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Crítica | Lutando Só Pela Glória (1958)

por Iann Jeliel
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Lutando Só Pela Glória

William A. Wellman é um diretor conhecido por dirigir o primeiro filme a ganhar um Oscar de Melhor Filme, Asas (1927), cuja história se tratava de uma dramaturgia de romance entre pilotos da força aérea americana no meio de uma guerra mundial. Depois desse filme, o cineasta decolou em Hollywood e fez alguns outros filmes notórios na chamada era de ouro do cinema clássico americano, como a versão de 1937 de Nasce Uma Estrela, Consciências Mortas, Inimigo Público, dentre outros. Depois de uma extensa carreira como diretor, roteirista e produtor, Wellman tinha o desejo de contar uma última história, coincidentemente também sobre avião, guerra e romance como havia sido aquela que o apresentou à indústria, para encerrar com chave de ouro sua passagem como cineasta. Infelizmente, nem mesmo um nome como o dele conseguiu ter controle total sobre a produção de Lutando Só Pela Glória, o que consequentemente resultou em um filme cheio de problemas.

A começar pela desordenação de foco nos acontecimentos, a linha principal está na dramática do homem desertor da nação que nunca consegue ser suficientemente trabalhada pela tentativa em conjunto da construção do esquadrão Lafayette Escadrille como um time de heróis relevantes que mereçam o aspecto documental, que também não consegue ser devidamente trabalhado pela necessidade de desenvolver um filme de romance no meio-termo. A montagem protocolar e linear dos fatos dá a impressão de que o filme salta sobre seus arcos sem nunca os completar ou delinear sob uma perspectiva complementadora. Fazendo assim uma divisão de três narrativas distintas pouco substanciais por uma falta de comunicação e pelo pouco tempo destinado ao desenvolvimento de cada uma.

O fator desertor parece ser só um artifício barato de suspense para a terceira, de um romance puramente construído sobre aparências que necessitava de uma maior absorção temporal, da química do casal e de conflitos que questionariam esse caráter de paixão não dialogada. Até existem esses conflitos e eles se relacionam diretamente com o suspense da necessidade de se esconder, mas acaba não sendo suficiente para o público comprar e torcer pelo casal, uma vez que falta tempo de maturação do sentimento inicial em contraponto ao sentimento de apego. Em outras palavras, o filme progride sem convencer o público sobre as motivações empregadas no passo de progresso, e quando esses conflitos chegam e tomam escolhas para grandes desfechos dramáticos, não é sentido o impacto desses desfechos enquanto tragédia.

No lado “filme de guerra”, a elaboração do esquadrão é pouca explorada, e nos momentos em que teve a oportunidade para tal, o roteiro gastou o tempo para piadas infames de uma superiodadade nacionalista que é completamente destoante da intenção do arco principal, que procurava esse olhar crítico para a situação do desertor ao assumir seu ponto de vista. Acaba que quando retomado num terceiro ato absolutamente burocrático de batalhas aéreas, esse desenvolvimento não só faz falta como direciona a importância do esquadrão para um nacionalismo do qual ele não faz parte historicamente falando, mas que infelizmente era o único possível dentro do texto com pouco espaço de desenvoltura aos personagens franceses fora de representações imagéticas óbvias – isso vale para o caso romântico do protagonista.

Fica muito claro que houve uma interferência de estúdio que gostaria de tornar o filme mais acessível a um público nacionalista e enfiar ação no meio, enquanto Wellman tenta por outro caminho fornecer um estudo de personagem sobre uma situação com margem crítica ao falso nacionalismo empregado na guerra, deixando o filme em cima do muro sobre qual história quer contar e qual ideologia deseja transmitir. Mais tarde, esse lado da ação e memória patriótica do time da Lafayette Escadrille seria correspondido no filme Flyboys de 2005, mas a história íntima do soldado Thad – a qual Wellman queria contar – dificilmente veremos.

Lutando Só Pela Glória (Lafayette Escadrille | EUA, 1958)
Direção: William A. Wellman
Roteiro: William A. Wellman, Albert Sidney Fleischman
Elenco: Tab Hunter, Etchika Choureau, Marcel Dalio, David Janssen, Paul Fix, Veola Vonn, Will Hutchins, Clint Eastwood, Robert Hover
Duração: 93 minutos

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