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Crítica | Mãe X Androides

A maternidade em um futuro incerto.

por Felipe Oliveira
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Quando anunciado pela primeira vez, Mãe X Androides chamou atenção apesar de trazer uma história familiar para o gênero Sci-Fi, da luta pela sobrevivência em um cenário pós-apocalíptico, com um adendo, ao tratar sobre a maternidade neste contexto, o que o tornava ainda mais interessante, era que o cineasta Mattson Tomlin estava concebendo em seu longa de estreia como diretor e roteirista, a sua história de vida. Assim, Tomlin traçava através do gênero uma forma de representar um retrato pessoal e deixar um reflexo para o público, o que de todo jeito, sua concepção termina se esvaindo em uma trama oca demais para se estabelecer.

Seguindo Georgia (Chloë Grace Moretz), e Sam (Algee Smith), o enredo aqui se inicia apresentando o jovem casal de relacionamento instável lidando com a confirmação da gravidez da jovem, ao mesmo tempo que o mundo sofre com uma revolução de Inteligências Artificiais. Com o futuro ameaçado, eles buscam por uma forma de sobreviver contra a guerra surgida, antes que Georgia dê à luz. Talvez, o ponto de reflexão mais óbvio em Mother/Android (no original) esteja em contemplar o desafio da jovem paternidade em uma realidade condenada, mas antes que se crie uma linha para processar essa transição, em menos de dez minutos do longa, o roteiro de Tomlin avança nove meses, apostando os próximos 100 minutos na dupla de pais e o iminente parto.

Ter introduzido seu longa de estreia de forma tão abrupta, sacrifica um pouco do impacto da carga dramática que tenta inserir em um desenvolvimento enfadonho. Se a tentativa foi colocar o telespectador numa atmosfera onde a normalidade é devastada subitamente, faltou um incremento que evidenciasse esse choque, de forma a ser sentido. O espaço foi apenas Georgia descobrindo a gravidez, e os androides habilitados em serviços domésticos, exterminando os humanos. Em entrevista à revista Vanity Fair, o diretor contou que usou os poucos elementos que sabia de sua história e encontrou na ficção científica uma maneira de preencher as lacunas. Nascido em Bucareste durante a Revolução Romena, Tomlin parte dos pequenos pontos que sabe dos pais biológicos e reflete em Mãe X Androides: Georgia e Sam são os seus pais, e ele é o bebê prestes a nascer em um cenário caótico, sendo agora uma Revolução de máquinas.

Promissor, mas esse se mostra o único embasamento que não perde sentido no desenrolar, isso para quem tem a informação, porque o que Mother/Android convoca é um relato árduo e maçante de um casal à procura de estabilidade e segurança em um presente hesitante, tentando descobrir formas de continuar sobrevivendo. Imprimindo em sua maior parte uma aura de drama indie, acompanhar os repetitivas indagações do casal parece não levar a lugar algum além da chatice que não encontra consequências. Embora o casal de protagonistas se esforce para dar emoção aos diálogos sem apelo, é Moretz que consegue sobressair e destacar os dilemas de sua personagem, que se mostra uma figura persistente para um roteiro que não colabora para o que almeja contar.

E se arrastar por drama por mais de 60 minutos de duração, provou ser, de longe, a parte mais proveitosa do filme diante das sequências que brotam do segundo ato em diante. Parece que encarar Mother/Android  é cair nas inconsistências e ideias mal estruturadas de Tomlin que vão se tornando surpresas cada vez mais absurdas e ordinárias para uma história que mirava ser intimista. O resultado foi ver o escopo sobre a maternidade x androides ser desperdiçado em meio a escolhas que não favoreciam o drama que já tinha ditado o ritmo e moral do longa. Ao querer explorar um arco desnecessário sobre a Inteligência Artificial, tentando se mostrar mais inteligente do que outros filmes do gênero já fizeram, o texto de Tomlin pesa a mão entregando um ridículo clímax.

Depois de Power, Memórias de um Amor, e ter colaborado na escrita no vindouro Batman de Matt Reeves (2022), o projeto mais pessoal de Tomlin se mostrou o mais decepcionante. Após as péssimas definições e da ausência de sentido, conseguir entregar um final comovente prova de que Chloë Moretz foi capaz de sobressair em uma trama tão vazia.

Mãe X Androides (Mother/Android – EUA, 2021)
Direção: Mattson Tomlin
Roteiro: Mattson Tomlin
Elenco: Chloë Grace Moretz, Algee Smith, Raul Castillo, Kate Avallone, Benz Vial, Hana Kim, Jason Bowen
Duração: 110 minutos

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