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Crítica | Legião Invencível

por Luiz Santiago
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estrelas 5,0

Da Trilogia da Cavalaria, Legião Invencível é o meu filme favorito. Dotado de uma esplêndida beleza estética e com um roteiro que faz a esperança e a pontual alegria permearem a tristeza pela perda de pessoas queridas e o desalento e experiência vindos com a velhice andarem de mãos dadas, o filme é tão poderoso que é capaz de tornar qualquer espectador um patriota americano, nem que seja por alguns minutos.

Visualmente baseado nos quadros do pintor Frederic Remington, Legião Invencível recebeu o Oscar de Melhor Fotografia em Cores, resultado do magnífico trabalho do fotógrafo Winton C. Hoch, que já havia trabalhado com John Ford em O Céu Mandou Alguém (1948) e foi especialmente escolhido para este filme devido a sua formação em química e seu trabalho de pesquisa em instrumentos ópticos (que já lhe rendera um Oscar técnico em 1940) e também por sua pesquisa de técnicas de impressão para os negativos em Technicolor. Assim, Ford pagaria em grande estilo uma dívida que dizia ter consigo meso: a de não ter logrado filmar Sangue de Heróis, o primeiro filme da trilogia, em cores.

A bem vinda saturação da paleta – quem não se deslumbra com aquela sequência do personagem de John Wayne regando plantas no túmulo da esposa sob o céu absurdamente avermelhado? – e sequências antológicas do cinema como a cavalgada do Sargento Tyree (Ben Johnson) fugindo dos índios ou a “Andalaria” sob o céu fechado e cortado por relâmpagos são verdadeiras pérolas para os olhos e algo que dificilmente sairá da memória do público. Além disso, esse uso deslumbrante da fotografia encontra no contexto do filme a constituição épica de um território selvagem capaz de endurecer homens e mulheres mas não de tirar-lhes a humanidade.

Em Legião Invencível temos as consequências da Batalha de Little Bighorn (1876) para a cavalaria americana, e o roteiro de Frank S. Nugent e Laurence Stallings traz à tona um elemento-base que deveria ter sido observado pelo General Custer antes de entregar gratuitamente à morte a vida de seus homens: a responsabilidade que tem qualquer indivíduo do Exército, especialmente os mais velhos. O texto acompanha a semana final da carreira do Capitão Nathan Cutting Brittles (personagem de um irretocável John Wayne), e é marcado por algumas tragédias, violência, perdas, memória afetiva e realizações notáveis, uma espécie de valor a toda prova de um velho soldado cansado de guerra.

Essa jornada final é acompanhada por uma realidade onde o romance, o humor e as “cenas familiares” têm lugar cativo, mas não destoam e nem anulam a atmosfera nostálgica e um pouco amargurada da fita. É certo que em um momento ou outro o texto cambaleia, mas trata-se apenas de um detalhe que, dada a grandiosidade de todo o resto, não consegue diminuir a película em nada.

Legião Invencível é uma crônica emotiva. Ele mostra a maturidade de um homem, faz o cruzamento de diferentes períodos históricos (os búfalos que voltam, as conversas sobre guerras do passado) e coloca-se distante das bravatas ousadas vistas em No Tempo das Diligências, Paixão dos Fortes ou Sangue de Heróis. O cavaleiro aqui evita a guerra, não a procura. A segurança das mulheres, crianças e outros soldados é o elemento principal e a culpa de passar o comando para os mais jovens é tanto a indicação de uma responsabilidade adquirida quanto o receio de que os outros acabem ficando exatamente iguais a esses “velhos soldados”.

Ao som de uma partitura poderosa composta por Richard Hageman (Caravana de Bravos, 1950) e uma confortável, madura e admirável direção de John Ford (que curiosamente acabou o filme mais cedo do que previsto no calendário inicial e economizou nada menos de 300 mil dólares do orçamento), Legião Invencível é um capítulo memorável da Trilogia da Cavalaria, um hino sobre a velhice, sobre a maturidade de um homem e a forma como ele consegue fazer de seu nome um exemplo não mítico mas real de uma vida dedicada com amor, suor e sangue a uma causa em que ele realmente acreditava.

Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon) – EUA, 1949
Direção:
John Ford
Roteiro: Frank S. Nugent, Laurence Stallings (baseado nos contos The Big Hunt e War Party, de James Warner Bellah).
Elenco: John Wayne, Joanne Dru, John Agar, Ben Johnson, Harry Carey Jr., Victor McLaglen, Mildred Natwick, George O’Brien, Arthur Shields, Michael Dugan, Chief John Big Tree
Duração: 103 min.

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