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Crítica | Legado Explosivo

por Fernando JG
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Ainda que não impressione em nada, exceto pelo fato de ser aquela ação água com açúcar anual, Legado Explosivo (2020), de Mark Williams, promete, pelo menos, um roteiro direto e uma sequência lógica de causa-consequência razoável, mesmo que siga à risca a fórmula ação/thriller para o mercado norte-americano, interessadíssimo em vender um produto fácil e comercial. Longe de querer ser grande, e sabendo que é um filme absolutamente mediano, o roteiro do longa fecha no que se propõe e não vai além do esperado. Apesar da produção jogar o filme em um lugar-comum, a atuação do sempre bom Liam Neeson é muito bem-vinda, já que ele só faz um tipo de papel no cinema, e esse protagonismo deveria, senão, pertencer a ele. 

Liam Neeson dá corpo a um bandido de alto escalão, um criminoso de ponta fina, que nunca conseguiu ser pego em anos de carreira mafiosa, roubando fortunas e fortunas. Aposentado, e agora com 9 milhões de dólares em conta, Tom Carter se apaixona por Annie (Kate Walsh) e decide renunciar à sua vida secreta e iniciar um novo momento. Propondo um acordo de que se entregaria junto dos 9 milhões roubados em troca de uma sentença reduzida, em nome de passar menos tempo na cadeia e poder sair o mais rápido possível para se casar com Annie, o seu grande amor, Tom acaba entrando em uma armadilha planejada por dois agentes corruptos do FBI, John Nivens (Jai Courtney) e Agent Meyers (Jeffrey Donovan), que tentam, maliciosamente, matá-lo e roubar a fortuna, dando sumiço ao corpo. 

Apesar da trapaça e da tentativa de ser passado para trás, Tom Carter se vê novamente no meio da encruzilhada, tendo de eliminar quem o quer morto. O que não esperavam, os agentes corruptos, é que estavam frente a frente com um bandido muito mais sorrateiro que eles. Logo se inicia uma perseguição do estilo clássico gato e rato, em que os papéis se invertem para nós: enquanto Tom Carter se torna herói – um herói problemático, convenhamos -, os agentes tornam-se vilões, ainda que na narrativa Tom continue, até o final, sendo o bandido e portanto perseguido por isso.

No meio disso tudo, Carter, que estava aposentado da criminalidade, conhece Annie e ambos se apaixonam. Como ela ainda não sabe dessa vida dupla, ele planeja contar, mas no meio tempo tudo estoura e então ela descobre, como de surpresa. Agora ele precisa organizar a sua vida, mas tudo diz que as coisas vão ficar cada vez piores. 

Se na crítica de Ava (2020) eu tinha dito que o grande problema do filme foi a separação das subtramas dentro do longa, construindo duas mise-en-scène brutalmente distintas – dividindo, de modo amador, drama e ação, não sabendo entrecruzar os acontecimentos da vida de uma espiã de modo verdadeiro -, o contrário acontece em Legado Explosivo. O diretor acerta no cruzamento do drama pessoal com os perrengues profissionais de um bandido em busca de perdão social. As cenas de transição, inexistentes em Ava, servem muito bem na sua função de mudar de uma trama para a outra, como na cena do hospital em que ele a leva ferida mas encontra com os policiais na recepção, fazendo a ponte do drama para a ação de modo crível, sem forçar encontros impossíveis. As cenas de transição ocorrem, sobretudo, através da quebra de expectativa, que, no entanto, acontece exageradamente. Ao utilizar repetitivamente de uma técnica marcante como a quebra de expectativa, a direção tira totalmente a surpresa e a novidade destes momentos. Me parece que o uso excessivo da quebra é, na verdade, uma tentativa de segurar o enredo, que muitas vezes desliza. 

O drama é essencial para o funcionamento do filme e segura bem a narrativa, dando um sentido para toda a ação, já que tudo acontece porque ele decide se entregar por conta da paixão por Annie. Antes, ao que parece, ele nunca foi descoberto, por isso não há uma ação em cima do crime, pois Tom age sem ninguém saber, portanto, sem adrenalina fílmica. A história de um bandido arrependido, que renuncia a sua vida em nome do amor, e no meio de uma paixão desmedida algo acontece, fazendo com que eles possam se separar, é bem desenvolvida. O arco entre Annie e Tom é razoável e é o foco do filme. A ação acontece como subtrama do arco principal: que é a nova vida de Tom. 

A atuação de Liam Neeson é a base do filme. Se com ele já é bem mediano, sem ele, então, provavelmente seria totalmente esquecível, isso porque já o é. Ele é seguro e faz o que sempre soube fazer de maneira objetiva: um homem de mais de meia-idade em ação. Os plots que ele conduz são interessantes e entretém pela minutagem curta do filme, que prende pela velocidade dos acontecimentos, que também seguem uma fórmula fixa: peripécia seguida de fuga. 

Legado Explosivo é um filme na média. Não traz absolutamente nada de novo que possa causar algum interesse genuíno, e nem traz de menos. Uma ação cômoda, fácil e comum que vai te fazer terminá-la só pelos conflitos que se acumulam e você vai querer saber onde isso vai dar. Se você quer ação, explosivos, uma tensão razoável e atuações que segurem o filme, voilà!

Legado Explosivo (Honest Thief, EUA. 2020)
Diretor: Mark Williams
Roteiro: Mark Williams, Steve Allrich
Elenco: Liam Neeson, Kate Walsh, Jai Courtney, Jeffrey Donovan, Anthony Ramos, Robert Patrick, Jasmine Cephas Jones
Duração: 90min.

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