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Crítica | Longe Deste Insensato Mundo (2015)

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Thomas Vinterberg, que nos trouxera uma obra-prima, em 2012, com A Caçaretorna aos cinemas com seu mais novo filme, Longe Deste Insensato Mundo, adaptação do clássico homônimo do inglês Thomas Hardy. De uma abordagem sufocante sobre o julgamento de uma cidade sobre um homem inocente, partimos para um romance de época, um drama que busca trabalhar a individualidade da mulher enquanto precisa lidar com inúmeros pretendentes. Vinterberg, contudo, não consegue ser tão bem sucedido quanto fora em sua obra anterior, nos entregando um narrativa que não foge do comum, ainda que conte com uma construção de personagens digna de nota.

A projeção é iniciada e o que vemos é um ambiente longe das cidades grandes. No interior da Inglaterra Vitoriana, Bathsheba Everdene (Carey Mulligan) acaba se enamorando pelo dono de uma pequena fazenda, Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts). Após receber um pedido de casamento do jovem, todavia, ela acaba o recusando e não muito tempo depois um acidente leva o homem a perder todas as suas ovelhas, forçando-o a vender suas terras. Em paralelo, Everdene recebe de herança a fazenda de seu tio e prontamente se muda para o local a fim de administrá-la. Os papeis se invertem e agora quem possui mais dinheiro é Bath. Agora, mais próxima do ambiente urbano, a jovem rouba o coração de mais dois homens e descobre que a cada decisão tomada mais lágrimas escorrem de seu rosto.

O roteiro de David Nicholls mantém uma enorme fidelidade ao material original, conseguindo, impressionantemente, em 119 minutos, um livro de mais de 400 páginas. Em ponto algum sentimos como se a narrativa estivesse acelerada ou lenta demais, mantendo uma fluidez que permite um engajamento do espectador. O real grande problema de Longe Deste Insensato Mundo sequer é um problema do próprio filme e sim das inúmeras histórias de cunho similar que adotam tramas parecidas. Desde os trechos iniciais já sabemos que Bath e Gabriel irão terminar juntos, o que importa efetivamente é como isso irá acontecer.

Felizmente, Vinterberg está presente para prender nossa atenção e consegue garantir uma notável profundidade aos personagens trabalhados. Da protagonista até William Boldwood (Michael Sheen), todos são explorados a fim de garantir a humanidade de cada um. Sentimos como se efetivamente fossem pessoas vivas e suas motivações são claras, tornando suas ações coesas. Há um evidente favoritismo do roteiro colocando Gabriel como o homem perfeito e a dependência de Everdene em seu pastor acaba diminuindo a força da personagem. Felizmente, Carey e Matthias apresentam uma química evidente, tornando esses momentos mais orgânicos, minimizando o abalo que a personagem, até então tida como muito forte, sofre.

Sobretudo, a obra lida com a luta de uma mulher para se estabelecer no mundo e desde os minutos iniciais sabemos que ela se recusa a ser uma mera serva de um marido. Mulligan consegue transmitir toda essa independência de Bath, por vezes soando até mesmo teimosa e impulsiva. A força da protagonista é inegável, mais uma vez minimizando o efeito que a trama já bastante cliché exerce sobre nós.

A mais recente adaptação de Longe Deste Insensato Mundo conta com a força de Thomas Vinterberg para sustentá-la, mas o romance datado de sua trama acaba prejudicando nossa percepção do longa. É preciso enxergarmos o roteiro com olhos do final do século passado, procurando entender seus pontos fortes, que envolvem, especialmente, o enaltecimento da figura feminina como forte, independente, capaz de enfrentar o mundo por si só.

Longe Deste Insensato Mundo (Far From the Madding Crowd – Reino Unido/ EUA, 2015)
Direção:
Thomas Vinterberg
Roteiro: David Nicholls (baseado no livro de Thomas Hardy)
Elenco: Carey Mulligan, Matthias Schoenaerts, Tilly Vosburgh, Tom Sturridge, Michael Sheen, Jessica Barden, Juno Temple
Duração: 119 min.

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