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Crítica | Lutando Pela Família

por Davi Lima
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SPOILERS!

A premissa familiar sustenta muito o drama e uma certa conveniência, além do drama crescente dentro do mundo do wrestling. No entanto Lutando Pela Família aposta muito na noção de farsa, na quebra de expectativa programada e chega até a anular o esporte em si quando sua conexão dramática é exatamente o artifício do esporte. Quando a personagem Ray, interpretada por Florence Pugh, olha-se no espelho algumas vezes e The Rock é o cara da identidade na primeira cena, e do conselho de Twitter, a trama já diz muito sobre identidade. A relação com o irmão, ele ser o coadjuvante e a quebra de padrões familiares com pais sempre beirando a vida do crime dão um ar de humor irônico que é proveitoso para a apresentação paulatina do contexto social em que Ray é formada. 

O cingir do meio inglês também revela algo sobre o esporte. A vida deles é basicamente treinos e assistir à TV, o adorar o esporte envolve o estilo de vivência, é para isso que serve uma mesa de jantar com dois estranhos que vão julgar aquela família para logo depois conquistarem um prêmio de alegria genuína com a WWE. Ou seja, o esporte é a conclusão familiar, porém tem esse desagregar de Ray da família, na jornada de identidade própria. E aí que também entra o problema da sugestão que o filme não estrutura bem. Em todo o drama existem as opções de escolhas, que são o que define o rumo da personagem, do irmão, em que elas precisam ser pautadas no que cada um é, porém o filme soa irônico porque visualmente é sobre o que cada um tem.

Na pegada de impulsos dramáticos de revelar além das aparências, o arco do irmão se mostra mais verdadeiro porque o que ele tinha cultivava em tudo. Ser o professor, ser o cara que se vestia de terno, o que tinha responsabilidades. Era o que ele era em tudo, só não queria aceitar porque não o faria lutador. Já a irmã, desde a primeira cena, não queria assistir ao The Rock, a motivação da luta era pela família e era “tímida”. Seu dilema de tomar sua escolha e a desconstrução do que era o wrestling entre as mulheres – que sua mãe disse a ela – acabam sendo funcionais de maneira conveniente. A decisão de voltar à América é pelas fotos que diziam que ela sempre quis ser campeã, mas o sonho ainda era sobre a família da qual ela não desgarra.

Descobre-se que as lutadoras loiras não são mesquinhas, só mal interpretadas, e que o treinador era o exemplo que o irmão não queria ser, ao mesmo tempo em que fazia estrelas. Mas onde está tal faísca que tanto citam? O pai cita que ela é a faísca da família, então as escolhas são pautadas nisso. Embora isso continue sendo lindo e tenha legitimação do filme, a ironia está nessa construção toda e a relação individualista da luta. Há mais uma formação de associações de pontos em comum para que a narrativa seja sobre representatividade dos diferentes (que a família é…) do que uma interação real com o esporte que as fotos no quarto de Ray traziam.

Esse é o custo da imagem, principalmente tratando-se da luta livre ser baseada nisso. Existe uma subjugação do esporte no filme em prol do discurso, sendo que a foto final, e aí sim mais bem-estruturada, é a foto com o irmão segurando um cinturão. Nessa dinâmica familiar, o irmão é o mais genuíno por reverter junto ao esporte o mau espírito do sonho individual. Esse é o intimismo, esse é o conflito principal, porém ele é mais usado como ponte, porque todo o background do esporte não é transformado por essa relação, e sim pela identidade. No fim, Lutando Pela Família é uma obra emocionalmente forte que vai conectando seu modelo de aparências transformantes e justificativas minúsculas para relacionar todo o drama.

Até mesmo a relação do The Rock com o ator Vince Vaughn é o espelhamento dos irmãos, o que mostra a verdadeira faceta do longa-metragem que o diretor não compreendeu bem. Termina sendo um emaranhado de ideias construídas de maneiras invisíveis na cooptação da estética pelo emocional. Linhas escritas que concorrem, e não são bases implícitas de uma união inteirada, e sim numa junção puramente sensível de disfarce meio iconoclasta, ou algo parecido que infelizmente não é efetivamente intencional.

Lutando Pela Família (Fighting with My Family | EUA, 2019)
Direção: Stephen Merchant
Roteiro: Stephen Merchant
Elenco: Dwayne Johnson, Florence Pugh, Jack Lowden, Lena Headey, Nick Frost, Vince Vaughn, Aqueela Zoll, Bern Collaco, Carlo Sciortino, Eli Jane
Duração: 108 minutos

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