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Crítica | Limiar (Threshold)

por Luiz Santiago
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Limiar é um curioso filme sobre… fazer filmes. Sua sinopse oficial já nos diz tudo o que precisamos saber a respeito de um cineasta armênio que anda por diversas cidades à procura locações para o seu próximo projeto. Na gênese desse filme em preparação, há o compromisso de busca “pelas raízes do país“, e a forma como essas andanças nos é mostrada dá ao longa uma aparência de documentário, aqui e ali amarrado a belas imagens de planos gerais pela diversa geografia daquele território. E também a momentos líricos e até fantasiosos, como uma interessante cena de um pesadelo, vista isoladamente.

Criar é um processo muito particular e cada artista possui um caminho, uma intenção e um método distinto, de modo que obras que se dispõem a explorar essa situação precisam de algo além da aleatória demonstração de imagens, seja através de uma montagem mais escrupulosa, intelectual, seja através de uma narrativa (mínima, que seja) para compor os trilhos daquilo que chamamos de “história do filme“. A dupla Rouzbeh Akhbari e Felix Kalmenson consegue percorrer apenas uma parte desse caminho, ou seja, entendemos a busca desse diretor, aludimos a uma boa quantidade de significados para os lugares escolhidos, mas após esses elementos identificados e dotados de significado em si, fica a pergunta: o que significam para o filme?

Fiquei pensando no quanto de liberdade esses cineastas tiveram e o quanto poderiam usar da ficção para engrandecer tudo aquilo que filmaram. Peguemos Tempo de Viagem (1983) apenas para fazer uma comparação de intenção. Assim como Limiar, Tempo de Viagem mostra os bastidores da criação de um filme (no caso, Nostalgia) e um dos elementos de maior força no documentário é justamente a busca pelas locações. Note que ali havia a limitação do gênero, algo que não temos aqui em Limiar. E ainda assim, os diretores tiveram problema em adicionar conteúdo à bela casca que criaram, entregando um exercício de intenção cinematográfica onde a forma basicamente não tem ao que se unificar.

Se por um lado a constante de planos abertos utilizados no decorrer do filme reforçam uma das propostas da obra — nós compreendemos que se trata de um filme de viagem, de deslocamento, de busca pela paisagem correta –, por outro, os diretores não conseguem seguir com a obra para adiante e tampouco lograram encadear esses momentos. Vejam como uma cena dentro do carro, uma cena de jantar e a própria inserção da cena exterior ao sonho são basicamente um remendo mal feito para indicar uma pausa desse diretor no decorrer de sua jornada. Sem ter ao que se aliar, essas imagens atravessam a intenção sensorial pretendida, enchem os nossos olhos e, no instante seguinte, parece que nunca existiram. É a verdadeira coroação da frase “uma bela perda de tempo“.

Limiar (Threshold) — Armênia, Turquia, Canadá, 2020
Direção: Rouzbeh Akhbari, Felix Kalmenson
Roteiro: Rouzbeh Akhbari, Felix Kalmenson
Elenco: Arsen Ohanjanyan, Levon Petrosyan, Metin Emlek, Garik Hovhannissyan, Armenuhi Burmanyan, Soma Hovhannissyan
Duração: 70 min.

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