- Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.
Com o subtítulo Peças do Passado, LEGO Star Wars: Reconstruindo a Galáxia retorna para uma segunda temporada em que nossos heróis precisam lidar com o retorno de Solitus (Dan Stevens), o mestre Jedi que treinara Jedi Bob (Bobby Moynihan), digo Mestre Afol, e que fora exilado por Bob no Domínio da Força, um espaço extradimensional que é para onde as peças sobreviventes de universos destruídos vão, em uma invenção bem bolada do roteiro que tenta capturar no audiovisual aquela sensação estranha pela qual todo mundo que já desmontou um conjunto de LEGO e o guardou em algum lugar já passou. Nesse segundo capítulo da saga que reconstruiu o Universo Star Wars que conhecemos em uma versão alternativa inspirada na infelizmente pouco lembrada (e ótima) série em quadrinhos Star Wars: Infinities, publicada pela Dark Horse Comics, Sig (Gaten Matarazzo) e Dev Greebling (Tony Revolori) são manipulados por Solitus de forma que seus poderes antitéticos abram um portal para o Domínio da Força, permitindo-o retornar para destruir completamente o universo.
Claro que, como sempre, a premissa e seu desenvolvimento são meras desculpas para um desfile de referências a tudo relacionado com a galáxia muito, muito distante, com uma boa dose de merchandising da LEGO, claro, inclusive e especialmente da nova e polêmica versão da Estrela da Morte (aqui batizada pelos Sith de Bola de Batalha) que eles lançaram e que custa nada menos do que mil dólares e é, na verdade, uma “fatia” da famosa estação bélica espacial. Apesar de o foco permanecer em Sig e Dev em eterna oposição, e em Jedi Bob e Solitus, todos os personagens que vimos na primeira temporada também retornam, com direito a mais alguns “novos” como o coelho verde Jaxxon (Ben Schwartz), retirado dos quadrinhos da Marvel Comics da década de 70 (sim, eu quero Jaxxon em LEGO para ontem!), o Chewbacca gigante em LEGO, a Ahsoka Tano cabeçuda da linha BrickHeadz (Ashley Eckstein), o hilário Landolorian (Billy Dee Williams) com o Baby Yoda, além de, claro, novas naves, em especial um Snow Speeder transformado por Sig e Dev em um Hot Rod batizado de Queimador de Força que vem para ficar ao lado da Dark Falcon como objeto de desejo dos colecionadores.
Como em termos de efetiva construção de universo não há mais muita novidade, pois todas as maiores “inversões” de personagens já haviam sido colocadas em prática, muito do que vemos é uma tentativa de caminhar um pouco mais para a frente em relação a alguns deles, especialmente a Família Skywalker que é reunida à Padmé Amidala (Catherine Taber), aqui uma Rainha Pirata de Naboo e inexplicável e hilariamente bem mais nova do que a versão “velha” de seu filho Luke Skywalker (Mark Hamill reprisando o papel) que fora apresentada na primeira temporada. A grande verdade é que todos, menos os quatro personagens centrais, não passam de coadjuvantes, por vezes figurantes, com o conflito entre Sig e Dev não passando de uma repetição do que já havíamos visto, mas com menos complexidade. A chegada de Solitus, que representa um inimigo à la Imperador Palpatine, funciona bem até certo ponto, quando seu plano começa a ficar repetitivo e um tanto quanto genérico somente para permitir o dilúvio de referências ao Universo Star Wars e aos brinquedos da fabricante dinamarquesa.
O que separa Reconstruindo a Galáxia de outras animação da LEGO nesse universo é que o grau de acidez em cima dos problemas da franquia é elevado, algo que continua nessa temporada, em que personagens insuportáveis como Jar Jar Binks (Ahmed Best) são reformulados por completo, o Mandalorian se transforma em um Landolorian bem autoconsciente da bobagem que é o Baby Yoda (mas que pilota a Razor Crest pelo menos e não aquela porcaria de “navinha” que deram para ele na série que conseguiram estragar), e outros que se tornaram sem sentido são usados de maneira inclemente como alvos de piada, como é o caso de Snoke, que se torna a “nova versão” do Poço de Sarlacc (sim, isso mesmo). É um grau de liberdade surpreendente que a produção tem nesse aspecto, vale dizer, algo que talvez só seja concedido porque o público alvo primário são as crianças que não conseguirão captar o veneno que é gotejado por todos os diálogos, mas que beneficia os adultos que não ficarem com vergonha de assistir “desenho de LEGO”.
A segunda temporada de Reconstruindo a Galáxia pode não ter o frescor da primeira, mas é uma jornada muito agradável de se acompanhar, seja o espectador criança ou adulto, especialmente porque o foco fica mesmo nos personagens exclusivos da série, deixando o restante como “brincadeiras” que povoam esse universo reinventado. Com um eficiente trabalho de computação gráfica que emula stop motion, a vontade que dá, ao final, é largar tudo e tirar a poeira dos bons e velhos conjuntos de LEGO guardados há muito tempo em algum lugar não muito distante que, agora, sabemos que tem o imponente nome Domínio da Força.
LEGO Star Wars: Reconstruindo a Galáxia – Peças do Passado (LEGO Star Wars: Rebuild the Galaxy – EUA, 19 de setembro de 2025)
Direção: Chris Buckley
Roteiro: Dan Hernandez, Benji Samit
Elenco: Gaten Matarazzo, Tony Revolori, Bobby Moynihan, Marsai Martin, Michael Cusack, Mark Hamill, Dan Stevens, Ashley Eckstein, Ben Schwartz, Naomi Ackie, Dee Bradley Baker, Ahmed Best, Anthony Daniels, Trevor Devall, Jake Green, Jennifer Hale, Phil LaMarr, Ross Marquand, Piotr Michael, Kevin Michael Richardson, Helen Sadler, Matt Sloan, Kelly Marie Tran, Billy Dee Williams, Sam Witwer, Matthew Wood, Shelby Young
Duração: 107 min. (quatro episódios)