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Crítica | Leviatã: A História de Hellraiser

O processo de composição infernal dos cenobitas criados pelo imaginativo Clive Barker.

por Leonardo Campos
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Os documentários sobre bastidores de filmes têm se tornado uma importante forma de explorar e divulgar o intrincado mundo da produção cinematográfica. Esses filmes não apenas oferecem ao público uma visão rara das dinâmicas de criação, mas também descortinam os desafios que estão envolvidos na realização de uma obra cinematográfica. Ao apresentar processos criativos de maneira acessível e envolvente, estabelecem uma conexão mais profunda entre os cineastas e os espectadores. Um dos principais atrativos, em especial, para fãs de determinadas narrativas ou estudiosos da linguagem do cinema, é a possibilidade de ver mais detidamente o trabalho dos profissionais do cinema, desde diretores até técnicos de som e figurinistas. Produções assim permitem que os espectadores compreendam as complexidades que estão por trás de cada cena, transformando a experiência de assistir a um filme. Além de mostrar os obstáculos, os documentários sobre bastidores também revelam os momentos de criatividade e inovação. Nós espectadores podem testemunhar a elaboração de cenários, a criação de personagens por meio de maquetes e animações, tudo isso enquanto os cineastas discutem suas inspirações e objetivos. Estes pontos não apenas incrementam a apreciação do filme final, mas também ampliam o entendimento do público sobre o céu de possibilidades que existe no mundo da criação cinematográfica. É o que contemplamos ao longo de Leviatã: A História de Hellraiser, produção que será delineada mais adiante, após esta breve reflexão sobre a importância dos documentários de bastidores como recurso para perpetuação da memória do cinema.

De volta: outro aspecto significativo desses documentários é a humanização dos envolvidos na produção. Muitas vezes, os cineastas são vistos como figuras quase místicas, isto é, as suas ideias e habilidades parecem surgir do nada. Documentários como Leviatã: A História de Hellraiser ajudam a desmistificam essa imagem, mostrando os bastidores aparentemente caóticos, numa exposição que ajuda o público a reconhecer o trabalho em equipe e a colaboração necessários na indústria cinematográfica, tornando os cineastas e atores mais acessíveis e relacionáveis. Em linhas gerais, os documentários sobre os bastidores de filmes desempenham um papel fundamental na conexão entre cineastas e público, desvendando os processos criativos que moldam a produção cinematográfica. Ao proporcionar uma visão íntima dos desafios, das inovações e da colaboração artística, esses documentários não apenas ampliam a apreciação dos filmes, mas também inspiram futuros cineastas e amantes da sétima arte, bem como os mencionados estudiosos da linguagem do cinema.

No caso de Leviatã: A História de Hellraiser, temos um documentário fascinante que mergulha nos bastidores da criação de um dos clássicos do cinema de terror, Hellraiser: Renascido do Inferno, lançado em 1987. Apesar de um pouco longo para a quantidade de informações que apresenta, ficando um tanto prolixo nalgumas passagens, a narrativa reflete bem o processo de composição deste clássico do horror. Em um período em que o subgênero slasher era dominado por figuras icônicas como Jason Voorhees e Freddy Krueger, a obra de Clive Barker trouxe uma nova perspectiva ao terror, explorando temas metafísicos e a complexidade do comportamento humano. Com uma narrativa envolvente, o documentário revela como a visão única de Barker ajudou a moldar Hellraiser, transformando-o em um filme que foi além do simples entretenimento e se tornou uma reflexão profunda sobre amor, luxúria e obsessão, características que compõem a essência de sua narrativa. Destacando-se pela narração gutural de Oliver Smith, dirigida por K. John McDonagh e escrita por Gary Smart, a produção oferece uma visão rica e dinâmica das ideias que permeiam a criação do filme que alçou a carreira de Doug Bradley, o eterno intérprete de Pinhead, cenobita mais popular deste universo cinematográfico com atmosfera de pesadelo.

Uma das partes mais intrigantes do documentário é a conversa com o ator que interpreta a icônica figura de Pinhead. Ele revela sua surpresa ao se tornar um ícone, algo que, até então, não estava em seu horizonte como ator. Os entrevistados analisam como o mundo apresentado no primeiro filme é metafísico e como a sequência se expande, introduzindo momentos de violência que carregam metáforas profundas sobre a condição humana. Uma das chaves para o sucesso de Hellraiser, como discutido no documentário, está na combinação de horrores visíveis com reflexões humanas, uma junção rara no cinema de terror. Os realizadores argumentam que a profundidade emocional e os conflitos retratados nas histórias são o que realmente ressoam com o público, transformando a franquia em um clássico duradouro. No centro de toda essa discussão está Clive Barker, cuja genialidade criativa é reverenciada por todos os entrevistados. Doug Bradley descreve Barker como um professor de filosofia cujas palavras têm o poder de cativar e fascinar. Essa conexão intelectual e emocional entre o criador e sua obra se reflete na complexidade de Hellraiser, que é muito mais do que um simples filme de terror, mas uma narrativa dramática que aborda amor, perversão e obsessão, com referências a ícones religiosos que enriquecem a trama.

A atriz Clarie Higgs, que interpretou Julia, revela que sua decisão de participar do projeto se deu após conhecer a inteligência de Barker, apesar de sua resistência inicial ao gênero. Essa reflexão sobre o caráter inovador de Barker e a profundidade de sua obra são temas recorrentes ao longo do documentário, o que ajuda a destacar a importância de uma visão autoral em um gênero frequentemente subestimado. Outro ponto interessante é a abordagem sobre a estética de Hellraiser, construída por meio de um uso inteligente de efeitos práticos, uma característica que o documentário detalha de maneira clara. Embora muitos filmes contemporâneos utilizem CGI, Hellraiser optou por uma abordagem mais artesanal, incorporando tubos, sangue falso e barbantes que adicionam um toque visceral à narrativa. Este enfoque não só destacou a criatividade da equipe de produção, mas também contribuiu para a autenticidade da experiência cinematográfica. Curiosamente, Pinhead, o personagem mais reconhecível do filme, aparece por apenas 10 minutos, um fato que desafia a expectativa comum de que o sucesso de um filme de terror depende inteiramente de sua figura de antagonista. Além disso, a trilha sonora de Christopher Young, ainda desconhecido na época, é apontada como um elemento crucial que apimenta o clima do filme, proporcionando uma imersão que simultaneamente atrai e afasta o espectador, criando um espaço único que casa bem com a estética perturbadora do longa.

Diante do exposto, Leviatã: A História de Hellraiser não é apenas uma análise do impacto de um filme, mas uma celebração do poder da narrativa cinematográfica. O documentário nos leva a uma viagem através da mente criativa de Clive Barker e como sua visão ousada desafiou as normas do terror, transformando Hellraiser em um produto da arte que ainda ressoa nas conversas contemporâneas sobre o gênero. Através de entrevistas sinceras e imagens de arquivo hábeis, o documentário não só ilumina o processo de criação do filme, mas também contextualiza seu legado cultural, demonstrando que, por detrás do horror, há uma complexidade emocional que continua a nos fascinar. Como tal, Leviatã se torna uma obra essencial para qualquer aficionado por cinema, especialmente para aqueles que desejam entender a interseção entre terror, arte e a condição humana. O filme define não apenas o impacto de uma franquia, mas também os profundos temas que o conectam ao espectador, elevando o terror a um novo patamar de reflexão e análise. Poderia ser um pouco mais curto, mas ainda assim, vale muito a conferência não apenas por admiradores da franquia, mas por aqueles interessados em cinema.

Leviatã: A História de Hellraiser (Leviathan: The Story of Hellraiser) — Estados Unidos, 2015
Direção: Kevin McDonagh
Roteiro: Nicholas Helmsley, Gary Smart
Elenco: Doug Bradley, Gary Smart, Nicholas Helmsley, Kevin McDonagh, Andrew Robinson, Clare Higgins, Imogen Boorman
Duração: 89 min

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