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Crítica | Looney Tunes – O Filme: O Dia que a Terra Explodiu

A loucura faz a força.

por Luiz Santiago
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Reavivar ícones culturais que atravessam gerações é sempre uma tarefa complexa, equilibrando reverência ao legado com a necessidade de dialogar com as novas gerações, um desafio e tanto quando se trata do universo caótico dos Looney Tunes. É neste desafio que se insere O Dia Que A Terra Explodiu (2024), filme notável por ser o primeiro longa-metragem original e totalmente animado dos maluquitos para os cinemas, dirigido por Pete Browngardt, saído da ótima série Looney Tunes Cartoons (2019 – 2024). O filme coloca a clássica e disfuncional dupla Patolino e Gaguinho no centro de uma trama inspirada na ficção científica “B” dos anos 50, erguendo uma aventura cósmica com um terrível perigo alien e chicletes com propriedades duvidosas. Apesar do inegável esforço para capturar a energia frenética e o humor visual desses personagens, a obra mantém-se majoritariamente sem muitas inovações, sugerindo uma experiência que, embora pontuada por momentos de brilhantismo caótico, revela irregularidades na sua execução global, ficando entre a homenagem nostálgica e a busca por relevância atual (ou pelo menos uma “sobrevivência atual”, já que a dona Warner está praticamente matando os Looney Tunes com suas péssimas decisões de produção).

A narrativa desenrola-se no estilo “trama dentro de trama”, começando com a boba ameaça de despejo para Patolino e Gaguinho e escalando rapidamente para uma conspiração intergaláctica envolvendo chicletes que transformam humanos em zumbis e, posteriormente, a chegada de um asteroide cataclísmico. O roteiro se esforça para manter um ritmo acelerado, com reviravoltas que, embora procurem surpreender, às vezes esbarram numa certa previsibilidade inerente ao universo Looney Tunes, onde o caos é a norma e as soluções surgem do absurdo. Para o espectador familiarizado, algumas viradas na trama podem ter menos peso, mas acredito que todas acabem funcionando para aquilo que o longa promete. Tentativas de ancorar a história na linguagem de seu tempo, como a breve incursão de Patolino pelo mundo dos influenciadores digitais e o subsequente cancelamento (hilário, por sinal), oferecem piscadelas de sátira social que atingem o público de maneira variável, até mesmo na forma como o texto faz questão de ressaltar as camadas de execução, procura e complicadas relações de trabalho. 

Enquanto a exploração da amizade entre o pato desastrado e o porco zeloso forma o núcleo emocional da história, a subtrama romântica envolvendo Petúnia traz uma camada adicional, nem sempre bem integrada à narrativa, mas não passível de desprezo. Já a resolução das diferentes linhas dramáticas oscila em eficiência, variando entre o inesperado (e engraçado) e o meramente funcional, sem aprofundar consistentemente os temas do engano das aparências (tadinho do alien esquisito viciado em bubble tea!) ou as dinâmicas interpessoais para além do esperado de um entretenimento assumidamente leve.

A produção encontra nos aspectos técnicos alguns de seus elementos mais consistentes. A animação, claramente inspirada na estética mais elástica e expressiva de Bob Clampett, é maravilhosa, explorando muitíssimo bem os diferentes estilos e texturas que dão dinamismo e identidade própria à obra, distanciando-se de uma mera reprodução estética para oferecer momentos de boa realização gráfica. Igualmente digna de nota é a trilha sonora de Joshua Moshier (também vindo de Looney Tunes Cartoons), que consegue evocar a sonoridade associada aos curtas, ao mesmo tempo que a expande para uma escala cinematográfica mais ampla e moderna, não se limitando a seguir a ação, mas participando ativamente na construção do ritmo e das atmosferas. O trabalho vocal original, liderado pelo talentosíssimo Eric Bauza (que faz as vozes de Gaguinho e Patolino) e Candi Milo (Petúnia), captura as inflexões e maneirismos característicos que definem estes personagens no imaginário coletivo, ao menos naquilo que chamamos de “essência”, o que já é o bastante.

Estilisticamente rico e musicalmente chamativo, Looney Tunes – O Filme: O Dia Que A Terra Explodiu é uma explosão de cores, sons e absurdos que, mesmo sem reinventar a roda, tem o mérito de manter acesa a chama desses ícones num mundo (e num estúdio) que nem sempre sabe o que fazer com eles. Com um visual que estica os limites da física e um “humor bagaceira”, o filme fala de amizade, família e trabalho em grupo, lembrando-nos que, no caos, os laços humanos resistem até mesmo a asteroides e chicletes amaldiçoados. Não é a renovação definitiva que os Looney Tunes merecem, mas é uma singela carta de amor para esses personagens e seu universo. Num momento em que a Warner parece mais perdida que pato doido em asteroide assassino, isso já é, por si só, uma vitória. 

Looney Tunes – O Filme: O Dia que a Terra Explodiu (The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie) — EUA, 2024
Direção: Peter Browngardt
Roteiro: Darrick Bachman, Peter Browngardt, Kevin Costello, Andrew Dickman, David Gemmill, Alex Kirwan, Ryan Kramer, Jason Reicher, Michael Ruocco, Johnny Ryan, Eddie Trigueros (além dos consultores Katie Rice, Guy Bar’ely, Josie Campbell, Gilli Nissim)
Elenco: Eric Bauza, Candi Milo, Peter MacNicol, Carlos Alazraqui, Fred Tatasciore, Kimberly Brooks, Laraine Newman, Peter Browngardt, Wayne Knight, Rachel Butera, Ruth Clampett, Keith Ferguson, Andrew Kishino, Nick Simotas
Duração: 91 min.

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