Home FilmesCríticas Crítica | Made in Italy (2018)

Crítica | Made in Italy (2018)

por Gabriel Carvalho
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“A Sara está tendo um caso.
E você também.”

Made in Italy é uma obra muito confusa em como se dispersa em tantas temáticas distintas e nunca as aprofunda realmente. O significado do seu título, a exemplo, indica uma mensagem sobre pertencimento a uma nação, uma origem em comum. Riko (Stefano Accorsi), o protagonista do filme, nasceu e cresceu na Itália, assim como o produto que origina, como operário, para ser exportado a outros lugares no mundo. Mas essa pontuação, interessante e com bons manuseios de contexto social e político, existe apenas nos últimos segundos do longa-metragem, em que intensifica-se uma ideia mais sólida sobre algo que a obra, porém, nunca trabalhou com qualidade.

Caso não possuísse em seu intrínseco certas camadas valiosas, mesmo que permanecendo subjacentes demais e nunca prioritárias à abordagem em questão, Made in Italy evidenciaria um superficialidade ainda mais inquietante à existente. Pois continua sendo, mais que qualquer manifesto sobre a realidade italiana atual, uma ordinária história de amor. O personagem Riko, no enredo, enfrenta uma crise em sua vida pessoal, visto que acredita que sua mulher o trai, vê problemas na sua relação com o seu filho único, e resiste em manter uma amizade com um amigo que acumula adversidades para si, Carnevale (Fausto Maria Sciarappa). Muito se encerra no raso.

Em termos contextuais, essa é uma obra com um pouco mais de atenção às sugestões. O longa situa seu público em um ambiente de demissão contínua, emigração em massa e rebeldia um tanto quanto perdida. Riko é visto, assim como seu amigo Carnevale, em uma espécie de perdição injustificada. Se a sua mulher o trai uma única vez, Riko a trai muito mais e, mesmo assim, acredita que tem a razão. A sequência da manifestação, pela metade do filme, é uma exemplificação do que se passa na cabeça desse personagem. Contudo, Made in Italy não se atém a essas questões com uma amarração narrativa competente, preferindo optar por uma ótica episódica pouco coesa.

Com um teor mais conservador em seu tratamento aos relacionamentos, Luciano Ligabue não consegue criar um espaço competente para explorar temáticas como a depressão, vista de uma maneira inofensiva e sem profundidade dramática. Nesse caso, Stefano Accorsi também não contribui para o desenvolvimento desse seu personagem adentrando na doença – a perdição era vista com mais cautela. Já a resolução desse problema, presente nos trinta esquizofrênicos minutos finais, cheios de reviravoltas e noções variadas de encaminhamento narrativo, é quase ofensiva, em contrapartida. O roteiro, também de autoria de Ligabue, resolve-se com artificialidade.

Por fim, o diretor coloca os seus personagens para abandonarem a Itália como um espaço material, uma verdade física. A isso, a cena com a família indiana dialoga, apesar de extremamente mal conduzida. Mas, na verdade, é Ligabue quem abandona alguns fundamentos que visariam uma elevação da sua proposta através da linguagem cinematográfica. Escolhe, ao invés de um prosseguimento narrativo mais calculado, desenvolver muita coisa através de montagens de cenas unidas por uma trilha sonora em específico, como se evidenciaria o mais óbvio dos videoclipes musicais. Made in Italy, como cinema, mostra-se tão perdido quanto os seus próprios personagens.

Made in Italy – Itália, 2018
Direção: Luciano Ligabue
Roteiro: Luciano Ligabue
Elenco: Stefano Accorsi, Kasia Smutniak, Fausto Maria Sciarappa, Walter Leonardi, Filippo Dini, Alessia Giuliani, Gianluca Gobbi, Tobia De Angelis, Leonardo Santini
Duração: 100 min.

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