Home QuadrinhosArco Crítica | Liga da Justiça da América #1 – 7: O Rastro do Tornado (2006)

Crítica | Liga da Justiça da América #1 – 7: O Rastro do Tornado (2006)

por Luiz Santiago
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Depois do estrondoso sucesso da saga Crise de Identidade (2004), Brad Meltzer foi cotado pelo Editor Executivo da DC Comics, Dan DiDio, para assumir o sempre arriscado projeto de reviver a Liga da Justiça da América, em uma versão moderna dos paladinos da Era de Prata. É importante lembrar que estamos em um momento após a finalização da LJA Vol.1 na edição #125 (o título iniciado por Grant Morrison em 1997) e que a editora vinha publicando pequenas séries com tramas e versões diferentes da Liga para acostumar o leitor. Dessas versões, as mais próximas da reformulação criada neste novo título foram a minissérie em três edições JLA-Z (2003 – 2004) e a série em doze edições Justice League Elite (2004 – 2005).

Jogando com a dispersão da Liga da Justiça anterior e com a “força natural” que sempre age para reuni-los, o autor começou o seu run em uma edição aparentemente despreocupada, apenas para quebrar o gelo, a revista #0 chamada Ontem, Hoje, Amanhã. Nela temos uma história fechada, que a rigor não é parte do arco O Rastro do Tornado (assim como a edição #7 do título, mas eu incluí ambas aqui porque fazem parte sim dos eventos ligados ao Tornado Vermelho e a formação da nova Liga) temos uma grande reunião de artistas e finalistas ilustrando o texto de Meltzer e fazendo um verdadeiro trabalho de memória para todas as fases do time, em seus bons e maus momentos em grupo e individualmente.

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Tornado Vermelho, é você? Está tão diferente! Nova dieta?

Quando começa de fato o arco do Tornado, na edição #1, temos o gancho simples da revista anterior, uma reunião entre grandes na Batcaverna. A Trindade está reunida com as fotos dos principais heróis da DC em atividade no momento e começam um longo processo de votação e justificativas sobre alguns deles poderem ou não fazer parte da nova formação. Em certa medida isso nos lembra um pouco a análise de currículos de heróis feita em Sonhos Americanos, até porque existe uma trama envolvendo robôs, androides e tecnologia de ponta + o uso de grande inteligência por parte de cientistas loucos embora a dominação aqui não seja a real preocupação de Ivo e isso é uma das melhores coisas do arco. A motivação do fantoche (e as várias relações vilanescas) são muito bem pensadas.

Como se sabe, o fator humano é uma das linhas de enredo mais caras a Brad Meltzer e é claro que ele faria do início de sua Era uma mescla de nostalgia, sentimentos à flor da pele e demonstração de amizade, fúria, fraqueza, persistência e um latente idealismo, embora isso seja apenas uma sugestão vinda pela própria formação da Liga, não mote do roteiro. Batman, Superman e Mulher-Maravilha não estão assumindo os riscos de um novo grupo apenas por prazer. Intimamente, eles precisam da equipe (especialmente Bruce) mas é o sonho de manter o mundo sob vigilância e protegido que os impulsiona a discutir este novo momento. O caminho para que isso aconteça, porém, é sacudido por um velho conhecido da Liga, agora agindo nas sombras, aproveitando-se dos desejos de alguns vilões.

A arte de Ed Benes funciona muitíssimo melhor com a finalização solo de Sandra Hope, que é acompanhada por Mariah e pelo próprio Ed Benes em algumas revistas. A versão de Hope, com a arte final de traços mais finos e aparência mais sóbria na aplicação de sombras combina muito mais com o embate proposto pelo texto, uma preparação para um novo time enquanto um de seus heróis escanteados tem o corpo metálico roubado, vira humano, passa por sentimentos diversos e depois volta à condição metálica, tendo que viver com a memória de tudo o que um dia teve e não pode mais ter. O final é uma mistura de desalento e sacrifício, assim como uma breve passagem pelos acordos de bastidores e até uma leve mudança na forma como esta Liga está selecionando os seus novos membros.

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O “novo QG” da Liga: a Sala da Justiça.

Aqui também temos a introdução da Sala da Justiça como Quartel General (ou quase isso) da Liga. O prédio foi criado na série Super Amigos, em 1973, e aqui tem um papel de museu e disfarce inteligentíssimo. Após a destruição da Torre de Vigilância e depois de um ano fora do radar, a Liga volta com o prédio financiado pelo Batman e projetado por Diana e John Stewart. Localizado em Washington, D.C., nas antigas bases de sede da Sociedade da Justiça da América e do All-Star Squadron, o local serve como museu e base de teleporte para o novo satélite do grupo, algo que o roteiro introduz de maneira simples e eficiente, arrancando um sorriso de cumplicidade do leitor e mostrando o quanto coisas muito boas podem ser alcançadas sem explosões e megalomanias em um roteiro.

Trazendo Starro e Amazo, alguns ótimos coadjuvantes e já preparando o terreno para o arco seguinte, Meltzer mais uma vez nos convida para olhar os heróis sob o ponto de vista do trivial, destacando o fato de serem velhos conhecidos e de terem errado algumas vezes (as lembranças da época em que Ricardito — que aqui vira Arqueiro Vermelho — foi viciado em heroína são excelentes, realmente apontando para a possibilidade de recuperação e mudança de alguém), mas nunca terem desistido de mudar. Depois de uma leve rusga no andamento logo no início, a história segue fluída e termina em alta, com a primeira versão da Liga da Justiça da América de 2006: Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde (Hal Jordan), Canário Negro, Arqueiro Vermelho, Mulher Gavião, Tornado Vermelho, Vixen e Raio Negro (Jefferson “Jeff” Pierce). Um time variado, quase improvável. A cara da primeira década do século XXI nos quadrinhos.

Liga da Justiça da América: O Rastro do Tornado (Justice League of America Vol.2 #1 a 7: The Tornado’s Path) — EUA, 2006
No Brasil: Liga da Justiça 1ª Série #59 a 65 (Editora Panini 2007 – 2008)
Roteiro: Brad Meltzer
Arte: Ed Benes
Arte-final: Sandra Hope (com Mariah Benes na edição #3 e 4 / com Ed Benes na edição #5 e 7)
Cores: Alex Sinclair
Letras: Rob Leigh
Capas: Ed Benes, Mariah Benes, Alex Sinclair, Peter Steigerwald
Editoria: Jeanine Schaefer, Eddie Berganza
250 páginas

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