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Crítica | M.O.D.O.K. – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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Já disse variações disso e não canso de repetir: nem em meus sonhos mais enlouquecidos de criança eu imaginaria que um dia veria uma série de TV de humor em stop-motion protagonizada pela cabeçudíssimo Modok (não era uma sigla no começo, então não vou usar pontinhos…), com voz de Patton Oswalt, em que ele é ao mesmo tempo o líder da I.M.A. (essa sempre teve pontinhos) e um pai de família, com direito ao Homem de Ferro lutando enquanto assiste reality show de culinária, Fin Fang Foom como garçom em um restaurante chique e o Super Adaptoide como seu mordomo (ou algo do gênero). Sério. A que ponto chegamos, não é mesmo? E que fique claro que estou elogiando, pois esse ponto em que chegamos é maravilhoso, já que ele oferece um rico buffet de obras baseadas em quadrinhos de super-heróis com pratos para absolutamente todos os gostos, inclusive alguns como esse aqui que absolutamente ninguém queria, mas que é o ponto alto (no momento) da obscuridade da Nona Arte sendo transformada em uma animação surrealmente satírica no estilo de Robot Chicken.

Eu não sei nem porque deveria continuar escrevendo, já que esse parágrafo grandão de abertura logo aqui em cima deveria ser o suficiente para cada um de vocês parar tudo o que está fazendo e catar essa série para assistir imediatamente. Nem precisam continuar lendo. Vão lá com tranquilidade e depois voltem aqui para me agradecer, mesmo que alguns sequer tenham alguma ideia sobre quem raios é Modok e porque ele é um sujeito composto só de uma cabeçorra, com bracinhos e perninhas de T-Rex, que flutua em uma privada tecnológica e cujo nome significa Mental Organism Designed Only for Killing ou, em bom português, Organismo Mental Criado Apenas para Matar. Afinal de contas, se vocês precisam mais do que isso para seus olhos brilharem de ansiedade, então tenho uma má notícia: verifiquem seus pulsos, pois vocês estão mortos.

Voltaram da maratona? Então beleza. Vamos lá.

Para começar, eu não disse que M.O.D.O.K. era a 8ª Maravilha do Mundo e por isso precisava ser assistida. Eu disse, apenas, que é um baita de um exemplo de algo completamente fora da curva no cada vez mais poluído mundo dos filmes e das séries baseadas em HQs, então não adianta vir aqui reclamar que “não é isso tudo” ou “fui enganado”. A série, uma das sobreviventes (a outra, por enquanto, é Hit Monkey, conhecido por aqui pelo inspirado título Assassímio) do pacote de produção de animações da Marvel Television no Hulu que foi cancelado com a absorção da divisão de TV pela Marvel Studios (juntamente com o lado live-action, com o último representante tendo sido a surpreendentemente boa Helstrom), é uma divertida – mas não histericamente divertida – pegada satírica sobre o mundo dos quadrinhos com um vilão de visual absolutamente ridículo que só realmente poderia ter essa abordagem mesmo (esboçaram uma versão séria em Agents of S.H.I.E.LD., mas não foram até o fim), com a escolha pelo stop motion sendo ideal para tornar tudo ainda mais estranho e, claro, para ganhar pontos extras em meu livro, pois stop motion sempre merece pontos extras de qualquer pessoa de bom senso.

O catalisador da narrativa que, surpreendentemente, conta uma história só, não sendo uma potencialmente cansativa sucessão de “vilania da semana”, é a proximidade da falência da I.M.A. (Ideias Mecânicas Avançadas) sob a gestão de Modok, que leva a aquisição da organização criminosa pelo GRUMBL, o equivalente ao Google nesse universo (Terra-1226, se alguém quiser anotar), desencadeando uma crise familiar para o protagonista e tudo o que decorre daí, inclusive, claro, viagens no tempo, pois tudo pode ser resolvido – ou bagunçado – com viagens no tempo. O ritmo é rápido, os roteiros são ágeis, os trabalhos de voz, especialmente o de Oswalt, claro, são excelentes, com a animação em stop motion (e alguma coisa de CGI para as sequências mais grandiosas) sendo a cereja no bolo que torna os 10 episódios extremamente agradáveis e fáceis de assistir.

Claro que ajuda na apreciação da série algum conhecimento dos quadrinhos da Marvel Comics, já que tem muita coisa obscura retirada de lá, como por exemplo um episódio inteiro dedicado a vilões de 15ª categoria como Armadílio e Derretedor ou menções e visualizações de alguns objetos famosos desse universo (tem até a Manopla do Infinito a certa altura) e organizações criminosas menos conhecidas, uma delas inclusive sendo a verdadeira grande vilã por trás de tudo. E o melhor é que episódios como esse dos vilões obscuros não existem soltos na narrativa, apenas para fazer referências engraçadas e ponto final. O showrunner Jordan Blum foi além e fez questão de costurar tudo muito direitinho na história maior, o que inclui Jodie (Aimee Garcia), a esposa vlogueira e autora de Modok, e seus filhos Lou (Ben Schwartz), fisicamente parecido com a mãe e todo sensível e estranho e Melissa (Melissa Fumero), fisicamente parecida com o pai (com direito até à privada flutuante) e com personalidade mais aguerrida, além de sua colega de trabalho – e feroz concorrente – Monica (Wendi McLendon-Covey) que a todo tempo tenta tomar o controle da I.M.A.

Mas é importante que algo fique bem claro: não é essencial conhecer os quadrinhos. A série, até onde posso avaliar (pois eu li os quadrinhos e o distanciamento completo para essa análise é difícil), funciona suficientemente bem para os não-iniciados que desejam tentar algo diferente nesse universo. Afinal, o motel central da história não é a tentativa de Modok de dominar o mundo, mas sim, trocando em miúdos, uma ferina abordagem da crise de meia idade com um viés satírico que lida com família, amizade, depressão e uma pletora de outros ricos assuntos que são tratados não com um humor histérico, mas sim com uma pegada sardônica, irônica e por alguns momentos até completamente sem humor mesmo (mas são momentos breves, garanto) que chegam até a incomodar, mesmo considerando que o protagonista é quem é.

Gostaria muito – assim como afirmei em Helstrom – que o leque de ofertas da Marvel também fosse composto por obras desse naipe, pois variedade é chave para o sucesso e eu temo que propostas como as de M.O.D.O.K. sequer se tornem um blip no radar daqueles que gostariam de mais do que apenas o mainstream. Por outro lado, pelo menos essa temporada existe e sempre existirá, o que nos permite vislumbrar o que poderia ter sido se não houver renovação, o que, claro, inclui o hilário contador da I.M.A. que usa viseira em cima do capacete amarelo e, mais ainda, Gary, o agente da mesma organização que é o braço direito sem braço direito (ou seria o esquerdo?) do cabeçudo e torturado vilão.

M.O.D.O.K. – 1ª Temporada (EUA, 21 de maio de 2021)
Criação: Jordan Blum, Patton Oswalt
Showrunner: Jordan Blum
Direção: Eric Towner, Alex Kramer
Roteiro: Jordan Blum, Patton Oswalt, Geoff Barbanell, Itai Grunfeld, Brett Cawley, Robert Maitia, Cullen Crawford, Lauren Sodja Otero, Yolanda Carney
Elenco: Patton Oswalt, Aimee Garcia, Ben Schwartz, Melissa Fumero, Wendi McLendon-Covey, Jon Daly, Sam Richardson, Jon Hamm, Nathan Fillion, Whoopi Goldberg, Bill Hader, Kevin Michael Richardson, Meredith Salenger, Zara Mizrahi, Dustin Ybarra, Chris Parnell, Eddie Pepitone, Jonathan Kite, Alan Tudyk
Duração: 240 min. aprox. (10 episódios)

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