Número de temporadas: 08
Número de episódios: 162
Período de exibição: 11 de dezembro de 1980 até 01 de maio de 1988
Há continuação ou reboot?: Sim, a série ganhou um remake em 2018, que perdurou por cinco temporadas, até seu cancelamento em 2022.
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Grande sucesso dos anos 80, Magnum P.I. é vista hoje como uma espécie de marco da masculinidade da época. Mas também né, como não ganhar esse rótulo com Tom Selleck como protagonista? O homem é pura testosterona: alto, peludo, carismático, malicioso e com o melhor bigode da história da humanidade – talvez Sam Elliott seja um concorrente. Claro que a produção vai além do apelo sexual de Selleck, mas já quis abrir o texto assim porque grande porção do magnetismo da série está no charme e na malemolência do ator, que traz aqui um investigador particular que é duro, porém engraçado, que é bon-vivant, mas também honesto e dedicado. Não à toa, a produção é filmada no exótico Havaí, com Magnum morando na mansão de um magnata em troca por serviços de segurança, com o cenário havaiano e o estilo de vida grã-fino do protagonista, encapsulado por ferraris e bebidas caras, dando o tom bem-humorado e burlesco da série.
De muitas formas, Thomas Sullivan Magnum IV (Selleck) é um personagem injusto, uma espécie de arquétipo perfeito, mas um que já é simpático e que tem suas falhas desde o início, como vemos no episódio piloto que, originalmente, foi ao ar como um telefilme de mais de 90 minutos e, posteriormente, foi dividido em duas partes para fins de sindicalização. Don’t Eat the Snow in Hawaii é um capítulo de estreia eficiente, porque consegue apresentar os personagens principais e estabelecer o tom da série, enquanto desenha um caso procedural que tem relação direta com o passado militar de Magnum. Assim, o episódio foge um pouco dos cacoetes de pilotos demasiadamente introdutórios, utilizando a própria investigação como meio de esclarecer os traumas do protagonista, além de fazer uma boa abertura do estilo eclético da série, que mescla comédia, ação, mistério policial, drama criminal e até espionagem política em pequenas doses.
A premissa do telefilme é relativamente simples: Magnum vai buscar um antigo amigo da Marinha e descobre que ele foi assassinado e acusado postumamente de tráfico de cocaína, decidindo investigar o caso. A investigação em si não é tão inspirada em termos narrativos, com um trabalho de campo focado em questionamentos e algumas invasões, vários desdobramentos previsíveis demais e soluções fáceis, mas o mistério é tematicamente engenhoso, com a morte do colega de Magnum levando-o a descobrir uma operação de drogas e uma conspiração envolvendo a Marinha e traficantes do Sudeste Asiático, com algumas cutucadas geopolíticas aos EUA nas correlações do contrabando com a Guerra do Vietnã. O roteiro dos criadores Donald P. Bellisario e Glen A. Larson se aproveita desse cenário para abordar o passado militar de Magnum e seus colegas em vários flashbacks do campo de guerra – relativamente bem dirigidos por Roger Young, que aborda o conflito com um tom oitentista divertidamente exagerado -, que gradualmente encorpam o drama do episódio com tópicos de estresse pós-traumático e a dificuldade de soldados no retorno para casa.
Esses momentos servem para dar certa complexidade à Magnum, além de darem palco para alguns de seus companheiros que serviriam de coadjuvantes para suas aventuras ao longo das oito temporadas, em ótima química de Selleck com Roger E. Mosley e Larry Manetti. Por mais que não seja uma produção sombria, o encaminhamento da trama nesse lado dramático carrega uma densidade que torna a produção melhor, com destaque para a revelação do antagonista principal do piloto, que traz uma conclusão melancólica para a investigação de Magnum. Nesse meio tempo, o texto sabe intercalar o drama policial/militar com um tom de aventura, incluindo algumas cenas de ação bem trabalhadas para um seriado com orçamento limitado, como uma perseguição de carros de alta velocidade ou várias sequências aéreas de helicóptero. Não chega a ser necessariamente uma produção de grande escala, mas tem um certo escopo que se aproveita dos cenários do Havaí e dos flashbacks no Vietnã para compor um piloto cheio de momentos de adrenalina.
A leveza da série também nunca sai completamente de cena, valendo pontuar as rixas de Magnum com Jonathan Higgins (John Hillerman), o sargento responsável pela propriedade que o protagonista faz testes de segurança. Tudo nesse núcleo doméstico tem um sabor de jogos entre amigos rivais que é prazeroso de assistir, especialmente nas conversas de Magnum com a audiência através de narrações internas. Nesse sentido, Magnum P.I. encontra sua melhor qualidade no carisma de Selleck e na construção simpática desse universo, mas chama a atenção pela forma como incorpora ação, mistério e alguns dramas densos no meio dessa abordagem charmosa. Claro que o piloto – e a série como um todo – tem limitações dramáticas e narrativas, sendo revestida de elementos convencionais de obras procedurais, mas há tempero e cuidado criativo o suficiente nesse início da produção que justificam o sucesso de tantos anos e a nostalgia que perdura até hoje com esse investigador particular que marcou época.
Magnum P.I. (1980) – 1X01 e 02: Don’t Eat the Snow in Hawaii (EUA, 11 de dezembro de 1980)
Criação: Donald P. Bellisario, Glen A. Larson
Direção: Roger Young
Roteiro: Donald P. Bellisario, Glen A. Larson
Elenco: Tom Selleck, John Hillerman, Roger E. Mosley, Larry Manetti, Pamela Susan Shoop, Allen Williams, Robert Loggia, Fritz Weaver
Duração: 93 min.