues (ou Chumbo Grosso, como a série foi batizada por aqui) e, depois, para Miami Vice, não demorando a tornar-se produtor executivo da série estrelada por Don Johnson. Mas o prolífico escritor, apesar de ter tido um meteórico começo de carreira, só acertou na sorte grande quando, em 1988, propôs à NBC a série Law & Order, estruturada em cima da divisão quase que literalmente matemática de cada episódio entre investigação pela polícia e o processo judicial contra os acusados pela promotoria, com uma visão marcadamente positiva do Sistema Judiciário americano e com boa parte dos roteiros inspirados por casos reais.

Entre a produção do piloto original – Everybody’s Favorite Bagman – e o efetivo começo da transmissão da série na TV aberta dos EUA, foram-se dois anos, com o mencionado piloto sendo transformado no sexto episódio que fez parte de um pacote inicial de nove produzidos antes que o primeiro fosse ao ar. E foi assim que, em 13 de setembro de 1990, com Prescription for Death, uma das mais longevas séries policiais dos Estados Unidos marcou o início do império de Wolf na televisão, mantendo-se no ar por nada menos do que 20 temporadas (com mais uma, temporã, iniciada 12 anos depois) e gerando impressionantes seis spin-offs, com um deles, Special Victims Unit, ainda no ar e já com 23 temporadas(!!!), além de um telefilme.

Prescription for Death foi uma escolha estranha e até ousada da NBC para se tornar o efetivo piloto da série. Considerando que o canal tinha um cardápio de nove episódios já prontos para escolher e que não fazia diferença alguma qual usar em termos cronológicos, a eleição de um crime não violento envolvendo um médico respeitado de um hospital de Nova York, não é, intuitivamente, aquele que faria mais sentido para chamar a atenção do público médico por faltar os “fogos de artifício” de praxe. Mas, como a história das séries de TV sobejamente mostra, acabou que fez absolutamente todo o sentido.

No capítulo, vemos, em um tumultuado e até frustrante início, uma jovem chegar ao hospital e, no que parecem ser alguns segundos, morrer, para desespero de seu pai, que fora médico no Vietnã e que desconfia de negligência, procurando a polícia em seguida. Entram, então, os detetives Max Greevey e Mike Logan, o primeiro experiente e vivido por George Dzundza (que somente ficaria na série por uma temporada) e o segundo inexperiente vivido por Chris Noth (que permaneceria na série por cinco temporadas, retornando no telefilme), em uma estrutura que também seria o padrão da série, com ambos respondendo ao Capitão Donald Cragen, personagem de Dann Florek que estrelou a série até a terceira temporada). A investigação é rápida e eficiente, com uma sucessão de breves entrevistas com outros médicos e pessoas que gravitam ao redor do acusado, levantando de maneira muito rasa questões de xenofobia, já que um dos médicos é paquistanês, e também de relação abusiva no trabalho, considerando a pressão que a reputação do futuro culpado exerce sobre seus subordinados.

Quando o caso é então passado para a promotoria, que segue a mesma estrutura da delegacia, ou seja, um promotor sênior, Ben Stone (Michael Moriarty – quatro temporadas) e um promotor júnior, Paul Robinette (Richard Brooks – três temporadas) que respondem a um chefe, Adam Schiff (Steven Hill – 10 temporadas), temos a combinação de uma rápida (re)investigação que acha mais evidências de que um crime foi mesmo cometido com o mais rápido ainda julgamento no tribunal, com direito a todos os tropos de obras do gênero desde sempre. Apesar de não ser a primeira série que faz quase que uma troca completa de elenco no meio de cada episódio, o que realmente importa é que o roteiro, aqui, funciona sem falhas nesse aspecto, mesmo tendo que correr desbragadamente por seus 50 minutos para fazer tudo funcionar ao final, mas sem deixar de criar dúvidas e momentos de tensão ao longo da narrativa.

Prescription for Death curiosamente não é nem de longe o melhor episódio do pacote inicial de episódios de Law & Order, mas ele tem tudo aquilo que se tornaria parte da infraestrutura da série e de seus spin-offs e prende o espectador não pela curiosidade sobre o caso, sobre a vítima ou até mesmo sobre o criminoso, mas sim pela agilidade como empacota e oferta um conjunto de ideias palatáveis e bem concatenadas do início ao fim. Há uso generoso de conveniências narrativas, como quando os três policiais, conversando entre eles, mostram ter conexões pessoais e opostas com o caso que investigam e, também, de mini reviravoltas do tipo “ahá, agora te peguei” durante o julgamento, mas a grande verdade é que o roteiro faz isso tão bem e de maneira tão fluida, que não há como não deixar passar esses clichês razoavelmente pesados e marretados na história, se pensarmos bem.

E isso sem falar que esse pacote ofertado ao espectador conta com dois elementos que não mencionei antes, mas que, tenho para mim, foram importantíssimos para o sucesso da série: a cativante música-tema composta por Mike Post – e que ganharia versões alternativas para as séries seguintes – e, talvez mais ainda, algo que, hoje em dia, faz parte da cultura popular, ou seja, o som estilizado do malhete que cria a estrutura de capítulos dentro dos episódios. Aquele “DUN-DUN” é uma criação simples (em retrospecto, claro), mas absolutamente brilhante que anuncia sonoramente a série diversas vezes ao longo de sua minutagem, criando quase que um condicionamento pavloviano quando o som é ouvido. Em outras palavras, Dick Wolf criou o equivalente televisivo a uma droga viciante.

Law & Order – 1X01: Prescription for Death (EUA, 13 de setembro de 1990)
Criação e desenvolvimento:
Dick Wolf
Direção: John P. Whitesell II
Roteiro: Ed Zuckerman (baseado em história de David Black)
Elenco: George Dzundza, Chris Noth, Dann Florek, Michael Moriarty, Richard Brooks, Steven Hill, Paul Sparer, John Spencer, Ron Rifkin, Erick Avari
Duração: 50 min.

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