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Crítica | Lilith – Vol. 7: A Senhora dos Jogos

Durante o reinado do Imperador Cômodo...

por Luiz Santiago
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De todas as histórias da série Lilith até o momento, esta é a que mais se ancora no conceito de ucronia trabalhado por Luca Enoch na saga. Vale lembrar que o autor tem utilizado a ucronia aqui como um sinônimo de História alternativa, e trago isso à tona porque nem sempre o termo recebe esse tratamento. Algumas interpretações e usos trazem o termo ucronia para eventos e espaços ocorridos em um mundo similar ao nosso, facilmente identificável por nós, ou até mesmo no nosso próprio mundo, mas em um tempo não necessariamente ou facilmente identificável, como é o caso da Era Hiboriana de Conan, só para citar um exemplo rápido. Em A Senhora dos Jogos, Luca Enoch leva Lilith para a Roma Antiga, mais precisamente para o final do ano 192, durante o reinado do imperador Cômodo.

A trama é interessantíssima. Escuro não está totalmente materializado e, pela primeira vez, o espinomorfo a ser retirado de um ser humano está completamente silencioso. Aliás, o momento da extração aqui é bastante curioso e diferente, porque Lilith vê o que deve matar, mas não sente a presença da “coisa”. Cada vez que avançamos um volume na série, notamos o quanto o autor consegue tornar as coisas difíceis para a viajante no tempo, e tanto no aspecto de interação social e jornada para cumprir a sua missão, quanto no encontro que ela tem com a pessoa que deverá matar, nada parece mais tão “simples” como foram nos primeiros episódios. Isso se deve ao fato de que Lilith passou a questionar a essência de sua missão e certos encontros que ela teve ao longo dessa caminhada fez com que visse a sua civilização de modo diferente.

Nesta sétima edição, o enredo traz, inclusive, uma exposição comportamental diferente para a protagonista, que parece muito ligada à humanidade desse período, fazendo com que seu nome seja aclamado pela arena e gostando da sensação que isso lhe traz. O elemento ucrônico gerado me faz ter muita curiosidade para o que o autor tem em vista para o fim da série, uma vez que Lilith altera a história de maneira absolutamente substancial neste volume. Em vez de ser assassinado no dia 31 de dezembro de 192, aos 31 anos de idade, Cômodo é salvo pela cronoagente, inicia o culto à deusa Lilith e volta a perseguir os cristãos. Isso com certeza terá um impacto no futuro da História da humanidade, e me pergunto o quanto essas mudanças interferirão no mundo de séculos adiante, de onde Lilith vem.

A adaptação pessoal da viajante neste novo espaço e toda a sua preparação para se tornar uma gladiadora me deixaram muito empolgado. Aliás, acho que esta é uma das histórias de mais caminhos de ação em toda a série até aqui, e a dificuldade para encontrar o contaminado torna as coisas mais interessantes num momento histórico como este, porque força a cronoagente a seguir trabalhando na arena e tentando conquistar os favores do imperador. O que derrubou a trama, para mim, foi o seu final. Para quem tem algum conhecimento histórico ou apenas após a leitura do textinho de apoio que temos logo em seguida, falando sobre as consequências do que Lilith fez aqui (ao menos as consequências imediatas, no contexto do Império Romano) o significado geral da obra será grandioso, terá um peso histórico grande. Mas como narrativa pura, o final é reticente. O desaparecimento de Lilith e a corrida de Cômodo para varrer os cristãos de Roma dá a entender que existe mais alguma coisa acontecendo, quando na verdade, o livro chegou ao fim. Não é que se trata de um final ruim, mas sim de um final que nos passa a sensação de incompletude. Isso não fecha bem a história, mas também não destrói o seu bom desenvolvimento.

Lilith – Vol. 7: A Senhora dos Jogos (La signora dei giochi) — Itália, novembro de 2011
Roteiro: Luca Enoch
Arte: Luca Enoch
Capa: Luca Enoch
Editora: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Red Dragon Publisher, 2021
130 páginas

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