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Crítica | Lenda Urbana 3: A Vingança de Mary

Sem conexão com a perspectiva slasher dos anteriores, terceiro filme segue caminhos sobrenaturais.

por Leonardo Campos
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Bloody Mary, também conhecida como Maria Sangrenta ou Bruxa do Espelho, é uma lenda urbana do folclore ocidental relacionada a um espírito que se manifesta no espelho quando seu nome é repetido diversas vezes. Sua origem remonta aos Estados Unidos no século XX, embora várias culturas tenham suas próprias versões dessa história, como a brasileira “Loira do Banheiro” e a japonesa Hanako-san. A lenda é frequentemente interpretada como uma alegoria do inconsciente coletivo, simbolizando o tabu da primeira menstruação na adolescência. De acordo com a narrativa, Mary foi assassinada em um crime passional entre o final do século XIX e o início do século XX, tendo seus olhos arrancados e o corpo abandonado diante de um espelho. Antes de sua morte, ela tentou deixar uma pista sobre seu assassino ao escrever um “T” no espelho, que era a marca do médico cirurgião responsável pelo crime. Se aqui temos em nosso folclore, o Curupira, Saci, a gangue dos palhaços e o homem do saco, no exterior, a lenda de Mary é uma das mais populares. Cientes do potencial desse tema, os realizadores que detinham os direitos da franquia Lenda Urbana, antes focada no slasher e em um assassino mascarado, em 2005, num lançamento direto para o mercado de vídeo, resolveram mudar os rumos das tramas e investir numa perspectiva sobrenatural, mesclada com monstruosidade humana.

Conforme a lenda, o nome de Bloody Mary deve ser pronunciado três vezes em frente a um espelho, apenas à noite, para que ela apareça. A manifestação é direcionada a indivíduos que têm alguma ligação com uma morte e mantêm esse fato em segredo. A lenda é acompanhada pela crença de que, ao encontrar o assassino, Mary arranca os olhos da pessoa em questão e grava o nome da vítima antes de tomar sua própria vida. Esse fenômeno associa-se a temas de culpa, segredo e justiça, refletindo o medo e a curiosidade que cercam lendas urbanas e histórias de terror em diversas culturas. Teria sido uma aposta corajosa e uma narrativa assustadora, como os filmes de Horror Oriental que pululavam na época, alguns bons, outros tenebrosos. Mas, infelizmente, o resultado por aqui é desastroso. Dirigido por Mary Lambert e roteirizado por Michael Dougherty e Dan Harris, Lenda Urbana 3: A Vingança de Mary tem uma trama que se desenrola durante uma noite de formatura, quando um trio de amigas recita um encantamento que inadvertidamente liberta um espírito maligno do passado.

O que se segue é um enredo repleto de consequências mortais, onde as garotas, após serem sequestradas por uma gangue da escola, veem suas vidas e destinos interligados a uma série de eventos horripilantes. O resgate das jovens rapidamente se transforma em uma sequência de punições sombrias para os agressores, que começam a morrer um a um, em uma reação em cadeia inspirada nas famosas lendas urbanas. Entretanto, fica a dúvida sobre se esses eventos trágicos são resultado de uma mera brincadeira de mau gosto levada ao extremo por estudantes ou se seriam, de fato, uma vingança implacável do espírito de Mary. O filme mescla elementos de terror e ironia, explorando temas como amizade, vingança e as consequências das ações, ao mesmo tempo em que convida o público a refletir sobre a linha tênue entre realidade e lenda. Apesar de tornar-se evidente uma tentativa de renovação com a troca de um psicopata de carne e osso por um fantasma homicida, Lenda Urbana 3: A Vingança de Mary falha em impressionar o público, mesmo que tenha agradado os produtores.

A narrativa gira em torno de Samantha, interpretada por Kate Mara, uma jovem que inadvertidamente ressuscita o espírito de Mary Sangrenta após um baile de formatura nos anos 60, onde a garota foi morta e teve seu corpo escondido em um baú na escola por três décadas. A história se complica quando Samantha e suas amigas se tornam presas em um moinho por um grupo de rapazes irritados por um artigo escrito contra atletas, que decide dar uma lição neles. Entretanto, a situação toma um rumo sombrio quando os rapazes começam a morrer de maneiras bizarras, cada uma delas, relacionada a uma lenda urbana, todas caricaturais e desprovidas de suspense ou tensão. O filme falha em criar um clima de medo, deixando o público sem uma conexão emocional com as mortes, além de não esclarecer o motivo da utilização das lendas urbanas como forma de vingança pelo espírito. Essa falta de fundamentação e o tom exagerado das cenas tornam a trama difícil de ser levada a sério, resultando em uma experiência que é considerada mais ridícula do que aterrorizante. Confesso que me diverti em algumas passagens e gosto da estrutura de Lenda Urbana, já achando Lenda Urbana 2 desnecessário, mesmo com sua proposta metalinguística interessante. Mas, o terceiro filme, caro leitor, passa de todos os limites.

Lenda Urbana 3: A Vingança de Mary (Urban Legend 3: Bloody Mary, Estados Unidos – 2005)
Direção: Mary Lambert
Roteiro: Michael Dougherty, Dan Harris
Elenco: Kate Mara, Robert Vito, Tina Lifford, Ed Marinaro, Michael Coe
Duração: 97 minutos

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