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Crítica | Love (2015)

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Polêmico como Ninfomaníaca, ainda que conte com uma abordagem completamente diferente do sexo, Love traz mais uma obra de Gaspar Noé com a sexualidade em seu epicentro. Segundo o próprio diretor, o longa é uma história de amor vista sob o ponto de vista da relação sexual, o que, a priori, pode parecer não só ousado, como forçado. Noé, porém, sabe encaixar as sequências “adultas” de forma orgânica dentro de sua narrativa e seu pecado permanece na prepotência da retratação de si próprio. Acima de tudo, trata-se de um filme sobre suas própria carreira e convicções, o que, pela forma como é feito, acaba desviando a atenção de aspectos muito mais interessantes dentro da obra.

A trama gira em torno de Murphy (Karl Glusman) um jovem americano, estudante de cinema, que acaba se relacionando com a francesa Electra (Aomi Muyock), até causar um traumático término por ter engravidado outra menina, Omi (Klara Kristin). Perdido em sua situação de total desagrado, o menino recebe uma ligação da mãe de sua ex-namorada perguntando onde ela está. Inúmeros flashbacks se iniciam, recontando, de forma não-linear, a conturbada história de amor do casal.

Evidentemente o aspecto que mais colabora para o engajamento do espectador em Love é a sua não-linearidade, que permite um encadeamento de fatos mais fluidos, podendo, assim, inserir as cenas de sexo explícito de forma que não soem expressamente forçadas dentro da narrativa. A montagem, realizada pelo próprio Gaspar, é também ajudada pelo trabalho fotográfico de Benoît Debie, que utiliza diferentes filtros, alguns envelhecidos, a fim de criar o distanciamento entre o presente e passado, criando, assim, interessantes transições quando o paralelismo se faz presente. Em alguns pontos o que está por vir acaba se tornando óbvio e a duração prolongada do longa acaba prejudicando nossa imersão, ao ponto que chegamos a nos cansar do filme em seus momentos finais. Tal cansaço, porém, é fruto do já mencionado ode a si próprio de Noé, que não poupa esforços para se inserir dentro de seu próprio filme (chegando, inclusive, a fazer uma pequena ponta). É natural que autores façam essas escolhas, o próprio Tarantino o faz inúmeras vezes, o grande problema está na falta de disfarce usado por Gaspar, que acaba soando como um grande e descarado egocentrismo.

O texto, porém, inúmeras vezes se salva pela forma como o ato sexual é apresentado, quase como um personagem, ele assume diferentes perspectivas ao longo da obra, ora tido como uma demonstração pura de amor, ora como algo essencialmente carnal, animalesco. Em geral com uma fotografia estática, Noé já desconstrói nosso desconforto inicial com a cena de abertura da obra, que não irei revelar para que o choque não seja estragado. Uma sequência longa e essencial em termos de narrativa para encararmos o restante do filme com um maior relaxamento, promovendo, portanto, uma palpável imersão, que somente é quebrada pelo intenso melodrama que paira sobre o texto. Caráter, esse, que poderia ter sido facilmente extinguido com a escolha de atores mais experientes (o que não seria nada fácil, é claro, visto a forma explícita como o sexo é mostrado). Gaspar, que a dedo selecionara seu elenco principal comete um grande erro e sua direção não é o suficiente para tirar da tela situações verdadeiramente risíveis. Ironicamente, as sequências de maior naturalidade, as sexuais, foram em sua grande parte improvisadas pelos próprios atores.

Essa naturalidade, contudo, vem dosada de pitadas bem inseridas de ironia, provocadas pelas músicas bem escolhidas, que garantem, é claro, muitas vezes, o tom da cena e, sobretudo, criam vínculos em nossa mente com os diferentes trechos já apresentados. Evidentemente a cor também cumpre seu papel vital, verdadeiramente transformando locações de acordo com o estado mental dos personagens – o melhor exemplo disso é o quarto de Murphy, que passa por verdadeiras metamorfoses e chega ao ponto de não ser reconhecível em inúmeras ocasiões. O famoso túnel de Irreversível também retorna, comprovando a influencia da cor, que altera completamente o clima de terror para paixão intensa.

Love acaba não sendo algo tão arrebatador quanto seu próprio diretor esperava, conta com uma ótima premissa, mas que acaba sofrendo muito com a ênfase em aspectos menos engajantes que, por fim, prejudicam nossa imersão. O filme sofre com seu elenco na maior parte das ocasiões, mas consegue, surpreendentemente sair como uma experiência positiva para o espectador, que, obviamente, deve ver no cinema em 3D a fim de poder aproveitar o filme em sua plenitude.

Love (idem – França/ Bélgica, 2015)
Direção:
 Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Elenco: Aomi Muyock, Karl Glusman, Klara Kristin, Juan Saavedra, Gaspar Noé
Duração: 135 min.

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