Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Mad Max: Estrada da Fúria – Nux & Immortan Joe

Crítica | Mad Max: Estrada da Fúria – Nux & Immortan Joe

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

Para capitalizar com o lançamento de Estrada da Fúria, filme que marca o renascimento da franquia Mad Max, a Warner e a Vertigo partiram para um projeto potencialmente interessante nos quadrinhos: quatro one-shots, cada um abordando um ou mais personagens da mais recente obra de George Miller. A ideia é enriquecer a mitologia do que vemos nas telonas, dando passados às bizarras figuras que povoam as terras devastadas da distopia pós-apocalíptica do diretor e roteirista.

E os primeiros personagens a ganharem esse tratamento são Nux, vivido por Nicholas Hoult e Immortan Joe, vivido por Hugh Keays-Byrne, em sua segunda participação na franquia (ele fez Toecutter, o vilão do original). As escolhas foram acertadas, pois esses são, sem dúvida alguma, os personagens mais carismáticos do filme cujos passados nem mesmo vislumbramos (Imperator Furiosa é sensacional, mas o espectador aprende bem mais sobre ela do que sobre esses dois). 

mad max fury road cover

A capa da HQ.

A estrutura da publicação é peculiar, mas não inédita. Com o objetivo de permitir seu lançamento simultâneo ao filme, dois roteiristas e quatro artistas (incluindo Mark Sexton, que também é roteirista) fizeram parte do projeto, o que, em circunstâncias normais, tenderiam a levar o resultado final ao desastre. Mas é aí que a escolha da estrutura se mostra acertada: há duas histórias separada, uma sobre Nux e outra sobre Immortan Joe, entrecortadas pela presença de um carismático narrador com o corpo repleto de tatuagens contando a “história do mundo”, que apresenta os personagens para um grupo de jovens. O status de lenda, artifício usado para caracterizar Mad Max em A Caçada Continua e Além da Cúpula do Trovão é repetido aqui, com bom efeito e criando unicidade entre histórias tão díspares. 

A primeira delas é sobre Nux, um dos War Boys e personagem fundamental na frenética fuga de Furiosa pelo deserto. O grande problema nessa história é que não há muito o que dizer. Com isso, em apenas sete páginas sem grandes acontecimentos, vemos o pequeno Nux, ainda de fralda, mostrando toda sua fibra para literalmente ascender para as “terras altas” e verdejantes do castelo no ar da Cidadela. Em linhas gerais, nada realmente novo é acrescentado não só em relação a Nux como, também, à mitologia do filme em geral. É apenas uma historieta que nos permite um breve vislumbre do jovem fanático que endeusa Immortan Joe, nada mais.

A segunda história é muito mais interessante. Não só Immortan Joe – originalmente o Coronel Joe Moore – é um personagem com muito mais “passado” que Nux, como o trabalho de Nico Lathouris e Mark Sexton no roteiro empresta maior significância histórica ao que vemos na obra de George Miller. Afinal, quando o filme abre, a Cidadela e também Immortan Joe são elementos estabelecidos nesse futuro pós-apocalíptico. E, ainda que a explicação não seja essencial, fica aquela pontinha de curiosidade sobre quem é aquele tenebroso e misterioso líder em sua cidadela rochosa no meio do deserto.

mosaico mad max

(1) O pequeno Nux; (2) O tatuado narrador e (3) O Selvagem Joe Moore, futuro Immortan Joe.

Lathouris, para quem não se lembra, é co-roteirista do filme, ao lado de Miller e Brendan McCarthy e, assim, ele está à vontade para expandir o que vemos, retornando muitos anos no tempo, literalmente para pouco tempo após o “fim do mundo”. Sempre com narração em off e mantendo distância de Joe Moore ao ponto de seu rosto nunca ser revelado, o passado do tirano é descortinado, desde sua época como líder de uma gangue de motoqueiros, passando por seu reino de terror nas estradas até chegar na Cidadela, dominada por outro grupo de sobreviventes. E o foco da história é como os atos de Joe o fizeram dominar o local e, no processo, ganhar o apelido de “imortal”.

Apesar de ser muito material para tratar em tão poucas páginas – são apenas 21 para essa história – Lathouris e Sexton fazem um bom trabalho de concisão narrativa que engaja o leitor, passa as informações sem necessidade de exposição exagerada e encaixa perfeitamente no que Miller entrega em seu filme. Diria, sem muito medo de errar, que o material, nesse ponto, é tão interessante que poderia resultar em um ótimo prelúdio cinematográfico a Estrada da Fúria.

Em termos de arte, como a publicação separa muito bem as duas origens e as intercalam com o tal narrador tatuado que mencionei, a variação de estilos entre os trabalhos de Sexton para os trechos com o narrador, Leandro Fernandez para a história de Nux e Riccardo Burchielli e Andrea Mutti para a de Immortan Joe não são realmente sentidas e todas elas tentam se harmonizar com uma paleta de cores única graças ao ótimo trabalho de Michael Spicer nesse quesito. Com isso, há uma impressão de harmonia que, além do mais, combina bem com o estilo do filme. Minha única reticência é que os artistas perderam a oportunidade de trabalhar splash pages para se aproveitar dos visuais áridos do outback australiano.

A publicação da Vertigo não tem grandes pretensões, mas certamente divertirá aqueles que estiverem procurando uma nova dose de Mad Max na veia. Afinal, saber um pouco mais do valente Nux e do monstruoso Immortan Joe não pode fazer mal à ninguém, não é mesmo?

Mad Max: Estrada da Fúria – Nux & Immortan Joe (Mad Max: Fury Road – Nux & Immortan Joe, EUA – 2015)
Roteiro: Nico Lathouris, Mark Sexton (baseado em história de George Miller)
Arte: Mark Sexton (narrador), Leandro Fernandez (história de Nux), Riccardo Burchielli, Andrea Mutti (história de Immortan Joe)
Cores: Michael Spicer
Letras: Clem Robins
Capa: Tommy Lee Edwards
Editora (nos EUA): Vertigo Comics (lançado em 20 de maio de 2015)
Editora (no Brasil): não publicado no Brasil quando do lançamento da presente crítica
Páginas: 34

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