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Crítica | “Love For Sale” – Tony Bennett & Lady Gaga

A despedida de uma lenda.

por Kevin Rick
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I’ve been through the mill of love,

Old love, new love,

Every love but true love.

Love for sale.

Love For Sale, segundo álbum de dueto de Lady Gaga e Tony Bennett, após o bem recebido Cheek to Cheek de 2014, é lançado com muita felicidade e uma atmosfera lúdica, como típico da dupla que parece se divertir a cada verso de jazz cantado junto, mas também carrega tristeza, ou, melhor, uma espécie de emoção pungente, por ser o último álbum de Tony Bennett. No auge dos seus 95 anos, com uma carreira invejável que já dura 72 anos, o artista se despede do cenário musical para cuidar da sua saúde – Bennett foi diagnosticado com Alzheimer em 2016 – e passar a aposentadoria com sua família.

No entanto, ainda que extremamente comovente com a situação médica e a despedida de Bennett, Love For Sale quer se distanciar o máximo possível de um sensação melancólica. Muito pelo contrário, a obra é um adeus leve e doce, contendo 12 interpretações de composições clássicas do jazz de Cole Porter, a quem o disco é uma homenagem. Se Cheek to Cheekque funcionou como veículo de versatilidade para Gaga, assim como uma recontextualização do jazz de Bennett para uma nova geração, Love For Sale assume uma postura menos ampla. A partir do momento que “It’s De-Lovely” explode em cena com o trompete, inicia-se uma jornada prazerosa de conversação de vocais amigos.

As vozes de Bennett e Gaga parecem ricochetear uma na outra, misturando-se como um jogo entre gerações se comunicando através do amor pelo jazz, entre o poder de Gaga e a experiência áspera que a voz de Bennett ganhou com o tempo. Gaga é inteligente em suprimir seu lado mais teatral para fazer uma dinâmica mais bem-humorada com o charme de Bennett, entregando uma dinâmica entre suas vozes que soa casual. Na tríade de abertura, temos a já citada luminosa “It’s De-Lovely“, como também “Night and Day” – essa com uma melodia mais sóbria e cheia de cordas etéreas, com a dupla assumindo um jogo vocal mais sedutor – e a faixa-título, a mais bacana em termos de mudança de harmonia, começando mais taciturna e terminando bem alegre. Já no início do álbum, estamos dentro de um espetáculo fugaz entre dois parceiros (e mestres) se divertindo uma última vez.

A faixa que segue as três primeiras músicas, Do I Love You, é cantada apenas por Gaga, solo também feito em Let’s Do It; e em So In Love Just One of Those Things, cantadas por Bennett. Não sei, mas todas as faixas que eles cantam separados parecem não funcionar na proposta do álbum. O disco funciona muito bem em uníssono de Gaga e Bennett, como no início da obra, mas também quando o par se alinha posteriormente, seja brincando alegremente nos atrevidos I Concentrate on You You’re The Top, ou nas reinterpretações jocosas de clássicos do Frank Sinatra, I Get a Kick Out of You I’ve Got You Under My Skin. É divertido e gostoso a informalidade que os artistas dão as faixas, como se estivessem cantando um para o outro – os vídeos adicionam um camada visual da maravilhosa química e admiração que sentimos no álbum.

É por isso que quando eles cantam separados, Love for Sale soa fora do seu espaço melódico, fugindo do próprio conceito alegre da dupla – notem como as canções solos são melodramáticas e profundas, também destoando do tom humorístico e animado da obra. Além disso, ao separar a dupla, o álbum acaba indicando uma certa característica negativa em relação aos arranjos de jazz. Entre os swings charmosos, poucos solos instrumentais e harmonias clássicas, Love for Sale pouco se distingue em termos sonoros – a maior exceção seria o bossa-nova de I Concentrate on You. É puro e “simples” jazz de vanguarda. E está tudo bem – até ótimo eu diria! – quando Bennett e Gaga estão juntos, casando perfeitamente com a casualidade e homenagem conceitual, mas quando estão sozinhos, a falta de uma rítmica vocal entre eles me deixam mais desinteressado na “normalidade” melódica.

Felizmente, dentre as 12 faixas, temos 2/3 com dois ícones muito diferentes esbanjando simpatia e energia em reinterpretações e homenagens de ídolos do passado, do jazz em si e da sua parceria bem-humorada. Nesse sentido, temos também a emocionante faixa Dream Dancing, uma espécie de carta de despedida à Bennett. Acompanhados do sempre elegante jazz, especialmente este mais clássico e natural imprimido, Love for Sale é uma jornada atemporal, mas surpreendentemente descontraída, como se dois amigos íntimos estivessem conversando de maneira exuberante e recreativa sobre jazz.

Aumenta!: I Concentrate on You
Diminui!: Do I Love You
Minha canção favorita do álbum: I’ve Got You Under My Skin

Love For Sale
Artista: Lady Gaga & Tony Bennett
País: Estados Unidos
Lançamento: 30 de setembro de 2021
Gravadora: Columbia, Interscope Records
Estilo: Jazz

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