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Crítica | M.O.D.O.K.: Head Games

por Ritter Fan
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Uma das maiores e mais agradáveis surpresas televisivas de 2021 foi, sem dúvida alguma, a série em stop-motion dedicada a ninguém menos do que M.O.D.O.K., o surreal personagem cabeçudo da Marvel Comics, criada por Jordan Blum e Patton Oswalt, com o primeiro servindo de showrunner e o segundo emprestando sua voz ao personagem titular. Curiosamente, considerando o quão pouco alardeada foi a série, ela foi imediatamente precedida por uma minissérie em quadrinhos em quatro edições, publicada entre dezembro de 2020 e abril de 2021, escrita por Blum e Oswalt e que serve como uma forma de se introduzir o leitor ao personagem e dar pistas do que poderia ser a série.

Deu para reparar que dancei um pouco ao redor da definição da minissérie, não é mesmo? É porque chamá-la de prelúdio seria um erro, da mesma forma que seria errôneo afirmar que ela complementa a série. O que a dupla de escritores faz aqui é mais do que apensa um caça-níquel conectado com seu produto audiovisual. Muito ao contrário, percebe-se não só muita pesquisa sobre o vasto e variadíssimo passado do esdrúxulo – e, sob diversos aspectos, ridículo – personagem, como há um enorme e, diria, bem-sucedido esforço em criar uma amálgama interessantíssima de todas as versões dele ao longo das décadas, usando um artifício narrativo muito simples: em meio a uma operação de roubo e um trem da Stark Industries, M.O.D.O.K. põe tudo a perder quando congela em meio a memórias de uma vida normal que ele aparentemente teve e que começam a surgir do nada.

Claro que essa vida normal a que me referi é justamente a que vemos na série de TV, mas que, na HQ, é tratada pelo vilão como uma anomalia que ele tenta extirpar a todo custo, inclusive fazendo uma inusitada parceria com ninguém menos do que Tony Stark. Ainda que haja muita ação empacotada nas quatro edições da minissérie, inclusive uma excelente pancadaria metalinguística com a aloprada da Gwenpool, o grande trunfo do trabalho de Blum e Oswalt é estabelecer o cabeçudo ser que voa em essencialmente uma privada tecnológica como um personagem trágico, quase shakespeareano, que ganha uma revisão de origem que adiciona ótimas camadas a ele e que realmente faz tudo funcionar dentro de uma lógica bem trabalhada e que resulta em uma fusão das várias versões de M.O.D.O.K. desde que ele surgiu pelas mentes de Stan Lee e Jack Kirby no longínquo ano de 1967.

E olha que eu geralmente detesto humanizações de vilão ou histórias de origem que justificam a vilania. Mas Head Games não faz apenas isso. Sim, sem dúvida há um grau de humanização do vilão, mas é importante afirmar com todas as letras que ele, diferente de tantos outros por aí, continua sendo vilão até o fim, não se tornando sequer anti-herói. M.O.D.O.K. fiel à sigla que forma seu nome – em português, Organismo Mental Feito Apenas para Matar -, começa e acaba como ele é e sempre foi, sem trair sua natureza e sem torná-lo “bonitinho”. Por isso eu hesito em chamar a minissérie de mais do que um preparativo para a série de TV, já que não há humor na HQ como há na série, mesmo que seja possível traçar paralelos (afinal, foi para isso que a HQ foi escrita). O monstruoso M.O.D.O.K. ganha uma camada humana que nos permite criar empatia por ele, mas sem que ele mude sua essência e sem que sua nova origem seja abordada de maneira a tentar “explicar” o porquê de ele ser vilão.

A arte ficou ao encargo de Scott Hepburn que faz o melhor uso possível da anatomia, digamos, bizarra do protagonista, promovendo bons e originais visuais diferentes para o personagem, inclusive e especialmente seu hilário disfarce como Arnim Zola, outro vilão clássico com “cabeção”. Igualmente, Hepburn parece refestelar-se no exagero que a história pede, já que M.O.D.O.K. sempre reage de maneira extremada a tudo, já colocando para fora todo o seu arsenal de armas de sua privada voadora, algo que vai desde serras até mísseis teleguiados. É como ver um desenhista competente brincando com vontade e voracidade em sua caixinha de areia, com o roteiro econômico de Blum e Oswalt jamais realmente atrapalhando a fluidez do que o artista faz.

M.O.D.O.K.: Head Games é leitura improvável, mas imperdível. Uma pequena e agradável minissérie sobre um personagem para lá de esquisito que já teve um caminhão de abordagens diferentes ao longo das décadas – como todo personagem tão longevo, claro – que no mínimo mostra o quão Blum e Oswalt estavam investidos nesse recorte obscuro do Universo Marvel. Fica a torcida para que a dupla não só retorne a M.O.D.O.K. nas HQs, como também – e principalmente – na série de TV.

M.O.D.O.K.: Head Games (EUA, 2020/21)
Contendo: M.O.D.O.K.: Head Games #1 a 4
Roteiro: Jordan Blum, Patton Oswalt
Arte: Scott Hepburn
Cores: Carlos Lopez
Letras: Travis Lanham
Capas principais: Cully Hamner
Editoria: Annalise Bissa, Lauren Amaro, Jordan D. White, C.B. Cebulski
Editora original: Marvel Comics
Datas originais de publicação: 02 de dezembro de 2020 a 28 de abril de 2021
Páginas: 91

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