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Crítica | Liga da Justiça América, Europa & Antártida: O Imperativo de Teasdale e Clube LJI

por Luiz Santiago
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Neste pequeno compilado, trago dois arcos que reúnem histórias de três diferentes divisões da Liga da Justiça — três dentre as muitas divisões que a equipe ganhou nos anos 90, boa parte delas com um pendor cômico muitíssimo forte, influência da “Liga Cômica” encabeçada por Keith Giffen e J.M. DeMatteis a partir de Um Novo Começo.

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O Imperativo de Teasdale

Liga América #31 e 32  +  Liga Europa #7 a 8

Este arco coloca em cena um crossover entre as duas frentes da Liga, em algum lugar da Europa Oriental, lutando contra vampiroszumbis (ou algo perto disso) criados a partir de uma arma biológica do Dr. Irwin Teasdale, para as empresas de Simon Stagg. Como é sempre o caso nessa versão das equipes, as coisas acontecem de maneira totalmente malucas, em roteiros que tentam (às vezes até demais — e isso não é uma coisa boa) fazer o leitor rir, explorando rixas entre heróis e criando explosões comportamentais que, em cenários menos risíveis, teriam um resultado bem mais positivo.

A questão, no entanto, é bastante curiosa, porque mesmo sendo exageradas e muitas vezes caóticas fora do propósito (uma coisa é você ter uma proposta cômica para uma equipe, outra é jogar todo tipo de bobagem para elas e achar que isso, narrativamente falando, vai funcionar 100%, o tempo inteiro), essas histórias terminam fazendo o leitor rir e de alguma maneira, se aproximar dos personagens, simpatizar com suas fraquezas e ver que, por trás de todos os poderes e ameaças grandiosas, uma leitura mais próxima, cotidiana e simples desses heróis, pode gerar algo imprevisivelmente bom. Neste bloco, passamos por diversas adequações, como a apresentação da Senhora Destino (Doctor Fate/Linda Strauss) e o início de uma [breve] paz na sede parisiense da Liga da Justiça Internacional, com os autores insistindo na falta de competência do Capitão Átomo em dirigir a equipe, o que me coloca sempre em posição conflitante: há momentos em que acho isso ótimo e outros em que vejo como algo enjoativo.

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Infelizmente, o roteiro parece bem mais fluído nas revistas da Liga América, e esse padrão também irá continuar no arco seguinte, Clube LJI. Mesmo com os heróis “renegados e malucos” morando na França, os autores não conseguiram acertar um tom sólido para uma narrativa própria, modelo percebido já na estreia do grupo em título solo, no arco Alguém Lá Em Cima nos Odeia, embora essa história, a despeito das pistas de que algo poderia se tornar muito disperso a médio prazo, seja bem legal. Quando os times dos EUA e da França se unem, o texto e a arte (e eu prefiro o trabalho de Adam Hughes na LJA ao de Bart Sears na LJE) ganham uma atmosfera épica que independente de qualquer coisa, nos captura. A questão é: quem gosta da Liga da Justiça e quem gosta da maior parte desses heróis se sentirá atraído pela presença de todos eles em um mesmo espaço, principalmente quando temos veteranos sisudos como Batman e Caçador de Marte sendo a “voz da razão” no meio de tantos piadistas como Besouro Azul, Gladiador Dourado, Homem Elástico e, em nível diferente e um pouco mais responsável, Metamorfo, Senhor Milagre e o Flash de Wally West. Claro que aqui também tem (infelizmente) alguém chamado Guy Gardner, sobre o qual, para manter minha paz de espírito, não vou comentar.

Para um enredo de base cômica como o desta fase, uma ameaça que faz pelo menos 6 referências textuais diretas a George Romero (e principalmente para A Noite dos Mortos-VivosDespertar dos Mortos) e com o tipo de ligação heroica escrachada fortemente cultivada pelos roteiristas, a presença de algo mais sério e cósmico como os Lordes da Ordem e do Caos + o Espectro não foi realmente algo que caiu como uma luva. É possível entender a intenção de um antagonista “fora da simplicidade”, como no caso deste Homem Cinza II, mas mesmo assim, o caminho grandioso que esta “invasão vampírica-zumbi” toma no decorrer da história é um tanto fora do eixo. Não tivesse outros aspectos para considerar, seria uma história extremamente medíocre.

The Teasdale Imperative + Club JLI
Justice League America Vol.1 #31 a 36 (EUA, outubro de 1989 a março de 1990)

Roteiro: Keith Giffen, J.M. DeMatteis
Arte: Adam Hughes, Tom Artis
Arte-final: Joe Rubinstein, Art Nichols, José Marzan Jr.
Cores: Gene D’Angelo
Letras: Albert DeGuzman, Bob Lappan
Capas: Adam Hughes, Joe Rubinstein
Editoria: Andrew Helfer, Kevin Dooley

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Clube LJI

Liga América #33 a 36  +  Liga Europa #9 a 12

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Aqui, diferente da saga anterior, não vemos um elemento de continuidade óbvia entre as edições, podendo o título “Clube da Liga da Justiça Internacional” ser interpretado tanto no sentido literal, referindo-se ao Hotel & Cassino homônimo fundado por Besouro Azul e Gladiador Dourado na ilha de Kooey Kooey Kooey; como na relação de “clube de heróis” que teremos nas duas embaixadas da Liga, com a chegada de novas pessoas e saída [temporária?] do Homem Animal, já que ele estava passando por coisas terríveis em sua vida pessoal naquele momento, como podemos ver em Deus Ex Machina, de Grant Morrison, trama que ocorria na mesma época.

Aqui, mesmo com alguns tropeços na representação do humor — nesse caso, não necessariamente das piadas, mas das situações forçadas — temos um resultado final bem mais interessante que o do outro arco. Primeiro, como era de se esperar, passamos por uma fase de consequências do Imperativo, com a Poderosa sendo hospitalizada e operada com assistência do Superman em Under the Skin (LJE #9). Do outro lado do Atlântico temos uma excelente adição à Liga, o Lanterna Verde de Bolovax Vik (Setor 674), Kilowog. As habilidades deste Lanterna e sua peculiaridade em relação aos costumes da Terra farão com que sua presença traga boas risadas, o que também acontece quando, na edição #36 de LJA, Gnort By Gnortwest (Intriga Internacional, de Alfred Hitchcock, alguém?), G’nort, o cachorro Lanterna de G’newt (Setor 68), volta a aparecer, depois de ter sido mandado “para um longo passeio” pelo espertinho do J’onn J’onzz. Esta edição, aliás, é uma das mais genuinamente engraçadas do arco, com o aparecimento do Esquiador Escarlate (Scarlet Skier) e Mr. Nebula, o Decorador de Mundos, uma paródia hilária do Surfista Prateado e Galactus.

O cerne do arco, para a Liga América, está nas edições #34 (Club JLI) e #35 (Lifeboat), quando um real Clube de Férias é aberto na ilha de Kooey Kooey Kooey, com um tipo de desastre anunciado que deixa o leitor rindo por antecipação, especialmente com a entrada de Major Disaster e Big Sir na parada. A resolução do conflito é boba, com todo o negócio inicial do vulcão, o deslocamento e a aparição do Aquaman, mas não é algo ruim. Em contrapartida, o Clube Europeu passa por coisas bem menos divertidas (para eles), mas o processo de reajustes de pessoal, entendimento entre “inimigos” e novos caminhos para o grupo se mantém ativo. Chega para a equipe a Raposa Escarlate (Crimson Fox) — além de William Messner-Loebs nos roteiros — e a primeira aparição do bebê mais horrível que eu já vi nos quadrinhos, Joseph Mason, filho do Metamorfo, que serve de “cola emotiva” para a equipe na edição #12 (Bringing Up Baby), trazendo uma excelente sequência de luta entre Rex e os Homens Metálicos (sem contar a enorme satisfação de ver o elemental quebrando a cara de Guy Gardner) e também um pouco de felicidade para essa Liga, com a resolução amigável do caso, momento fortalecido pela surpresa feita para o Dmitri, o Soviete Supremo. Um final merecidamente caloroso depois de uma sequência de páginas de humor amargo e depressivo para a Embaixada heroica na Europa.

The Teasdale Imperative + Club JLI
Justice League Europe Vol.1 #7 a 12 (outubro de 1989 a março de 1990)

Roteiro: Keith Giffen, J.M. DeMatteis, William Messner-Loebs
Arte: Bart Sears
Arte-final: Pablo Marcos, Bob Smith
Cores: Gene D’Angelo
Letras: Bob Lappan
Capas: Bart Sears, Joe Rubinstein, Art Nichols
Editoria: Andrew Helfer, Kevin Dooley
24 páginas (cada edição)

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What’s Black and White and Black and White and Black

Justice League America Vol.1 — Annual  #4

É claro que ia aparecer uma Liga mais estrambelhada do que a Europa e a América (cômica) juntas! É claro que isso ia acontecer! E se o leitor já experiente, que passou pelas edições do arco Clube LJI, pegou direitinho todos os sinais, com certeza já sabia que alguma coisa na humanização dos vilões Major Desastre (Paul Booker) e Graúdo (Dufus P. Ratchet) com certeza daria em uma história de redenção logo adiante. E esta história veio no Anual Quatro da revista Justice League America Vol.1, lançado em outubro de 1990. É importante lembrar que os membros daquela que seria chamada de Liga da Justiça Antártida (ou Antártica, se você é daqueles que… “ah, mas é etimologicamente mais correto!“) apareceram pela primeira vez como Liga da Injustiça, no arco Há Algo Muito Errado com o Besouro Azul!, e depois de alguns meses de molho, voltaram para esta brincadeira de Giffen e DeMatteis, reunindo, num mesmo grupo, além dos já citados Graúdo e Desastre, o Rei Relógio (William Tockman), Poderoso Bruce, Multi-Homem (Duncan Pramble), Mestre das Pistas (Arthur Brown), G’nort e o Esquiador Escarlate. Nem é preciso dizer que o cachorro-Lanterna foi uma forma de Max Lord se livrar dele na embaixada dos EUA, e o Esquiador foi um convite do doggy… Boa coisa não poderia sair disso, certo?   

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A edição é uma galhofa só, e com certeza só funciona se o leitor embarcar na brincadeira de corpo e alma. Aqui, porém, é mais fácil fazer isso do que nos arcos regulares, por um motivo óbvio: essa finitude da Liga-Estúpida, que aqui enfrenta pinguins mutantes que passaram por experimentos biológicos ilegais, contribui para um mergulho mais descompromissado do leitor, que tende a lidar melhor com as piadas, com as situações (algumas ainda permanecem muito forçadas, mas nada insuportável) e mesmo com a relação dos que deveriam ser os “heróis não estúpidos” com os indivíduos na base do Pólo Sul. O enfrentamento da ameaça dos pinguins acaba se saturando bem rápido e o final da história se torna estranhamente muito corrido, mas a brincadeira ainda tem o seu valor e, pelo menos dessa vez, é fácil de ser digerida. (3,5/5). 

Justice League America Vol.1 — Annual #4 (EUA, outubro de 1990)
Roteiro: Keith Giffen, J.M. DeMatteis
Arte: Mike McKone
Arte-final: Bob Smith
Cores: Gene D’Angelo
Letras: Bob Lappan
Capa: Kevin Maguire, Joe Rubinstein
Editoria: Kevin Dooley, Andrew Helfer
50 páginas

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