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Crítica | Mad Max – Além da Cúpula do Trovão, de Joan D. Vinge

Uma adaptação cuidadosa.

por Ritter Fan
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A novelização do primeiro Mad Max fez o mínimo dos mínimos em uma obra dessa natureza. Um trabalho até bem escrito, mas que não ofereceu nada diferente do que está exatamente no longa. Já a novelização da continuação, Mad Max 2: A Caçada Continua, por outro autor, foi capaz de sofisticar um pouco o básico, inclusive entregando uma sequência climática final diferente da que vemos no filme. Como o lançamento de Mad Max – Além da Cúpula do Trovão, veio também a terceira novelização, uma obra que, muito sinceramente, não esperava que fosse lá muito diferente das anteriores, mesmo não conhecendo a autora Joan D. Vinge.

Mas Vinge, responsável por diversas novelizações ao longo dos anos 80 – e duas nos anos 2000 – já era efetivamente uma escritora de ficção científica premiada e de razoável sucesso quando foi chamada para converter o roteiro de George Miller e Terry Hayes para a forma literária e isso parece ter feito toda a diferença. Não que seu texto de Além da Cúpula do Trovão traga novidades como sequências inexistentes no filme ou um final diferente, nada disso. Esses artifícios não existem aqui, mas o que Vinge traz para o romance, algo que faltou nos dois anteriores, é uma sensação de dedicação ao material fonte e de compreensão exata que transposição de mídia não é algo que deva acontecer no automático. A leitura da novelização da autora é fluida como a de um romance não guiado por um roteiro e filme preexistentes, deixando evidente o grau de cuidado que ela teve.

Arriscaria até a dizer que, se o leitor por acaso não soubesse que se trata de uma adaptação literária de uma obra cinematográfica, ele a leria como um romance normal que sequer depende de conhecimento prévio para ser compreendida, já que Vinge traz contexto suficiente para estabelecer o violento mundo pós apocalíptico e a natureza de herói solitário com passado trágico de Max Rockatansky. Aliás, diria que esse é um triunfo por parte da autora, que pega o material fonte e o transforma em algo quase autônomo sem maiores invencionices do que uma escrita sólida, que mergulha constantemente na mente do protagonista e dedica tempo aos detalhes das duas ambientações principais da obra, a cidade Bartertown, comandada, na superfície, por Titia Entity e, no subterrâneo, por MasterBlaster, a fascinante e inesquecível combinação de um inteligente homem diminuto com um limitado gigante brutal que Max acaba sendo obrigado a enfrentar para recuperar seus bens roubados no início, o que o acaba levando ao exílio do deserto e o encontro de crianças e adolescentes vivendo em um verdejante oásis.

Claro que Vinge não cura o problema do longa-metragem, pois a antecipação do clímax na Cúpula do Trovão e a completa troca de ritmo narrativo na segunda metade, com uma convergência corrida é algo que faz parte da estrutura do roteiro e qualquer alteração seria drástica demais e descaracterizaria completamente a novelização como novelização. Portanto, a autora faz o melhor com o material que tem e, surpresa, surpresa, essa alteração radical de passo que não funciona bem no audiovisual, ao que tudo indica encontra um lar mais do que adequado na palavra escrita. Basta ver o quanto Vinge dedica a travessia torturante de Max pelo deserto, com sua sede crescente, suas alucinações, somente para ela fazer o mesmo com o belo e improvável ecossistema em que crianças vivem na completa ignorância do mundo do lado de fora e esperando a chegada de alguém chamado Capitão Walker que, claro, na cabeça delas é o próprio Max.

O aspecto messiânico do protagonista ganha relevo e, nas palavras de Vinge, uma abordagem muito interessante, ainda que dura e distante, com Max sendo obrigado a estilhaçar sonhos para fazer os jovens permanecerem por ali o máximo de tempo possível. Curiosa e naturalmente, porém, quem perde relevo na literatura é justamente a antagonista, Titia Entity, já que, por mais que a autora tente descrevê-la, não há como uma mera descrição equivaler à presença física magnética de Tina Turner.  Mas não tinha jeito e, no final das contas, esse é um preço pequeno a se pagar por uma novelização de qualidade, que não faria feio como um romance sem conexão com o filme que adapta.

Mad Max – Além da Cúpula do Trovão (Mad Max Beyond Thunderdome – EUA, 1985)
Autoria: Joan D. Vinge
Editora: Warner Books
Data original de publicação: 1985
Páginas: 233

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