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Crítica | Locke & Key – 3ª Temporada

Uma chave sem brilho.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas e, aqui, dos quadrinhos que deram base à série.

Showrunners que sabem quando e como encerrar suas séries merecem pontos extras em meu livrinho imaginário que lista tudo o que já assisti em minha vida. Pode até ser que Locke & Key tenha acabado na 3ª temporada porque o Netflix não quis negociar mais temporadas, mas não importa, pois o fato é que Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite abraçaram o fim e seguiram em frente com ele em um ano de encerramento com até menos episódios do que o padrão. Novamente, pontos por não ficar enrolando mais do que o estritamente necessário.

No entanto, esses pontos todos não curam os problemas da derradeira temporada da saga da família Locke e suas chaves mágicas, baseada em quadrinhos criados por Joe Hill e Gabriel Rodriguez. Na primeira temporada, apesar da pegada mais juvenil do que a abordagem das HQs, algo perfeitamente compreensível para universalizar a série, os showrunners souberam deslumbrar e criar mistérios que não foram se amontoando, sendo resolvidos ainda nesse começo. Já na segunda temporada, eles mostraram maturidade e entregaram uma aventura mágica mais organizada e dinâmica, privilegiando a conexão entre os irmãos Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode (Jackson Robert Scott), além de sua mãe Nina (Darby Stanchfield). Agora, na terceira, a história falha em capturar a imaginação, com o grande vilão, o Capitão Frederick Gideon (Kevin Durand), que vem diretamente do passado para tornar-se um demônio particularmente poderoso no presente, mas que demora a revelar-se como uma ameaça e, quando isso finalmente acontece, ele não é mais do que uma caricatura que resulta mais em comicidade do que em seriedade ou senso de urgência.

Contribui para o começo moroso a decisão de Tyler, no final da temporada passada, de não usar a Chave da Memória e esquecer o passado mágico ao completar 18 anos. Como é evidente que sua participação na dinâmica familiar é importante, todo o começo dele construindo casas em Montana, flertando com uma colega de trabalho e tendo flashes do passado parece exatamente aquilo que é: uma enrolação danada que só acaba quando o óbvio acontece, ou seja, ele tem suas memórias de volta e os irmãos passam a agir em conjunto contra as ameaças que contam não só com Gideon, como também com dois ecos de soldados deles e, por algo como um episódio e meio, a própria Dodge (Laysla De Oliveira) vinda de outra linha temporal, em uma jogada narrativa muito boa, talvez a melhor de toda a temporada, ainda que seja repetição do que já ocorrera, com Bode sendo “possuído” por outra alma.

Mas o maior problema da temporada não está em Tyler demorando a tornar-se “completo” ou em Gideon sendo um vilão recortado em cartolina, mas sim no uso de um artifício preguiçoso demais para frustrar os planos do vilão, que deseja reunir todas as chaves para, com isso, abrir um portal entre seu mundo demoníaco e a Terra, de forma que o primeiro possa englobar o segundo. Esse artifício é o de inventar que existe uma última chave até então completamente desconhecida e que está de posse inconsciente de Gordie Shaw (Michael Therriault), personagem que é apresentado somente nesta temporada como membro do grupo de teatro de Rendell (Bill Heck) e Ellie (Sherri Saum), com Ellie sendo a única conhecedora desse grande segredo. Tudo bem que ele ganha um episódio quase inteiro que se passa em sua mente e que traz algum desenvolvimento para ele, mas é frustrante que algo tão relevante e um personagem que acaba sendo tão importante – e que tinha potencial para contribuir para a série como um todo – somente apareça no final, em uma daquelas conveniências tiradas das cartolas dos showrunners como um último “ahá, surpresa” para os espectadores.

Pelo menos a dinâmica dos quatro membros da família Locke e a atenção dada a Duncan (Aaron Ashmore) e seu casamento com Brian (Milton Barnes) funcionam bem, assim como o final lógico para as aventuras, com todas as chaves tendo que ser jogadas no portão aberto por Gideon, de forma a fechá-lo, mas não sem antes todos usarem a chave de viagem no tempo para passarem alguns minutos com Rendell em um bonito momento de reunião da família tragicamente separada de seu patriarca. Se pelo menos Gideon tivesse sido um vilão menos pastelão e mais ameaçador como Dodge e Gabe (Griffin Gluck) foram antes, especialmente porque ele tinha todo o potencial para ser justamente isso, talvez a terceira temporada tivesse conseguido alcançar o nível da segunda e levar ao encerramento que a série realmente merecia.

Mas o que tivemos também não foi sequer mediano. O elenco principal mostrou-se azeitado nesse final, com o retorno ao problema do alcoolismo de Nina e os ciúmes de Bode por ela relacionar-se com outra pessoa, além da conexão complicada entre Kinsey e Tyler, com a primeira lidando com o dilema de cumprir ou não com o acordo com o segundo sobre a questão do destrancamento das memórias sobre magia. Em sua derradeira temporada, Locke & Key teve lampejos de qualidade em um conjunto narrativo mais burocrático e dependente demais de um vilão que não funciona e um segredo que cai de paraquedas na história. O bom é que, no final das contas, chegamos a um fim minimamente digno, o que é infinitamente melhor do que as séries que insistem em se manter vivas mesmo quando não têm absolutamente mais nada de novo para contar.

Locke & Key – 3ª Temporada (EUA – 10 de agosto de 2022)
Desenvolvimento: Carlton Cuse, Meredith Averill, Aron Eli Coleite (baseado em HQ de Joe Hill e Gabriel Rodriguez)
Direção: Guy Ferland, Ed Ornelas, Marisol Adler, Jeremy Webb
Roteiro: Liz Phang, Michael D. Fuller, Vanessa Rojas, Mackenzie Dohr, Meredith Averill, Jordan Riggs, Carlton Cuse, Joe Hill
Elenco: Darby Stanchfield, Connor Jessup, Emilia Jones, Jackson Robert Scott, Brendan Hines, Kevin Durand, Sherri Saum, Coby Bird, Bill Heck, Laysla De Oliveira, Petrice Jones, Griffin Gluck, Aaron Ashmore, Thomas Mitchell Barnet, Genevieve Kang, Liyou Abere, Ian Lake, Jeff Lillico, Michael Therriault, Milton Barnes
Duração: 325 min. (oito episódios)

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