Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Liga da Justiça da América: Eléktron, Vixen, Ray e Nevasca (Renascimento)

Crítica | Liga da Justiça da América: Eléktron, Vixen, Ray e Nevasca (Renascimento)

por Luiz Santiago
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Chamadas de “Caminho para Liga da Justiça da América“, as one-shots contando as jornadas individuais dos heróis Eléktron, Vixen, Ray e Nevasca foram publicadas nos estados Unidos no início de 2017. Elas são necessárias para que o leitor entre de maneira orgânica no título da LJA Renascimento, com o arco Os Extremistas (não confundir com LJ Renascimento, cujo primeiro arco foi Máquinas da Extinção). O presente compilado aborda cada uma dessas quatro histórias individualmente, além de trazer a one-shot Piloto para o novo volume da LJA, onde esses heróis se encontram pela primeira vez.
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JLA Rebirth: The Atom

Ryan Choi é um jovem de Hong Kong que está chegando à Ivy University para iniciar os seus estudos em Física. Nesta one-shotSteve Orlando faz uma apresentação básica do personagem para o público, da sua chegada ao campus à despedida dos pais e os primeiros anos de curso, período no qual ele se aproxima de um dos professores mais conceituados da instituição, o senhor Ray Palmer.

Inicialmente não há muito coisa que prenda o leitor a esta história. Mesmo que Choi nos cause uma certa curiosidade e tenha um comportamento recluso, algo que já sabemos ser indicação para “grandes coisas” nos quadrinhos, o roteiro fica devendo um envolvimento maior de coisas interessantes na vida do personagem. Não é que falte elementos de caracterização. Para uma one-shot de 24 páginas temos até uma boa sequência de coisas nesse âmbito. O problema é que em pelo menos metade da trama o marasmo de Choi se torna também o marasmo do leitor e não porque o roteiro é bom a ponto de nos passar essa sensação através da diagramação ou da narrativa voltada para isso. Não. O problema é que o roteiro adota a mesma postura que retrata.

Na reta final da revista a coisa muda. Choi já sabe que Ray Palmer é o Eléktron e passa a ajudá-lo em algumas missões, testes e pesquisas científicas. Este ponto da trama é interessante porque coloca o estudante em um ponto onde precisa falar sobre si mesmo e logo em seguida — com um lapso de tempo de um ano — faz com que ele tenha uma grande responsabilidade em mãos. Ray “se perdeu” no Microverso. Há uma mensagem de alerta para Choi e o cinto do Eléktron (versão alternativa) para que o rapaz também o utilize e vista o manto enquanto seu professor está desaparecido. Utilizando dessa nova habilidade, Choi deverá não só lutar contra os vilões do Eléktron mas também ajudar a encontrar Ray Palmer. Como disse, a história não começa exatamente muito animada (embora não seja ruim), mas termina trazendo um bom nível de curiosidade para o leitor.

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JLA Rebirth: The Atom (EUA, 2017)
Roteiro: Steve Orlando
Arte: Andy MacDonald
Cores: John Rauch
Letras: Clayton Cowles
Capas: Ivan Reis, Joe Prado, Marcelo Maiolo
Editoria: Jessica Chen, Brian Cunningham, Amedeo Turturro
24 páginas

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JLA Rebirth: Vixen

Mari McCabe é uma badalada design de moda, modelo, estrela de reality show e ativista de causas animais e sociais. Vinda de uma infância traumática, tendo visto a mãe morrer e ouvido os tiros que matou seu pai (pelas mãos ou ordem do próprio tio, Mustapha Maksai), Mari tentou manter-se afastada por muito tempo do Tantu Totem que herdou de sua mãe e que o tio procurava, segundo ele, “para proteger o povo de Zambesi“.

Antes de seguirmos, penso que seja interessante fazer algumas observações sobre Zambesi, o país africano fictício onde Mari nasceu. Quando a heroína apareceu, as duas primeiras indicações de seu local de nascimento foram (óbvio) contrastantes. Diz-se que ela era de D’Mulla, depois de M’Changa (que na websérie Vixen virou uma província de Zambesi, o que de certa forma “conserta” o erro, pelo viés da “confusão no passado”) e então é estabelecido Zambesi como país fixo para a personagem. Existe um rio africano com esse nome, que nasce na Zâmbia, próximo à fronteira com a Angola e segue cortando os territórios de Namíbia, Botswana, Zimbábue e Moçambique, onde deságua no Oceano Índico em um grande delta. É certo que a inspiração para o nome do país de Vixen tenha vindo do rio, mas isto não torna clara a sua localização no continente africano, que é uma bagunça: fala-se que está no “Centro da África”; “às sombras do Monte Kilimanjaro” e “na costa de tráfico de escravos no Leste africano”. Sem contar que o totem da heroína reúne características do folclore Ashanti (sul de Gana) e do animismo Iorubá (notadamente da tradicional região do Império de Oyo — ou Oió — entre o atual sudoeste da Nigéria e sudeste de Benin).

Nesta one-shot, Mari se reencontra com sua cultura, usando o totem para rastrear a mãe desaparecida de uma garota. O texto de Steve Orlando e Jody Houser captura bem, apesar de brevemente, essa luta do passado traumático da personagem com os desafios do presente e seu afastamento da cultura e do contato com o campo da vida animal da Terra. Deve-se dar um gigantesco destaque à arte de Jamal Campbell, que faz um excelente trabalho na demonstração dos poderes de Vixen, tanto na textura da finalização para a presença dos animais em torno dela quanto na diagramação que utiliza nesses momentos, um grande destaque em relação a todo o restante da arte. A aplicação de cores, também a cargo do artista, segue o padrão de “filtro por cena”, o que ajuda bastante o leitor se conectar imediatamente com o que está acontecendo. Um ótimo modo de apresentar uma história e uma ligação entre poderes esquecidos diante de uma nova missão. Mesmo com alguns clichês, a trama funciona muito bem e gera um bom hype para um título solo da heroína.

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JLA Rebirth: Vixen (EUA, 2017)
Roteiro: Steve Orlando, Jody Houser
Arte: Jamal Campbell
Cores: Jamal Campbell
Letras: Clayton Cowles
Capas: Ivan Reis, Joe Prado, Marcelo Maiolo
Editoria: Andy Khouri, Jessica Chen, Brian Cunningham
24 páginas

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JLA Rebirth: The Ray

The Ray é um dos heróis obscuros da DC Comics que vem ganhando destaque nos últimos anos. Criado na Smash Comics Vol.1 #14 (setembro de 1940), Lanford “Happy” Terrill foi um dos personagens da antiga Quality Comics que passou para as mãos da DC, juntamente com o Homem-Borracha e o Falcão Negro. A reintrodução do personagem aconteceu na Era de Prata, na Terra-X, e ele — agora vivido por Ray Terrill — era um dos membros dos Combatentes da Liberdade. Nesta reintrodução do personagem ele é inicialmente uma criança mantida presa em casa porque é “alérgico a luz”. Chamado de “Night Boy” devido a um caso que aconteceu com seu melhor amigo, Ray é prisioneiro de um poder que assusta a ele, à mãe e como nenhum dos dois sabe exatamente o que irá acontecer se ele sair na rua e tiver contato com a luz, vivem prisioneiros da situação, com uma tensão que cresce a cada ano.

Salvo alguns pequenos problemas na passagem do tempo, o roteiro de Steve Orlando consegue fazer uma ótima relação com a sexualidade do personagem e o fato de ele precisar se esconder por conta de seus poderes. Além disso, há um excelente discurso de inclusão e aceitação de minorias que aparece na história como parte orgânica de algo que entendemos fazer parte da política em nossos tempos e isso é colocado em mais de um sentido na revista, partindo de um princípio de entendimento do personagem sobre si (seu corpo, seus desejos e o que ele pode fazer de bom para a sua cidade) chegando à sua integração com o mundo à volta. Um texto atual e muito bem escrito para funcionar pelo menos em duas camadas narrativas, o que é ótimo.

Assim como na história de Vixen, a arte aqui também nos traz um bom espetáculo. Com desenhos de Stephen Byrne e cores de Arif Prianto notamos uma boa relação entre o corpo físico, o corpo “com explosão de luz” e o corpo invisível de Ray. Infelizmente o roteiro não administra bem a primeira passagem de um estágio para outro, mas a arte representa cada estágio de maneira interessante e é possível apreciar a transformação. O fato de haver apenas as cores amarelo e preto na paleta de seu uniforme (o branco aparece só no Piloto de LJA) ajuda a criar um bom chamariz, mas os artistas não se escoram nessa suposta facilidade e integram bem as representações faciais e a integração do personagem com outras paletas. Majoritariamente bem escrita e bem ilustrada esta one-shot é um bom cartão de visita para um personagem interessante mas até bem pouco antes deste Renascimento, não tão popular. Uma boa oportunidade para novos leitores conhecê-lo e acompanhá-lo.

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JLA Rebirth: The Ray (EUA, 2017)
Roteiro: Steve Orlando
Arte: Stephen Byrne
Cores: Arif Prianto
Letras: Clayton Cowles
Capas: Ivan Reis, Joe Prado, Marcelo Maiolo
Editoria: Amedeo Turturro, Jessica Chen, Brian Cunningham
24 páginas

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JLA Rebirth: Killer Frost

Para quem conhece Nevasca apenas pela participação da personagem na série The Flash é quase certo que não tenha coisas muito positivas para falar a respeito dela, principalmente depois da segunda metade da 2ª Temporada, quando os roteiros começaram a descaraterizar Caitlin Snow sem dó nem piedade. Nos quadrinhos, porém, ela possuiu algumas ótimas representações a partir de algo que a referida série tratou como “cinema de lágrimas“, o conflito ético e moral que toma conta da personagem mais a sua atual caraterística física/biológica, com a necessidade de se alimentar da energia vital de quem a toca. Nessa história, que acontece depois dos eventos de Liga da Justiça vs. Esquadrão Suicida, temos Killer Frost passando por um pequeno inferno até que cheguem os papéis de sua liberação.

Amanda Waller não poderia ser mais odiosa do que é nessa edição. Por um lado podemos entender o que ela faz com Caitlin, colocando-a sob diversos testes de resistência para ver se sucumbe ou não à fome. Mas esse tipo de tratamento é questionável e é óbvio que nenhum herói da Liga que estivesse fazendo frente à recuperação ou adaptação de Nevasca seguiria pelo mesmo caminho. Ao longo da edição vemos que a manipuladora do gelo resiste a provocações baratas como as do Sr. Tóxico e evita machucar Insolação (Heatstroke/Joanne), chegando a defendê-la de um novo grupinho de bandidos, liderados por Sun.

Como a trama se passa em um momento onde Nevasca já provou o seu valor como alguém que pode se recuperar — ela não é jogada como heroína para o leitor, ainda bem… isso é algo que paulatinamente se torna uma realidade para ela, após a luta contra Eclipso –, seu tratamento nos incomoda bastante e é com um grande alívio que vemos o Batman aparecer no final para forçar Amanda Waller cumprir o combinado. O final da história não se organiza tão bem quanto o seu início e desenvolvimento, até porque, mesmo nesses bons blocos, não existe de fato muita coisa acontecendo. A história é focada em uma série de testes sem muito respaldo para além das explosões de raiva de Waller e as provações de Nevasca. Com certeza temos aqui uma adição excelente para a Liga. E é muito provável que esse lado esfomeado de energia da personagem venha à tona mais para frente. Até lá, é bom ver alguns conflitos internos dessa ordem ganharem espaço no roteiro e serem colocados em uma boa posição de destaque. A personagem merece.

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JLA Rebirth: Killer Frost (EUA, 2017)
Roteiro: Steve Orlando, Jody Houser
Arte: Mirka Andolfo
Cores: Stephen Byrne
Letras: Clayton Cowles
Capas: Ivan Reis, Joe Prado, Marcelo Maiolo
Editoria: Andy Khouri, Jessica Chen, Brian Cunningham
24 páginas

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JLA: Rebirth

E aqui é finalizada a linha de one-shots preparativas para a revista da Liga da Justiça da América na fase do Renascimento. O time é convocado por Batman após os eventos de Liga vs. Esquadrão. Ele justifica a formação desse grupo apenas com “humanos e não com deuses”, o que pode ser bastante estranho porque o Lobo não é humano e pelo fato de se regenerar de tudo (lembremos que ele teve a cabeça explodida no arco Liga vs. Esquadrão e voltou) claramente pode ser visto dentro — ou às margens — da categoria de “deuses”. Sem contar que Ray e Nevasca tem o corpo alterado geneticamente, problematizando então a ideia de que esta versão Liga é “apenas de humanos”. Eu realmente preferia que fosse assim. Mas tudo bem, a proposta é relativamente interessante, dá para conviver com isso.

O roteiro lembra um pouco a formação da Liga cômica em Um Novo Começo e já apresenta uma série de briguinhas não muito interessantes, com Lobo fazendo a vez de Guy Gardner. Não digo que o personagem é descaracterizado e que suas atitudes são “questionáveis” porque ELE É ASSIM, com esse nível de infâmia. Mas é por isso mesmo que não vejo como boa ideia a permanência fixa dele no grupo, nem que seja só nessa primeira formação. Não combina com a proposta e Batman usou do subterfúgio há muito sabido de que o Lobo mantém sua palavra, mesma armadilha que vemos o Maioral contornar em O Último Czarniano. Há uma série de coisas interessantes aqui, mas sendo a HQ de introdução geral e encontro entre os heróis, alguma coisa está faltando. Potencial o título tem, mas é inevitável ficar com receio, uma vez que o Piloto não passou de algo “ok”.

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JLA: Rebirth (EUA, 2017)
Roteiro: Steve Orlando
Arte: Ivan Reis
Arte-final: Joe Prado, Oclair Albert
Cores: Marcelo Maiolo
Letras: Clayton Cowles
Capas: Ivan Reis, Joe Prado, Marcelo Maiolo
Editoria: Brian Cunningham, Amedeo Turturro, Diego Lopez
24 páginas

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