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Crítica | Making the Boys (2011)

por Luiz Santiago
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Obras controversas, pioneiras e de temáticas que se mantêm válidas por muito tempo — mesmo que evoluindo, se desconstruindo — serão constantemente revisitadas, com interessantes investigações sobre sua origem, contexto, autor e apoiadores. Este é o caso com Os Rapazes da Banda, tanto a peça de 1968, quanto o filme de 1970.  Neste documentário intitulado Making the Boys, o diretor Crayton Robey procura fazer um apanhado histórico, social e artístico daquilo que marcou a criação de The Boys in the Band, com um ingrediente que acaba recebendo muito mais destaque do que qualquer outro, consequentemente desequilibrando o longa: a vida pessoal de Mart Crowley.

Sim, é perfeitamente compressível que o autor da obra tenha a sua parcela de destaque em um documentário sobre um processo criativo e sobre a manufatura de um importante projeto como este. Ocorre que essa abordagem segue pela trilha pessoal do autor até mesmo para coisas fora do processo de produção, ao mesmo tempo que corta comentários e abordagens mais específicas sobre aquilo que verdadeiramente é o tema do filme, ou seja, a produção da peça e da versão cinematográfica de Os Rapazes da Banda, dirigida por William Friedkin. E eu fiz questão de destacar esse ponto porque o restante do filme consegue apresentar algo maravilhoso em relação a tudo o que está ligado ao enredo, daquilo que acendeu a vontade em Mart Crowley para escrever a “primeira peça com temática inteiramente gay” até os inúmeros efeitos que esse texto causou, com o passar dos anos.

Um ponto de destaque aqui é que as entrevistas mostram indivíduos hetero e homossexuais de diversas idades comentando o que pensam e a importância que veem em Os Rapazes da Banda, mas nem todas as opiniões em relação ao filme são positivas, o que é ótimo, porque abre espaço para um debate interessante de ideias que começa desde a produção e dos protestos na época do lançamento do filme, até a revisão de ideias e a recolocação desse enredo nos holofotes da mídia (seja por palestras e debates de aniversário ou remontagens da peça) para discutir problemas que afetam não só homens gays, mas pessoas de todos os gêneros, de todas as sexualidades. Como comentei na minha crítica do longa, a tag total de personagens estereotipados aqui é bastante superficial, dada a clara diferença de expressão de gênero que cada indivíduo tem e a forma honesta como o autor representa cada uma delas.

É verdade não há representação para “todos os tipos” de homens dentro desse espectro, mas esse tipo de representação seria impossível, não? Um outro ponto que se levanta é o tipo de indivíduo que peça e filme constroem, basicamente sem nenhum personagem verdadeiramente feliz. Isso é verdade, mas… é um problema? Estamos diante de um drama psicológico intenso, muitíssimo bem escrito e com um excelente desenvolvimento de personagens, logo, nesse recorte, o autor optou por trabalhar com pessoas que a despeito de terem sucesso e uma vida aparentemente comum e alegre, na verdade possuem cada um os seus demônios, os seus medos, dilemas, tristezas e desejos não realizados. E para o propósito da obra, isso funciona muito bem.

Além dos impasses de produção, o filme nos apresenta um rico material de arquivo, indo de recortes de jornais e revistas até trechos raros da filmagem original da peça, o que é muito bom de se ver. Ao final, o espectador não consegue segurar o sentimento de melancolia ao perceber que muitos dos envolvidos nessa produção morreram de AIDS, alguns ainda bem novos, e isso sem contar o destino verdadeiramente trágico de Robert La Tourneaux, que acabou caindo nas drogas, entrou para a prostituição, foi preso e também morreu de AIDS, tendo passado a sua fase de enfermidade assistido por um colega de elenco (Cliff Gorman) e sua esposa.

Making the Boys é uma fantástica viagem pela cena gay de Nova York nos anos 1960 e 70, e como esse cenário gerou e recebeu Os Rapazes da Banda, uma obra que se tornou ícone não apenas daquele momento, mas abriu as portas para muitas histórias e exposição de artistas e produção com temática LGBT nos mais diversos espaços. Uma peça e um filme forjados por um momento e que também ajudaram a forjar a Era da busca por direitos dessa comunidade, que teria nas revoltas de Stonewall o seu definitivo pontapé. Uma peça e um filme tão importantes que são revisitados, discutidos e histórica e culturalmente importantes até os dias de hoje.

Making the Boys (EUA, 2011)
Direção: Crayton Robey
Roteiro: Crayton Robey
Elenco: Edward Albee, Joe Allen, Matt Baney, David Carter, Candis Cayne, Andy Cohen, Mart Crowley, Michael Cunningham, Dominick Dunne, David Ehrenstein, William Friedkin, Peter Harvey, Aaron Hicklin, Jerry Hoose, Cheyenne Jackson, Charles Kaiser, Ed Koch, Laurence Luckinbill
Duração: 90 min.

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