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Crítica | Maggie: A Transformação

Schwarza enfrentando zumbis com a força do amor.

por Ritter Fan
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Maggie: A Transformação está para os filmes de zumbi assim como Sinais está para os filmes de invasão alienígena, ou seja, trata-se de um recorte micro, focado em apenas uma família, de algo muito maior acontecendo no mundo. A diferença é que M. Night Shyamalan é um ótimo cineasta quando quer e Henry Hobson… bem… Hobson não tem o que se pode chamar de carreira de diretor cinematográfico, já que Maggie é sua única incursão na área até agora e sua experiência anterior fazendo vinhetas de shows e de videogames não se mostra suficiente para ele materializar a boa ideia do roteiro de outro completo desconhecido, John Scott 3, cujo maior diferencial é ter um algarismo arábico (não romano!) no nome.

No entanto, Maggie: A Transformação tem duas vantagens. A primeira é que Abigail Breslin vive a personagem-título, uma jovem infectada por um vírus zumbificador que fugiu de casa. A segunda é que ninguém menos do que Arnold Schwarzenegger interpreta Wade, um pai protetor que acha a filha e a traz de volta ao lar para acompanhar todo o seu doloroso processo de conversão, apesar da necessidade de enviá-la para um local de quarentena. Enquanto é razoavelmente esperado que Breslin entregue um bom trabalho dramático, e ela efetivamente entrega, o que ajuda muito, evidentemente, o mesmo não se pode dizer do fisiculturista austríaco que, quando precisa encarar papeis puramente dramáticos, não consegue sair de sua casca de durão invencível. Mas, aqui, ele finalmente sai. Ou, pelo menos, sai o quanto é possível para ele sair, o que resulta em uma atuação que acaba surpreendendo e cativando, com ele e Breslin funcionando muito bem juntos.

Mesmo tendo anteriormente mostrado tino para comédia, Schwarzenegger ainda devia um papel realmente dramático que não fosse apenas uma desculpa para ele sair matando todo mundo e foi provavelmente isso que ele viu no roteiro de Maggie que foi escrito tendo o grandalhão como modelo para o personagem, mas que, inicialmente, a produção não tinha real esperança de consegui escalá-lo para o papel mesmo considerando que sua carreira no cinema – pós-governator – já estava na descendência. Quando ele finalmente teve acesso ao texto, ele decidiu agarrar a oportunidade, aceitando o cachê mínimo do sindicato simplesmente porque ele queria viver Wade e, provavelmente, mostra ao mundo sua latitude dramática. Pessoalmente, acho muito interessante quando atores estabelecidos – e, mais ainda, marcados por um tipo de papel – fazem esse esforço genuíno para sair de sua zona de conforto e é melhor ainda quando eles conseguem, como é o caso aqui.

O que, porém, atrapalha o filme, é a direção “câmera na cara” de Hobson que confunde dramaticidade com proximidade e acaba sufocando seu minúsculo elenco. São raros os momentos em que vemos um plano americano ou mesmo um plano médio que pare por tempo suficiente nos atores para que eles trabalhem seus personagens de maneira mais natural, especialmente a relação entre pai e filha em uma fazenda em algum lugar no meio-oeste americano. Isso e a tremedeira de câmera na mão que segue nervosamente os personagens em cenas que não tem ação alguma propriamente dita irritam o espectador, de certa forma parecendo que o diretor de primeira viagem queria porque queria transformar o roteiro de drama de cunho psicológico em um thriller de ação e suspense somente porque há zumbis na história e um ator principal famoso por não deixar ninguém de pé depois que a cena acaba.

De forma semelhante, o roteiro de Scott 3 (ou seria só “3”?) carece de profundidade. No momento em que a premissa é estabelecida – isso demora até um pouquinho mais do que o normal, mas não atrapalha, ao contrário até -, o texto passa a viver de ciclos que repetem a mesma estrutura, só que aproximando Marguerite do ponto sem volta da infecção, o que por um lado permite que vejamos Breslin trabalhar sua cada vez mais desesperançosa personagem, mas, por outro, torna a obra um tanto quanto maçante. É na forma de trabalhar essas repetições que se percebe a falta de um Shyamalan da vida na direção para realmente realçar a narrativa com uma câmera curiosa, mas não intrusiva; assustadora, mas não gratuita.

Diria que, no final das contas, Maggie: A Transformação é um esforço valoroso de Arnold Schwarzenegger para fazer algo mais incomum em sua carreira e revelar-se como mais do que o sujeito que, com o rosto pintado, mastiga um charuto enquanto metralha seus inimigos. Infelizmente, porém, como foi o caso em Sabotagem, seu filme anterior, não foi dessa vez que o ator encontrou uma dupla de diretor e roteirista que colocasse na lata o filme que seu trabalho dramático talvez merecesse.

Maggie: A Transformação (Maggie – EUA/Suíça, 2015)
Direção: Henry Hobson
Roteiro: John Scott 3
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Abigail Breslin, Joely Richardson, Douglas M. Griffin, J. D. Evermore, Rachel Whitman Groves, Jodie Moore, Bryce Romero, Raeden Greer, Aiden Flowers, Carsen Flowers, Dana Gourrier
Duração: 95 min.

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