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Crítica | Loki – 1X06: For All Time. Always.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Se Loki fosse uma minissérie, eu teria sérios problemas com a introdução de um vilão que basicamente cai de paraquedas na história. Mas, como ela agora é uma série, conforme o carimbo ao final informa e como a internet inteira avisou mesmo antes de o episódio ir ao ar, a coisa melhora significativamente, pois o que o showrunner faz é o típico de outras séries de TV: introduz um baita de um cliffhanger para nos deixar desesperados pelo que vem por aí.

Mesmo assim, a presença de um vilão exógeno à trama – descontando-se as conexões com os quadrinhos, que já desenhavam isso, já que série é série, HQs são HQs, até porque uma mínima parcela de quem assiste o Universo Cinematográfico Marvel lê quadrinhos, tenho a mais absoluta certeza certeza – não é algo que me agrada ou que seja o melhor artifício narrativo para se encerrar uma ótima série. Para introduzir um vilão novo que potencialmente será o grande vilão do futuro imediato do UCM, ok, a coisa funciona e até meio que chega como um alívio aos fãs criadores de teoria, depois que WandaVision inteligentemente os frustrou completamente. No entanto, se pensarmos assim, com base em usos futuros de um personagem, estaremos simplesmente avaliando algo com base em previsões de bola de cristal e isso não é lá muito bacana.

Mas, mediunidades à parte, a grande revelação de que o morador da Cidadela no Fim dos Tempos é ninguém menos do que Kang – ou uma versão dele, claro -, algo que, convenhamos, só realmente faz sentido em sua plenitude para quem conhece os quadrinhos com alguma profundidade, caso contrário ele é só mesmo Aquele Que Permanece, o grande marionetista da coisa toda, é, por si só, decepcionante. Deixe-me reiterar: por si só. O que quero dizer com isso é que continuo achando que teria sido muito mais intrigante se ele tivesse permanecido nas sombras, nem que fosse deixando a Senhorita Minutos como a vilã para todos os efeitos práticos, o que teria sido hilário.

A grande diferença, aqui, que é também a grande jogada de Michael Waldron e da Marvel Studios, foi a mais do que acertada escalação de Jonathan Majors para o papel e, mais ainda, permitindo ao ator, mais conhecido por seu papel de Atticus Freeman, em Lovecraft Country, criar um personagem com características próprias que, mesmo usando quase 20 minutos de diálogo expositivo e que se presta a explicar a mesma coisa que já sabíamos, só que agora com “estatuetas” e dando nome aos bois na Guerra Multiversal, consegue constantemente prender a atenção do espectador. Cada segundo da presença de Majors em tela, mesmo contracenando com Tom Hiddleston e Sophia Di Martino, é um show solo dele na composição de um vilão(?) que é parte figura trágica, parte cientista maluco, parte comediante e parte insanidade pura. E Kate Herron tem plena consciência disso, pois ela mantém a câmera essencialmente mirada no ator, quase como se ela estivesse filmando um solilóquio particularmente longo falado por Laurence Olivier, em Hamlet.

Exagero meu, sem dúvida, na comparação com Olivier, mas meu ponto é que, não fosse esse Kang específico de Majors – em oposição a um Kang sisudo e “conquistador”, por exemplo, algo que tenho certeza que ele, a certa altura, terá chance de interpretar – o episódio seria potencialmente cansativo e completamente redundante. Ver Majors em tela, portanto, foi a bela e muito bem-vinda tábua de salvação de For All Time. Always., levando a um digno, mas não exatamente glorioso, encerramento da 1ª temporada de Loki.

Tudo o que está ao redor de Majors, portanto, é firula para reconstruir o multiverso e escancarar de vez as comportas das infinitas possibilidades e dar pano para a manga dos próximos vários anos do UCM. E, dentro do conceito de firula, inclementemente incluo a luta entre Lokis, contando com a traição de Loki por Sylvie, a tentativa de um diálogo filosófico entre Mobius e Renslayer que leva ao desaparecimento da segunda para lugar incerto e não sabido, a forma como B-15 encontra para revelar a seus colegas toda a farsa da TVA (que, sabemos, é apenas relativa) e a chegada de Loki a uma TVA aparentemente de outra linha temporal, com Mobius e B-15 não fazendo ideia sobre quem ele é e com uma estátua imponente de Kang na versão mais próxima da clássica dos quadrinhos no lugar das dos Guardiões do Tempo. Não é firula, porém, a direção de arte do castelo de Kang, que, por alguns milissegundos de devaneio, pensei que fosse o castelo do Doutor Destino, na Latvéria. São belíssimos cenários práticos e em CGI que vão desde o imponente portão até os detalhes da mesa de Kang, em um contraste absoluto em relação ao sensacional interior de repartição pública setentista da agência que ele criou. A fotografia poderia ser um pouco menos escura, mas tudo bem, não se pode ter tudo.

For All Time. Always., portanto, é um bom encerramento para a 1ª temporada das aventuras de Loki pelo multiverso, servindo de introdução ao que parece ser o próximo grande vilão do UCM, ao mesmo tempo que é um encerramento ordinário para o que poderia ser uma obra verdadeiramente ousada, que parecia ser capaz de trilhar o caminho menos usual, menos corriqueiro. Pelo menos teremos mais de Tom Hiddleston e, provavelmente, de todo o ótimo elenco, em futuro próximo, o que sem dúvida é uma ótima notícia, mas que não será tão boa se o Lokaré não der as caras novamente e se em algum momento Mobius não tiver chance de passear de Jet Ski…

P.s.: Podem reclamar o que quiserem da Marvel Studios, mas não dá para não elogiar a capacidade de planejamento de longo prazo de Kevin Feige e companhia, pois What If… ser a próxima série da Fase 4 do UCM, considerando a “explosão de universos” ao final do episódio, é simplesmente jogada de gênio! E isso sem contar, claro, com os vindouros filmes que, tematicamente, abordarão, de uma forma ou de outra, o multiverso.

Loki – 1X06: For All Time. Always. (EUA, 14 de julho de 2021)
Criação e desenvolvimento: Michael Waldron
Direção: Kate Herron
Roteiro: Michael Waldron, Eric Martin
Elenco: Tom Hiddleston, Sophia Di Martino, Owen Wilson, Gugu Mbatha-Raw, Wunmi Mosaku, Tara Strong, Jonathan Majors
Duração: 46 min.

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