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Crítica | Lucifer – 5ª Temporada (Parte Dois)

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.

Se formos honestos, concluiremos que o que realmente sempre segurou Lucifer de pé foi o charme de Tom Ellis, o que inclui seus muitas vezes sensacionais números musicais. Fora isso, a série sempre foi galgada na batida estrutura de investigação da semana com pitadas de sobrenatural, com apenas uma temporada realmente boa, a quarta, que, para todos os efeitos, deveria ter sido a última por saber usar seus 10 episódios para finalmente contar uma boa história.

Mas o show tinha que continuar e eis que Joe Henderson e Ildy Modrovich inventaram de esticar a corda o máximo possível, criando uma quinta temporada com intermináveis 16 episódios divididos em duas meias temporadas de oito que simplesmente não tem o suficiente a dizer sobre seu protagonista para preencher todo esse espaço, e isso já com a previsão de uma derradeira temporada de mais 10 episódios. Não tem Tom Ellis que consiga fazer valer a pena de verdade mais casos da semana que comentam os dramas celestiais e vice-versa, mesmo considerando a simpaticíssima presença de Dennis Haysbert como Deus e as pontas de Inbar Lavi e Tricia Helfer como Eva e Deusa mais uma vez.

Claro que Lucifer sempre foi uma série para ser levada na galhofa e trabalhar a premissa da aposentadoria de Deus e a votação entre os anjos para escolher seu sucessor não poderia ser encarada de outra forma, mas, no lugar de realmente abraçar essa premissa e embarcar no sobrenatural de uma vez por todas tendo o maquiavélico Michael como vilão, essa segunda parte da quinta temporada tenta se levar a sério demais, especialmente quando cria um drama gigantesco ao redor do assassinato do coitado do Dan, que sofre o pão que o diabo amassou nestes oito episódios, com uma hora inteira dedicada a basicamente um trote de Lúcifer só para tirar sarro do policial simpático que começou como bandido, se é que alguém ainda se lembra disso.

O que, portanto, poderia ser resolvido em algo como três episódios, ganha uma eternidade de minutos que diluem tanto o humor quanto o drama, criando algo que inegavelmente diverte, mas que também inegavelmente cansa pela insistência em se repetir uma fórmula que, a essa altura do campeonato, com todo mundo menos Ella sabendo do segredo, já não se sustenta narrativamente e fica parecendo o que verdadeiramente é, ou seja, um mero tropo que é a bengala que permite que a série cambaleie mal e porcamente ao longo de mais oito longos episódios de quase uma hora cada um em média. E o pior é que, considerando os eventos dos dois últimos episódios, que afastam de vez exatamente a estrutura clichê, fica evidente que havia uma história legítima a ser contada, mas que, quando chegamos a esse ponto, já estamos exaustos, especialmente porque, estranhamente, os roteiros passam a correr como uns doidos exatamente quando deviam parar um pouco para explorar mais o cenário de guerra celestial e evitar o monte de reviravoltas que acaba levando Lúcifer a, pelo menos em tese, ser empossado como o novo Deus.

Mesmo que minhas palavras soem amargas – e, não se enganem, elas são mesmo amargas – essa segunda metade de temporada tem seus momentos, valendo destaque para a já citada participação de Dennis Haysbert, imponente e gracioso em medidas iguais, com algumas linhas de diálogo particularmente inspiradas em sua ambiguidade e mistério. Há, também, uma maior musicalidade nos episódios, incluindo um inteiro dedicado a uma sucessão de números musicais que faz o elenco todo cantar e dançar e que, claro, abre espaço para Ellis brilhar mais ainda. Da mesma maneira, é bem vinda a forma como os episódios se esforçam para dar fim – ou pelo menos apontar para alguns fins – a arcos de personagens, especialmente a questão da alma de Maze, a paternidade/maternidade de Amenadiel e Linda e até o lado sombrio de Ella. E, lógico, na reviravolta trágica em relação a Dan, percebe-se o valor de um bom drama, mesmo que isso, de certa forma, revele algum grau de bipolaridade da pegada dos showrunners agora que a série tem mais espaço para ser “violenta” no Netflix.

Mas o romance principal não funciona de jeito algum, pois ele já passou do ponto há muito tempo, mais parecendo um outrora suculento pedaço de picanha que foi esquecido na brasa da churrasqueira e, agora, está esturricado e duro como sola de sapato. Ninguém (e, por ninguém, leia-se eu) aguenta mais a lenga-lenga criada para manter Lucifer separado de Chloe e todo o chove não molha que decorre daí. Se antes o artifício de ela tornar o diabo vulnerável parecia uma premissa inteligente, agora que isso foi deixado de lado em prol de Lúcifer não se achar digno da moça e, por isso, precisar concorrer às eleições para Deus, tudo fica bastante ridículo, mas sem que, como disse, a série dispa-se de seu pudor e embarque de uma vez no ridículo, ou seja, ela continua levando-se a sério demais para funcionar de uma maneira ou de outra.

A esperança é que a temporada final – que é mais curta, o que automaticamente é uma boa notícia – não precise manter os infernais casos da semana como infraestrutura narrativa e finalmente trabalhe eminentemente o lado celestial, ainda que eu ache difícil os showrunners resistirem à tentação de voltar à estrutura segura e confortável de todas as temporadas até agora. Pelo menos o fim está próximo…

Lucifer – 5ª Temporada, Parte Dois (EUA – 28 de maio de 2021)
Desenvolvimento: Tom Kapinos (baseado em personagem criado por Neil Gaiman, Sam Keith e Mike Dringenberg)
Showrunner: Joe Henderson, Ildy Modrovich
Direção: Nathan Hope, Sherwin Shilati, Bola Ogun, Greg Beeman, Richard Speight Jr., Lisa Demaine, Ildy Modrovich, Karen Gaviola
Roteiro: Joe Henderson, Ildy Modrovich, Aiyana White, Mike Costa, Julia Fontana, Jen Graham Imada, Chris Rafferty, Jason Ning
Elenco principal: Tom Ellis, Lauren German, Kevin Alejandro, D.B. Woodside, Lesley-Ann Brandt, Scarlett Estevez, Rachael Harris, Aimee Garcia, Inbar Lavi, Tricia Helfer
Duração: 462 min. (oito episódios)

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