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Crítica | “Love & Hate” – Michael Kiwanuka

por Kevin Rick
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Standing now

Calling all the people here to see the show

Calling for my demons now to let me go

I need something, give me something wonderful

Love & Hate começa sua jornada poética (lírica, mas especialmente sonora) com o épico de quase 10 minutos Cold Little Heart composto por duas partes distintas, a primeira em torno de cinco minutos apenas instrumentais de uma melodia angelical, um coro suave e uma seção de cordas arrebatadora e vibrantes a la Motown, piano de jazz e órgão psicodélico, antes do vocal surpreendentemente autoconfiante de Michael Kiwanuka entrar na mistura alternando entre sua guitarra uivante e sua voz áspera, trêmula e triste. É uma faixa verdadeiramente grandiosa para iniciar a obra, e dita o tom de embalagem musical de blues, folk e soul com uma mensagem de contradição sobre si mesmo, como na letra “My cold little heart / Oh I, I can’t stand myself” e logo depois, na mesma canção, “Maybe this time I can be strong / But since I know who I am / I’m probably wrong“. Um álbum verdadeiramente sobre pertencimento.

A segunda faixa da obra, Black Man In a White World, cheia de palmas com uma musicalidade meio gospel, pega essa ideia de pertencimento, inicialmente pessoal, e agora social – o álbum pula de um âmbito ao outro -, e propõe sua visão crítica de exasperação política com o papel do negro na sociedade através do rock/soul ora angustiante, ora energético em uma (quase) ilusão musical para o eu-lírico – Marvin Gaye, alguém? -, transpondo um resultante som nostálgico em uma alma progressiva com mensagens de incrível urgência em seu coração, como injustiça social, racismo, violência, abandono e exclusão. Além disso, na mesma faixa, é possível ver a inserção da mesma contradição do artista na parte: “I’m in love but I’m still sad / I’ve found peace but I’m not glad“, fazendo com que sua abordagem nostálgica seja ainda mais justificada por abordar os mesmos problemas de artistas dos anos 70.

O restante da obra assume a catarse emocional e jornadas internas, e a sonoridade de resgate do álbum não tem exatamente um efeito de homenagem, mas de protesto pela atemporalidade destas várias dificuldades sociais. É curioso como que tematicamente é uma obra densa e observacional, mas minha experiência pelo menos foi a de uma contemplação sonora com a dor da injustiça racial adoçada por cordas doces e vocais de apoio celestiais, uma harmonia que mescla uma poesia deprimente em vários violinos – especialmente Fathers Child, sobre a relação do artista com religião – com um arranjo de blues dolorido. Se o lírico é crítico, a sonoridade do álbum é a poesia musical de um coração partido num mar de emoções que vão desde raiva e indignação em Black Man In a White World, a incompreensão do amor na melodia exuberante de I’ll Never Love, até o cansaço em Falling, uma faixa sobre um homem que não pode fazer nada sobre a condição em que está.

Na faixa-título, Love & Hate, o arranjo reforça com sentimentalidade e graciosidade o questionamento que sumariza a proposta da obra: “Love and hate/ How much are we supposed to tolerate?“, mas mantém o protesto logo em seguida com “You can’t break me down / You can’t take me down“. Dessa forma, o segundo álbum de Michael Kiwanuka reúne problemas pessoais e políticos em uma viagem emocionante sobre pertencimento humano, romântico, social e musical, trazendo a nostalgia soul e blues setentista no seu indie rock como reclamação corajosa da falta de mudança. E também não machuca que seu discurso direto é reforçado por uma sonoridade angustiantemente épica e um vocal que personifica os vários sentimentos de Love & Hate: tristeza, queixa, indignação e, acima de tudo, uma confissão dolorosa de amor e ódio.

Aumenta!: Black Man In A White World
Diminui!: Nenhum!
Minha canção favorita do álbum: Cold Little Heart

Love & Hate
Artista: Michael Kiwanuka
País: Estados Unidos, Reino Unido
Lançamento: 15 de julho de 2016
Gravadora: Interscope Records / Polydor Records
Estilo: Indie rock, Folk rock, Blues, Soul

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