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Crítica | Mad About You – 1X01: Romantic Improvisations

Um casal perfeito.

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 7 (série original) + 1 (série revival)
Número de episódios: 164 (série original); 12 (série revival)
Período de exibição: 23 de setembro de 1992 a 24 de maio de 1999 (série original); 20 de novembro a 18 de dezembro de 2019 (revival)
Há continuação ou reboot?: A série original acabou em 1999, mas, em 2019, ganhou um revival na forma de uma temporada de 12 episódios. Além disso, a série original tinha ligações com diversas outras séries da época, mais famosamente Seinfeld e Friends. Há, também, versões da série produzidas em outros países, como Chile e Reino Unido.

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Uma das várias sitcoms de grande sucesso dos anos 90, Mad About é, talvez, uma das que mais diretamente e sem firulas discute o normalmente espinhoso assunto do casamento ou, para quem quiser fugir do estigma do sacramento, a união entre duas pessoas que se amam sob o mesmo teto. Sei que o objetivo da presente coluna é falar apenas do piloto, mas vou pedir vênia para tratar, nesse comecinho, de maneira mais geral e ampla sobre a série como um todo e por uma razão muito simples: mesmo não sendo um grande apreciador de sitcoms, Mad About You tem seu espaço reservado em minha memória afetiva por ser talvez a primeira série que eu tenha acompanhado com certa regularidade com a mulher com quem eu casaria.

E minhas pincelada abrangentes têm apenas o objetivo contextualizador: Mad About You trabalha, ao longo de suas sete temporadas originais (digo originais pois, 20 anos depois que a série acabou, ela ganhou um revival na forma de uma temporada de 12 episódios que ignora o flashforward do último episódio de 1999), um ciclo completo de um casamento, começando com Paul e Jamie Buchman (Paul Reiser e Helen Hunt) com cinco meses de casado e encerrando com os dois com um filha pequena, ou seja, criando um arco de desenvolvimento que muitos hoje em dia podem até considerar conservador, mas que inegavelmente conta uma história completa que, com bom humor constante, leveza e um texto ágil, por vezes até ácido, lida com todas as agruras de uma vida a dois. Sim, outras séries já fizeram o mesmo antes e depois da que é objeto da presente análise, mas, como eu disse, é Mad About You que tem um lugar cativo em meu coração.

No entanto, a importância da série para mim não é o suficiente para eu glosar todos os seus problemas, muitos deles presentes em Romantic Improvisations, seu piloto que agora passo a comentar especificamente. Nele, aprendemos quase que imediatamente que Paul e Jamie formam esse casal jovem e recém-casado que não só teme a gravidez, como precisa de sexo o tempo todo para ficar satisfeito, coisas, claro, da tenra idade, certamente mais tenra do que as idades dos atores principais na época (Reiser tinha 36 e Hunt tinha 29). Também ganhamos a obrigatória visão geral da vida profissional dos dois, com Paul revelando-se como envolvido com produções audiovisuais e Jamie como alguém que trabalha em algum tipo de escritório, com a exata natureza de seus trabalhos só ganhando desenvolvimento mais detalhado nos episódios posteriores. É, por assim dizer, um episódio que segue o “Manual de Pilotos de Série de Televisão”, com o roteiro gravitando ao redor do sexo – Jamie reclama que eles não transam há cinco dias! – para chamar atenção e dar aquela impressão de uma obra mais risqué.

No entanto, Romantic Improvisations é tudo menos ousada. Seu uso do sexo como chamariz faz sentido pelas supostas idades do casal e do quão recente é o casamento deles, mas o roteiro lida com isso de forma tão marretada, tão pouco elegante, que o próprio tema fica cansativo, com o momento literalmente climático dos dois transando na cozinha com quatro convidados na sala em que os atores sequer aparecem parecendo muito mais pastelão do que algo que combine com o restante da abordagem do episódio. E não, não pensem aqui que estou me revelando pudico, pois não é nada disso. Faltou ao texto, apenas, algo menos banal e também menos raso para servir de catapulta para toda uma série. Novamente, o tema faz pleno sentido, mas a maneira como ele é trabalhado é que, no lugar de chamar atenção, cansa e dá um pouco de vergonha alheia?

Mas calma. A série não durou sete temporadas dessa maneira. Na verdade, Romantic Improvisations é a prova de que um roteiro pouco inspirado em um piloto de TV pode ser melhorado e muito pelas atuações e, aqui, Reiser e Hunt, juntos, são ouro puro desde os primeiros segundos em que eles estão na cama com ela roncando e ele tentando fazê-la parar. Há uma química muito gostosa entre dois e dois trabalhos de atuação que manejam de forma muito natural os diálogos, quase por vezes parecendo improvisação (não duvidaria disso, aliás, considerando que Reiser é co-criador da série). Não que Hunt e Reiser sejam grandes atores, pois eles não são – ainda que Hunt seja bem melhor que Reiser, vale dizer -, mas tudo funciona a favor deles no piloto de Mad About You, seja a comédia mais corporal no momento atrapalhado em que eles estão tentando sair de casa para o trabalho, mas não conseguem, seja em momentos de puro diálogo como na briga deles na cozinha diante de todos os convidados que, por razões diferentes, apareceram por lá quando eles haviam combinado uma noite romântica.

Em poucas palavras, o piloto de Mad About You não representa, em termos narrativos, o que a série se tornaria já até na primeira temporada, mas representa completamente o que Reiser e Hunt, juntos, são capazes de fazer para elevar o valor de qualquer situação que lhes é entregue para atuar. É quase que literalmente como aquele casal perfeito que, mesmo quando briga, se ama. Não é sempre que isso acontecesse, mas é a raridade de quando isso acontece que nos faz dar mais valor ainda a algo assim.

Mad About You – 1X01: Romantic Improvisations (Idem  – EUA, 23 de setembro de 1992)
Criação:
Danny Jacobson, Paul Reiser
Direção: Barnet Kellman
Roteiro: Danny Jacobson, Paul Reiser
Elenco: Paul Reiser, Helen Hunt, Tommy Hinkley, Anne Ramsay, Richard Kind, Leila Kenzle
Duração: 22 min. (cada episódio)

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