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Crítica | Maníaco (2012)

Refilmagem do clássico slasher retoma a temática da brutalidade contra corpos femininos.

por Leonardo Campos
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Refilmagem do clássico do terror dos anos 1980, inserido na seara dos filmes slashers por trazer algumas características peculiares do subgênero em questão, Maníaco, em sua versão 2012, é uma releitura digna de seu ponto de partida, produção violenta que traz para o debate, diante do espetáculo de entretenimento que nos propõe, a temática da misoginia refletida por diversos especialistas que analisam, desde os anos 1980, os impactos destas narrativas sobre assassinos em série que tem no corpo feminino, a sua fonte de descarrego. Em 1980, William Lustig dirigiu o filme homônimo, narrativa sobre um homem que carregava fortes traumas em seu passado, mergulhado numa atmosfera freudiana que trazia mulheres violentamente assassinadas, escalpeladas para os manequins que integravam a sua coleção pessoal, postura explicada mediante o avanço da história, uma macabra jornada sobre sexo, memórias ousadas envolvendo a figura materna, aqui, envolta numa tenebrosa dessacralização, distanciada dos costumeiros ideais de família de uma sociedade que constantemente se passava por uma das pinturas de Norman Rockwell, ilustrador das idealizações no território estadunidense.

Quem assumiu a retomada de Maníaco para as plateias de 2012 foi Frank Khalfoun, cineasta que consegue, em sua maioria das vezes, empregar um tom anárquico ao que já é considerado demasiadamente ousado. Nesta refilmagem, ele acerta o ponto, apesar da sensação incômoda de exposição violenta das mulheres sem uma discussão mais preocupada com os discursos contemporâneos sobre o assunto. Ao longo de seus 89 minutos, acompanhamos uma história aterrorizante, conduzida pelo realizador, responsável por assumir o roteiro de Alexandre Aja e Gregory Levasseur. Eles concebem esta narrativa macabra contando com a direção de fotografia de Maxime Alexandre, responsável por emular os pontos de vista da produção de 1980 e integrar outras movimentações e angulações inusitadas, em prol da ampliação do espetáculo de horror e morte, setor que recebe bastante material macabro do design de produção de Stefania Cella, imagens acompanhadas pela pulsante trilha sonora por Rob Coudert, textura percussiva assertiva ao permitir maior complexidade estética para os momentos de alucinação do antagonista.

É nesta atmosfera de sensação constante de perigo que observamos o comportamento de Frank, interpretado por Elijah Wood, num excelente desempenho dramático. Ele atua em sua loja de noivas durante o dia, mas nas passagens noturnas, atravessa as ruas e avenidas nova-iorquinas, apresentadas por aqui como obscuras, perigosas e desérticas. É neste processo de observação que ele conquista algumas poucas mulheres, algumas conhecidas em papos no território da cibercultura, vítimas em potencial para a sua habilidade de matar, escalpelar o couro cabeludo e trajar os seus manequins, postura psicótica que descobriremos ser parte dos traumas envolvendo o testemunho da mãe em comportamentos sexuais questionáveis para alguém que percebe o filho como parte do espaço onde a mesma realiza as suas fantasias e atende aos clientes desejosos por experiências profundas de dominação entrega aos prazeres carnais em prol do gozo, seguido do êxtase.

Vulneráveis e impotentes, as vítimas de Frank sofrem em suas mãos, algo que se modifica e nos traz uma breve impressão de trégua quando o psicopata conhece Anna (Nora Arnezeder), uma fotógrafa com quem desenvolve uma amizade respeitosa, aparentemente equilibrada, responsável por mudar um pouco a sua perspectiva que, infelizmente, não dura muito tempo. Cada vez mais obcecado pela morte, Frank se divide entre uma parte de si, carregado por uma fúria incontrolável, e do outro, a sua obsessão por tentar compreender o que o leva a matar e anarquizar os corpos de tal maneira. Solitário, ele sofre de uma constante pulsão de morte, culminando num desfecho aterrorizante que pende para o primeiro lado, tornando-o uma figura abjeta, misógina e que mergulhado em seus paradoxos, não consegue contemplar outra possibilidade em sua vida, a não ser matar violentamente as suas vítimas. Mulheres, sempre. Se um homem entrar na jogada, é porque se pôs como obstáculo do processo. Em primeira pessoa, como no filme de 1980, acompanhamos este processo angustiante, tributário do ícone Norman Bates, de Psicose, numa refilmagem impactante e ousada, ponto alto da retomada dos filmes de terror dos anos 1980 que foram relidos para as gerações contemporâneas.

O Maníaco (Maniac, EUA – 2012)
Direção: Franck Khalfoun
Roteiro: Alexandre Aja, Grégory Levasseur (baseado em roteiro original de Joe Spinell)
Elenco: Elijah Wood, Nora Arnezeder, Jan Broberg, Liane Balaban, America Olivo, Joshua De La Garza, Morgane Slemp, Sal Landi, Genevieve Alexandra, Sammi Rotibi, Megan M. Duffy, Bryan Lugo
Duração: 89 min.

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