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Crítica | M3GAN (Versão Sem Censura)

Sem censura? Gore?

por Felipe Oliveira
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Falar dos elementos extra fílmicos que fizeram a esteira para o sucesso de M3GAN parece muito mais interessante do que debater o resultado do projeto como um filme, afinal, o que temos é protótipo que se contenta em ser menos do que poderia ter sido já que não desenvolve sua história tanto quanto a boneca androide loira com aparência de marionete. E bastou apenas a amostra da dancinha de M3GAN para entender o nível camp que o longa escrito por Akela Cooper e James Wan tinha adotado, e consequentemente, isso atingiu a audiência que a dupla não sabia que abraçaria essa boneca com toda sua maldade: o público gay.

A resposta para isso não vem só pela sua proposta exagerada, mas também pela boneca carregar uma personalidade má, típica da cultura pop, e principalmente, do terror. Então, não é difícil reconhecer em M3GAN traços que vem de Ester, ícone vilã vivida por Isabelle Fuhrman em A Órfã, por exemplo — como as roupas e os maneirismos perversos quando ninguém está olhando — e a graça da nova vilãzinha para a safra de brinquedos assassinos é por causar esse choque de familiaridade — um pouco de Chucky aqui, Annabelle ali — e ainda assim, fazer de sua maldade um entretenimento viral, que supera a base medíocre, rasa e sem muita criatividade que o texto tenta espelhar para discutir as nossas relações com a tecnologia, neste caso, a presença dos eletrônicos para automatização da infância — o lazer, a atenção, as conversas.

Mas essa graça só é perceptível quando atentamos mesmo só para M3GAN, pois não precisa ir muito longe para perceber o desenvolvimento precoce da trama para estabelecer conflitos e por fim não conseguir criar a dramaticidade pretendida. A cena de abertura ilustra muito isso por ser um momento que serviria como pontapé para o background de Cady e a conexão criada pela boneca com IA, porém, é um impacto que se perde pela maneira superficial que a discussão é trabalhada ou pelo excesso de conveniência. O temperamento de Cady ter se intensificado pela influência de M3GAN e substituição do afeto de sua tia Gemma pelos recursos da boneca, é mais assertivo do que quando o roteiro tenta relacionar questões de luto a da tecnologia como abstração do diálogo entre adulto e a criança, por exemplo.

Visto a mistura de drama familiar açucarado, com um thriller sci-fi que ainda abre espaço para fazer média com humor caricato e pastelão, é válido dizer que M3GAN chegou em um momento oportuno para tecer alguns comentários afiados, mas sem a ousadia necessária para atingir a discussão que a temática merece. E nisso, temos uma trama que não tem muita personalidade quando se trata de inserir criatividade ou explorar os tópicos de desenvolvimento de tecnologias como substituto do espaço social e da relação do homem vs máquina, porém, dá para reconhecer a pretensão de Cooper e Wan de apresentar uma história que se afasta de inspirações mais sobrenaturais — o que não impossibilitou alguns acenos — e abraça mais referências ao gênero da ficção científica, sendo o ato final uma representação disso com arcos e resoluções semelhantes a Gigantes de Aço e a O Exterminador do Futuro, o que pontua também quando a direção de Gerard Johnstone consegue aproveitar essas alusões com mais empolgação.

E claro, o que faz de M3GAN tão divertido — e capaz de ignorar os furos, a irônica artificialidade — é quando a boneca começa a assumir seu senso corruptível e tocar terror com direito a cabelo desgrenhado e dancinha para o Tik Tok, mas até nisso, o dito terror que só um brinquedo assassino pode causar é visto de uma ótica limitada que nunca explora a promessa de caos e sanguinolência. Novamente, chegar na versão que se diz “sem censuras” — e a falta de impacto narrativo continua — é mais interessante assistida pelas redes sociais, pelo prisma da expectativa e do que um bom marketing faz para divulgação do que conferindo o longa, isto é, não há nada aqui, com um suposto acréscimo que o material promocional não tenha revelado a respeito das cenas “gráficas e com gore” que o estúdio condensou removendo digitalmente ou por um trecho alternativo. 

M3GAN (EUA – 2022)
Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: James Wan, Akela Cooper
Elenco: Allison Williams, Violet McGraw, Amie Donald, Ronny Chieng, Jenna Davis, Brian Jordan Alvarez, Jen Van Epps, Stephane Garneau-Monten, Lori Dungey, Amy Usherwood
Duração: 102 min.

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