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Crítica | Madrugada dos Mortos – Versão do Diretor

por Iann Jeliel
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Madrugada dos Mortos

  • Confira aqui, a crítica de outro colunista sobre a versão do cinema.

Madrugada dos Mortos é um remake de O Despertar dos Mortos, segundo capítulo da primeira trilogia dos Mortos de George A. Romero. Foi o primeiro de Zack Snyder atrás das câmeras, que antes só havia pegado alguns videoclipes e já demonstrava  um bom potencial para uma visão de cinema comercial hollywoodiano. Assim, seu primeiro projeto já foi nessa escala de dar uma nova roupagem a um dos grandes clássicos do gênero zumbi, agora na nova moda alavancada no sucesso de Extermínio e seus zumbis, ou melhor, infectados, velocistas, ágeis e consequentemente mais perigosos.

Diferente do que viria a se tornar obsessão do diretor no futuro, a versão “estendida” desse seu primeiro longa se encaixa num paradigma comum no cenário de filmes de terror, especialmente aqueles com potencial de serem mais populares. Trata-se de um Unrated Cut, ou seja, uma versão sem os cortes de censura da versão de cinema, feitos para o longa sofrer  uma redução da classificação indicativa, logo, uma diminuição considerável do nível de violência gráfica e/ou nudez embutida. Na década de 80, centenas de slashers passavam pelo mesmo problema. No início dos anos 2000, sua retomada idem. E alguns outros movimentos, como o Torture Porn popularizado com Jogos Mortais e essa retomada dos zumbis rápidos, também não escaparam, mesmo que sua natureza não fosse primordialmente violenta. É o que eu enxergo nesse caso de Madrugada dos Mortos. Mesmo na versão sem cortes, a violência é bem moderada. Não existe por exemplo, cenas de mutilações clássicas de vários zumbis estraçalhando uma pessoa, e é justo, pois a proposta é para ser algo bem mais urgente.

Além disso, o Snyder nesse início acreditava em algo mais pragmático para conceber o choque das mortes ocorridas. Ele nunca foi um exímio desenvolvedor de personagens, mas o contexto do gênero o favorece nesse sentido, lhe colocando uma base solida de estereótipos que não precisam ir muito além de suas representações para conseguir uma relação empática com o público só pela situação do que demônios pessoais complexo. Logo, as fatalidades deles são secas, para condizer com aquela realidade de sobrevivência naturalmente cruel. O diretor adapta esse conceito do Romero de um estudo social e o reduz de maneira bem objetiva a urgência da situação. Isso para ele é suficiente para criar a proximidade necessária ao grupo que nos importamos como um todo dentro de um espectro representativo. Eles são o resto da humanidade que precisa continuar. Tanto que de uma versão para outra, não se muda o fato de a câmera desviar de mostrar o momento da fatalidade, porque o seu impacto não está na forma que o personagem morre, mas em como ele é mais uma perda para dificultar a esperança.

A violência acrescentada está bem numa via pop da matança de zumbis na parcela de ação do filme. E de fato, isso ajuda na questão do entretenimento, principalmente porque não é levada na esculhambação só porque não tem mais censura. No máximo há um momento em que dois personagens trocam tiros e morrem em câmera lenta espirando sangue que é cumulo da brega. Contudo, pasmem, é só essa vez. Em outros momentos a violência em câmera lenta é encaixada com harmonia ao desenvolvimento rítmico da história e dosada entre poucos momentos em que ela realmente serve como um freio do frenesi da tensão. Já a nudez, aparece somente em duas cenas que ficam no limbo da gratuidade e o tanto faz. Como são poucas, dá para dizer que não faria diferença mostrar, mas já que pode e não está exagerado, por que não? É um filme de terror ainda…

Dentre outros acréscimos interessantes de comentar, temos a participação em um dos noticiários de Ken Foree, ator do elenco do original falando sobre uma teoria da conspiração que os zumbis são obra do diabo aprontando para os pecadores. É legal porque ele complementa um diálogo posterior sobre o que os personagens acham do fim do mundo. Um “fan service” bem sútil e interessante. Há também várias cenas que contextualizam melhor a virada de CJ (Michael Kelly) , que era o babaca do filme e vira praticamente um herói no final. Na versão do cinema, fato, essa virada é perceptível sem a necessidade de saber que ele leu um livro que dizia para ele confiar nas pessoas. Mas considerando seu feito heroico no final, essa inserção expositiva da motivação leva o personagem a replicar uma frase de efeito que ajuda a deixar a virada repentina em algo mais crível pelo carisma. Tão crível que seu ato heroico se torna um fechamento realmente digno da climática de tudo.

Por fim, vale falar de duas ceninhas que ajudam no maior peso de duas mortes, a primeira de um abraço mais duradouro entre o pai e a filha (Lindy Booth) antes do pai virar zumbi e outra que adiciona um beijo entre a protagonista (Sarah Polley) seu crush (Jake Weber) que é mordido no final antes dele assumirem o namorico. São acréscimos bacanas de um Snyder quando tinha sensibilidade. Com apenas 6 minutos a mais que a primeira versão e sem querer ser o “Madrugada dos Mortos de Zack Snyder”, a versão Unrated da refilmagem de 1978, cumpre bem seu papel como um bom complemento de algo que já era bom e fica ainda melhor ao ser mais livre na divertida violência, mas sem com isso, precisar acrescentar mais do que o necessário.

Madrugada dos Mortos – Sem Cortes (Dawn of the Dead – Unrated | Remastered Director’s Cut | EUA, 2004)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: James Gunn
Elenco: Sarah Polley, Ving Rhames, Jake Weber, Mekhi Phifer, Ty Burrell, Michael Kelly, Kevin Zegers, Michael Barry, Lindy Booth, Jayne Eastwood, Boyd Banks, Inna Korobkina, R.D. Reid, Kim Poirier, Matt Frewer
Duração: 104 minutos

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